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Revista TecnoAlimentar

Os insetos como fonte sustentável de proteína para consumo humano

Por: Carla S.S. Teixeira, Caterina Villa, Joana Costa, Isabel M.P.L.V.O. Ferreira, Isabel Mafra

REQUIMTE-LAQV, Faculdade de Farmácia, Universidade do Porto

RESUMO

Nos próximos anos, a população mundial irá aumentar substancialmente, o que trará uma série de desafios relativamente às necessidades alimentares crescentes, agravados pelos problemas associados às alterações climáticas. Como potencial solução global, a entomofagia (amplamente praticada em alguns países/regiões) tem ganho especial destaque nos últimos anos, embora a implementação nos países ocidentais seja limitada por questões culturais. Presentemente, a União Europeia regulamentou três espécies de insetos como novos alimentos permitindo a sua comercialização no espaço europeu. Os insetos são muito ricos em nutrientes essenciais e fáceis de criar (baixo consumo de água, alimento e emissão de gases), sendo excelentes alternativas nutricionais para alimentação humana. Adicionalmente, os insetos têm propriedades benéficas para a saúde humana (exemplo: anti-hipertensivas). Deste modo, a divulgação dos benefícios para a saúde e para o planeta associados ao seu consumo deve ser transmitida de forma clara ao consumidor de forma a promover a sua aceitação como alimento.

INTRODUÇÃO

De acordo com as mais recentes projeções das Nações Unidas a população mundial, que atualmente é de oito mil milhões, irá atingir os 9,7 mil milhões de pessoas em 2050 (United Nations Department of Economic and Social Affairs, 2022), pelo que este número implicará um aumento de cerca de 40% na produção pecuária (Alexandratos & Bruinsma, 2012; OECD, 2015). Numa época em que existem milhares de pessoas subnutridas e sem acesso à água (potável e/ou para rega), em que se discute a sustentabilidade do planeta, os efeitos das alterações climáticas, a poluição dos recursos hídricos e a destruição das florestas, o aumento da produção de géneros alimentícios e alimentos para animais para suprir as crescentes necessidades do planeta serão um enorme desafio para as gerações futuras. Dois dos maiores problemas serão o aumento do consumo de água e a expansão das áreas dos terrenos destinados ao cultivo e criação animal, o que implicará, respetivamente, decréscimos das já reduzidas reservas de água potável e das áreas florestais existentes. A consequente diminuição do número de plantas capazes de sequestrar o CO2 e o aumento da produção de gases com efeito estufa culminará no agravamento dos efeitos resultantes das alterações climáticas.

A pecuária é o setor agroalimentar que mais contribui para a emissão de gases com efeito de estufa (ex. metano e óxido nitroso) (Xu et al., 2021). Contudo, a carne e os produtos derivados de animais são fontes importantes de nutrientes, incluindo proteínas de elevadaqualidade (contém todos os aminoácidos essenciais), pelo que a sua substituição por alimentos alternativos tem de ser feita criteriosamente de forma a suprir as carências nutricionais que poderão resultar da sua eliminação da dieta. Uma das fontes alternativas de proteína que tem vindo a ganhar destaque nos últimos anos é o consumo de insetos, designado entomofagia.

A ENTOMOFAGIA NO MUNDO

Os insetos possuem uma enorme biodiversidade com mais de 5,5 milhões de espécies identificadas até ao momento (Stork, 2018). Entre estas, cerca de 2300 espécies pertencentes a 18 ordens são consideradas comestíveis (Tang et al., 2019). Embora o consumo de insetos seja uma prática ancestral em muitas culturas e estes estejam atualmente incluídos na dieta humana em mais de 130 países (Ramos-Elorduy, 2009), a sua implementação enfrenta alguma resistência nos países ocidentais, principalmente devido a questões culturais. Uma das estratégias que tem vindo a ser adotada pela indústria alimentar de forma evitar a repulsa causada pelo aspeto físico dos insetos consiste na sua conversão em farinhas para posterior incorporação em alimentos.

Artigo publicado na edição n.º 35 da Revista TecnoAlimentar.

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