Opinião: Um apelo à alimentação infantil responsável
Por: Carolina Almeida | Fundadora d’ A Comida do Bebé
Sabemos atualmente que os primeiros anos de vida de um bebé têm um papel fundamental no desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis e na prevenção da obesidade infantil. No entanto, as crianças são expostas cada vez mais cedo e a uma quantidade cada vez maior de alimentos ultraprocessados e com açúcar adicionado.
Mães e pais com menos tempo procuram opções de praticidade, que se vão multiplicando nas prateleiras dos supermercados. As papas que já estão prontas e só precisam ser misturadas com água, a fruta que já vem em puré pronto a beber, os iogurtes que não precisam de frio são alguns dos exemplos. O problema é que a praticidade que a indústria alimentícia oferece, afasta cada vez mais as crianças dos alimentos no seu estado natural.
Os dados de consumo alimentar do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), mostram que 69% das crianças não atingem o consumo mínimo recomendado de 400 gramas de hortícolas por dia e que 10% das crianças entre 1 e 3 anos consome doces e sobremesas diariamente, apesar das diretrizes nutricionais que recomendam zero açúcares livres para crianças com menos de dois anos de idade.
Segundo o último relatório do COSI (Childhood Obesity Surveillance Initiative), 1 em cada 3 crianças tem excesso de peso em Portugal e 13,9% é obesa. E, ainda mais alarmante foi a reversão na tendência de queda, que se verificava desde 2008.
Embora os humanos nasçam com uma preferência inata pelo sabor doce, essa preferência é exacerbada pela exposição ao açúcar, especialmente nos primeiros cinco anos de vida. A introdução precoce de alimentos ultra- processados e ricos em açúcar e sal, condicionam o paladar do bebé e facilitam o consumo excessivo desse tipo de alimentos - face a alimentos saudáveis como vegetais e frutas -, que aumenta com a idade e pode durar toda a vida.
Na verdade, o consumo de açúcar na infância é um preditor de uma maior ingestão de açúcar no final da infância e na adolescência, e demonstrou aumentar rapidamente com a idade. Sabemos também que a obesidade infantil tende a persistir na idade adulta, levando a um risco acrescido de doenças crônicas como diabetes, doenças cardiovasculares e certos tipos de cancro.
QUAL O PAPEL DA INDÚSTRIA ALIMENTAR?
A indústria de alimentos para bebés tem de ter responsabilidade social no que respeita à saúde e bem-estar dos bebés. Um estudo do INSA de 2022 mostrou que metade das papas infantis à venda no supermercado continham açúcar adicionado. É necessário haver uma mudança radical de paradigma em direção à oferta de alternativas minimamente processadas que apoiem o crescimento e desenvolvimento saudáveis.
Os pais precisam ser relembrados da praticidade dos alimentos naturais; afinal nada pode ser mais rápido do que descascar uma banana! Do lado das empresas, é fundamental que seja feito um trabalho na direção de tornar a rotulagem mais transparente e as práticas de marketing são essenciais para capacitar os pais a fazerem escolhas informadas para os seus filhos. Já os nossos legisladores, precisam colocar regras mais rígidas na formulação de produtos infantis, com a proibição de açúcares livres ou farinhas hidrolisadas em produtos direcionados para bebés.
Bibliografia aqui.