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Revista TecnoAlimentar

Ranicultura: a resposta ao mercado de pernas de rã

Por: André Limede

Biólogo e Técnico de Investigação e Desenvolvimento na The Tomorrow Company

RESUMO

O mercado global de pernas de rã envolve o uso de milhares de milhões de animais anualmente, sendo a grande maioria ainda capturados diretamente da natureza para satisfazer o apetite dos consumidores. A maioria dos mercados consumidores encontra-se na Ásia, no entanto, atualmente a Europa e os Estados Unidos são os maiores mercados importadores deste produto. Na Ásia, muitos países possuem indústrias domésticas de produção de rãs em regimes intensivos (ranicultura), capazes de satisfazer uma grande porção da procura interna, algo que até hoje ainda não foi replicado no mundo ocidental. Apesar de existirem vários entraves para a indústria se desenvolver na Europa, a ranicultura apresenta-se como uma alternativa sustentável e necessária, não só para proteger as populações de rãs selvagens, mas também para garantir a preservação desta atividade gastronómica.

INTRODUÇÃO

Sabemos que os apetites e preferências culinárias das pessoas de todo o mundo estão fortemente contextualizados não só na cultura gastronómica em que se inserem, mas também pelo que a natureza tem a oferecer. Existem vários pratos tradicionais que poderemos considerar estranhos, mas quando paramos para pensar, as pessoas que historicamente dependeram dessas refeições apenas estariam a aproveitar-se do que a terra lhes providenciava, e num mundo em que o dia de amanhã não é uma garantia, não se pode ser esquisito com o que se come. De um modo geral, há muitos poucos animais que ao longo da história da humanidade não se tenham chamado de pitéu, e nesse sentido as rãs não são exceção (Figura 1).

As rãs pertencem à classe dos anfíbios, juntamente com os sapos e relas (ordem Anura, incluindo as rãs), as salamandras e tritões (ordem Urodela) e as cecílias (ordem Apoda). Destes animais, as rãs são de longe os mais consumidos, no entanto na China também é típico a utilização de algumas espécies de salamandra na gastronomia de certas localidades, destacando- se a salamandra-gigante-chinesa (Figura 2), o maior anfíbio do mundo que pode atingir 50 kg e perto dos dois metros de comprimento.

Na sua grande maioria, os anfíbios são caracterizados por serem os únicos vertebrados terrestres com ciclos de vida complexos, querendo com isto dizer que quando nascem (girinos) não se assemelham à sua forma adulta (Figura 3). Para além disso, os girinos são totalmente aquáticos (respirando através de brânquias), e ao longo de várias semanas, à medida que vão crescendo, desenvolvem pernas, braços, pulmões e outras reestruturações profundas na sua anatomia interna (Figura 4). Depois de completarem a sua transformação (metamorfose), e já se assemelharem morfologicamente a rãs adultas, os animais têm hábitos mais terrestres, mas sempre muito dependentes da água, devido à sua pele extremamente permeável que perde humidade com muita facilidade. Por esse motivo, os anfíbios em geral, mesmo no seu estado adulto, podem ser facilmente encontrados em zonas associadas a corpos de água, ou em locais húmidos. 

Artigo publicado na edição n.º 36 da Revista TecnoAlimentar.

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