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Revista TecnoAlimentar

Mais de 10% dos portugueses são vegans, vegetarianos e flexitarianos, mas número diminuiu

Depois de três anos a crescer, o número de portugueses adultos que se identifica como veggie abrandou em 2023. A terceira edição do estudo “The Green Revolution”, divulgado ontem pela consultora Lantern, revela que em Portugal os consumidores que seguem uma dieta vegetariana (não inclui carne e peixe, apenas os seus derivados), vegan (exclui qualquer produto de origem animal) ou flexitariana (permite comer carne e peixe ocasionalmente) representam 10,4% da população, ou seja, 910 mil pessoas.

 

Na primeira edição do “The Green Revolution”, divulgado em 2019, 9% das pessoas inquiridas identificava-se como veggie. Em 2021, a percentagem de adultos com dietas à base de vegetais aumentou para 11,9%, o equivalente a 1 milhão de adultos. Agora, e depois de uma pandemia, “o avanço desta onda gigantesca parece ter quebrado e acalmado as suas águas”, revela o relatório.

“Em 2021, estávamos a falar de uma incorporação de quase 250 mil novos veggies em Portugal, dos quais um terço (90 mil) se perderam hoje, principalmente vegetarianos e vegans.  A pandemia e o confinamento aumentaram a consciencialização das pessoas para a saúde, o ambiente e os animais. O fim destas circunstâncias excecionais parece ter provocado um ‘efeito ricochete’ na população, ávida de prazer e de desfrutar em todos os sentidos, incluindo a sua alimentação”, indica o relatório da Lantern, consultora especializada no setor alimentar.

David Lacasa, sócio da Lantern, destaca que, “apesar da descida no número de veggies, continuamos confiantes na tendência, que tem crescido relativamente a 2019. Este é um ajuste pós pandemia e o momento para as marcas colocarem mais foco na proposta de valor dos seus produtos. O número de veggies continuará a crescer nos próximos anos, mas o mercado terá de reajustar a oferta e as suas expectativas”.

Comentando os resultados do estudo durante a mesa redonda organizada pela Lantern, Filipe Leitão, diretor de unidade de negócio da Derovo, afirmou que “as evoluções nunca são em contínuo e que é normal que haja inflexão da tendência”. Contudo, a tendência plant based “é um caminho sem volta. Vamos tendo noção do que nos faz bem, do que nos faz mal e procuramos o que nos dá segurança nas nossas escolhas”, disse.

“O que o estudo revelou confirma o que sentimos. O plant based veio para ficar”, afirmou, por seu lado, Tiago Rebelo, founder da Swee, acrescentando que “há uma necessidade de ter produtos mais inovadores em sabor e também a nível de preço”.

Lia Oliveira, Chief Marketing Officer da Nobre, também se revê nos “resultados de algum decréscimo da velocidade de penetração dos veggies em Portugal”. “Mas é indiscutível que plant based veio para ficar”, disse. “Há um tema muito relevante no pós-pandemia: entrámos numa altura de crise e inflação e o que observamos é que há uma retração do consumo em geral e, em particular, de produtos inovadores”, analisou.

Consumo de carne em alta

A dieta que conquistou novos adeptos em 2023 foi a omnívora: passou de 88,1% para 89,6% de consumidores. Ainda assim, o estudo indica que 49% dos portugueses que se declaram omnívoros afirmam que estão a tentar reduzir o consumo de carne. Destes, 34% tentam reduzir o consumo de carne vermelha e 15% reduzem o consumo de todos os tipos de carne.

No outro extremo, existe um grupo denominado de "super-carnívoros" que declara consumir carne diariamente. Este subgrupo é mais representativo entre a população do sexo masculino (19%) do que na população do sexo feminino (11%). E entre os jovens com menos de 15 anos (32%).

Mas quem é o consumidor veggie? As mulheres continuam a liderar a tendência em Portugal e representam 69% dos veggies e 67% dos vegetarianos e vegans. É entre os homens que se regista uma diminuição na adoção destas dietas. Em 2023, a percentagem de homens veggie desceu para 7,1% (9,8% em 2021).

Embora estejam representados em todas as faixas etárias, as maiores penetrações registam-se entre os 25 e os 34 anos. Outro grupo a salientar é o da população com mais de 65 anos: 13% segue uma dieta à base de vegetais e é, na maioria, flexitariano.

Estes fenómenos alimentares já deixaram de estar restritos às zonas urbanas. De acordo com o “The Green Revolution”, 8,8% dos veggies vivem nas grandes cidades, 12,3% nas cidades com 50 mil a 100 mil habitantes e 11,6% em locais com menos de 50 mil habitantes. É ainda comum que o mesmo agregado familiar partilhe hábitos alimentares: 26% dos flexitarianos vivem com outros flexitarianos.

As motivações para apostar numa alimentação plant based variam consoante os grupos analisados pelo estudo. Para os flexitarianos, a saúde é a razão principal para reduzir o consumo de carne: acreditam que comer de tudo é bom e que esta dieta os ajuda a controlar o peso. Já para os vegetarianos e vegans, o ambiente e os animais são o principal motivo.

Uma mudança notável entre os flexitarianos é o aumento da preocupação com o meio ambiente como motivação para esta dieta alimentar. A sustentabilidade ultrapassou a preocupação com o bem-estar animal, crescendo 12 pontos percentuais de 2021 para 2023, de 29% para 41%.

Portugal, o menos veggie da Europa

Com os resultados obtidos em 2023, Portugal surpreendeu e tem uma das percentagens mais baixas da Europa no que toca à representatividade dos veggies. Na Alemanha, Áustria e Países Baixos, um terço da sociedade é veggie, com 34%, 32% e 30%, respetivamente. No Reino Unido, a cultura veggie está amplamente estabelecida e é impulsionada por uma população vegan e vegetariana, que atinge os 6%, uma das mais elevadas da Europa, tal como na Alemanha.

O mercado dos produtos à base de plantas continuou a crescer em termos gerais na Europa, embora de forma mais moderada: passou de um crescimento de 15% nas vendas em 2021, para 6% em 2022 e 4% em volume, de acordo com os dados da Nielsen IQ (NIQ) publicados pelo Good Food Institute (GFI).

Por cá, a perda de dinamismo refletiu-se nas vendas reais das categorias plant based. No último ano, as alternativas vegetais aos laticínios mantiveram o seu crescimento (42,3 milhões de euros, face a 40,6 milhões em 2022). Por outro lado, as alternativas vegetais à carne registaram uma queda nas vendas de 8,8% em valor (5,4 milhões de euros) e 9,8% em volume (480 toneladas), de acordo com os dados da Nielsen IQ de finais de 2023.

O relatório “The Green Revolution” foi feito com base em mais de mil entrevistas, representativas da população adulta nacional, por sexo, idade e zona geográfica (margem de erro de 3,2%). O trabalho de campo foi efetuado em novembro de 2023.

Estudo completo aqui.