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Revista TecnoAlimentar

Desperdício Alimentar

Por: Carla Barbosa¹,²,⁴, Manuel Rui Alves¹,²,³

¹ Centro de Investigação e Desenvolvimento em Sistemas Agroalimentares e Sustentabilidade, Instituto Politécnico de Viana do Castelo (CISAS – IPVC)

² Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (LAQV-REQUIMTE-FMUP)

³ Diretor da Revista TecnoAlimentar

⁴ Subdiretora da Revista TecnoAlimentar

As atuais tendências de consumo e produção de alimentos são insustentáveis. A crise do desperdício de alimentos atingiu um ponto crítico. De acordo com o Índice de Desperdício de Alimentos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, 923 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçados todos os anos. O impacto ambiental do desperdício alimentar é significativo, pois a produção de alimentos que nunca são consumidos leva ao desperdício de recursos naturais, como terra, água e energia. Além disso, quando os alimentos são descartados em aterros sanitários, decompõem-se e liberam gases de efeito estufa, contribuindo para cerca 10% dessas emissões e consequentemente para as mudanças climáticas.

O aumento exponencial da população mundial repercutido no aumento da procura por alimentos, o uso ineficiente de recursos e distribuição de alimentos, o impacto ambiental e as altas taxas de desperdício de alimentos em todas as fases da cadeia alimentar exigem uma rápida transição para práticas mais sustentáveis. Neste dossier, procura-se chamar a atenção para algumas das preocupações do setor alimentar, que já tem feito grandes esforços numa tentativa da otimização de procedimentos, inovação de formulações e gestão dos seus resíduos. Diferentes bases de dados e estimativas revelam que aproximadamente 30 a 50% dos alimentos destinados ao consumo humano são desperdiçados ao longo da cadeia alimentar. Isto significa que a ineficiência na economia alimentar fará baixar a produtividade, perda de energia e de recursos naturais.

No passado XVI EQA (2022) foi chamada, mais uma vez, a atenção para o problema do desperdício alimentar associado à indústria, numa interessante palestra, do Prof. José de Sousa Câmara (Behind the scenes of agri-food waste: From the health benefits to potential applications). Este evento reuniu investigadores e estudantes, empresas e entidades com impacto nas decisões no setor alimentar. A sua mensagem foi clara: é importante desenvolver estratégias para produzir mais e melhores alimentos com menos desperdício, para além da implementação de sistemas sustentáveis de produção alimentar através da otimização de processos para alcançar uma melhor pegada ambiental, menores custos de produção e melhoria da qualidade e valor nutricional dos alimentos.

Abordam-se temáticas como: aplicação do conceito de economia circular a sistemas alimentares sustentáveis, trabalhos que investigam sistemas alimentares circulares através da valorização de subprodutos com potencial de elevado retorno económico em diferentes setores industriais, como nutracêuticos, cosméticos e até fármacos, atualmente motor das atividades de investigação e projetos I&D. Discutem-se, ainda, desafios e possíveis soluções para otimizar a produção, orientar o consumo na prevenção do desperdício e excesso de alimentos.

A Comissão Europeia estabeleceu a redução do desperdício alimentar como uma das áreas prioritárias do Plano de Ação para a Estratégia Europeia de Economia Circular, que inclui uma estratégia de desperdício zero orientado para a valorização dos resíduos agroalimentares. Mais uma vez, o aumento exponencial da população mundial e as alterações climatéricas, que conduzirão à escassez de água e diminuição das áreas agrícolas, e os graves problemas sociais e globais desafiarão a produção de alimentos para as próximas gerações. Serão esperadas graves consequências sociais e económicas.

É importante reforçar que algumas das causas deste desperdício alimentar na indústria é resultante de vários fatores, como: superprodução, prazos de validade curtos ou mal definidos, padrões de qualidade rígidos, armazenamento inadequado, embalagens excessivas e falhas na cadeia de distribuição alimentar. No entanto, os desafios permanecem. As empresas devem adaptar-se à volatilidade da oferta e às mudanças impulsionadas pela procura, inovar em escala e desenvolver produtos mais sustentáveis. Para tal, é necessário incentivar a indústria capacitando-a de processos sustentáveis, não só do ponto de vista energético – recorrendo a novas tecnologias, mais eficientes – mas também com o apoio técnico especializado na otimização de processos segundo modelos da qualidade rigorosos e desenhados paracada atividade. Para enfrentar esses desafios e ter sucesso na produção sustentável, as empresas precisam de um alto nível de produtividade, em termos de tecnologia, mas também de quadros técnicos especializados.

É fundamental que todos, desde produtores até consumidores, assumam a responsabilidade de reduzir o desperdício alimentar e promover práticas sustentáveis em toda a cadeia de abastecimento de alimentos.

Artigo publicado na edição n.º 36 da Revista TecnoAlimentar.

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