FacebookLinkedin

Revista TecnoAlimentar

Bioplásticos condutores elétricos para a preservação ativa de alimentos

Hoje em dia, alimentos e embalagens de alimentos produzem inevitavelmente grandes quantidades de resíduos. A geração de resíduos tem impactos negativos em termos económicos, ambientais e sociais. Assim, é de extrema importância o desenvolvimento de embalagens biodegradáveis com capacidade de contribuir ativamente para a conservação do alimento ao mesmo tempo que mitigam o impacto dos plásticos no meio ambiente.

Plástico

Além disso, é importante implementar novas tecnologias na proteção de alimentos para evitar o uso de conservantes sintéticos, assim como processos de alta temperatura na esterilização de alimentos que destruam nutrientes e levam à perda de qualidades sensoriais. O objetivo do Projeto BIOFOODPACK é o desenvolvimento de um material de embalagem biocompósito sustentável para interagir ativamente com os alimentos, aumentando o seu tempo de conservação com processamento mínimo, reduzindo a perda e o desperdício de alimentos.

O uso de biopolímeros com baixo impacto ecológico, combinados com nanopartículas e/ou compostos com propriedades antimicrobianas e antioxidantes, permite alcançar embalagens com propriedades de barreira e mecânicas adequadas, resistentes à água e com condutividade elétrica para esterilização a baixa temperatura utilizando campos elétricos pulsados (PEF).Na sociedade atual verifica-se um aumento da consciencialização do consumidor para a relevância da alimentação e nutrição na saúde.

Consequentemente, a atual tendência de consumo de produtos alimentares centra-se na procura de alimentos minimamente processados que, após o processamento, preservem as suas características sensoriais e nutricionais. Perante estas exigências, os métodos de processamento tradicionais que recorrem à utilização de elevadas temperaturas não são adequados, uma vez que promovem a degradação de importantes compostos presentes nos alimentos e a diminuição do seu valor nutricional (Salvia-Trujillo et al., 2011).

Estima-se que na Europa sejam perdidas aproximadamente 89 milhões de toneladas de alimentos por ano, principalmente devido a contaminações, e que representam aproximadamente 20% da produção total de alimentos (EU Fusions, 2016). O desperdício alimentar representa um grande problema ambiental na União Europeia, para além de consequências económicas, sociais e éticas, e numa escala global devido ao seu impacto na utilização de recursos energéticos, de água e de uso de terras cultiváveis, assim como de gases de efeito estufa. Estima-se que as 1,3 Gt de desperdício alimentar gerem atualmente 8% das emissões totais destes gases e consumam cerca de ¼ da utilização de água da atividade agrícola, contribuindo também para a perda de biodiversidade (EU Council, 2016).

Por este motivo é urgente implementar estratégias que permitam aumentar o tempo de vida dos alimentos. Neste contexto têm surgido novos conceitos de embalagem, como os sistemas de embalagens ativas que permitem aumentar o tempo de prateleira dos alimentos através de interações dinâmicas entre estes e a embalagem (Realini & Marcos, 2014). Estima-se que 8,2 milhões de kg de plástico tenham sido usados em embalagem alimentar na Europa em 2018 e que diariamente, em Portugal, 0,26 kg de resíduo plástico seja gerado por pessoa.

O uso de plástico para embalar alimentos tem aumentando nos últimos anos. A proliferação das utilizações de uso único do plástico, que representam cerca de 50% da utilização total de plásticos, e a ineficácia das políticas de reciclagem (apenas 9% do total de plástico produzido é reciclado) tem levado a uma maior regulamentação e legislação, a nível europeu, com o objetivo de contribuir ativamente para retirar o plástico do meio ambiente.

Assim, as embalagens alimentares de plástico representam uma grande proporção (59%) do plástico descartado a nível europeu. Portanto, há necessidade de reduzir o impacto no ambiente do plástico proveniente das embalagens alimentares. O desenvolvimento de materiais biodegradáveis que substituam os materiais derivados do petróleo, não biodegradáveis, é uma prioridade.

O recurso a biopolímeros no desenvolvimento de biocompósitos para embalagens alimentares ativas que permitam a adaptação das embalagens às novas tecnologias de processamento pretende satisfazer os critérios de sustentabilidade, pelo que a sua utilização se encontra em expansão (Vanderroost et al., 2014).

(continua)

Nota:

Artigo publicado na edição nº 27 da revista TecnoAlimenta, no dossier sobre 'Embalagem e Distribuição na Indústria Alimentar'.

Para efetuar a assinatura da revista TecnoAlimentar, clique aqui

Veja as últimas edições da TecnoAlimentar aqui