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Revista TecnoAlimentar

As novas tendências agroalimentares para 2021

A PortugalFoods apresentou, mais um ano, as principais tendências para o setor agroalimentar em 2021. O evento ficou marcado pela realização em formato virtual, isto devido às restrições provocadas pela pandemia da Covid-19. 

PortugalFoods Trends 2021

Esta foi a 10ª edição do evento "Trends 2021", que é reconhecido como um importante momento de atualização e debate entre indústria e especialistas de business intelligence, em prol da aplicação das tendências ao desenvolvimento de novos produtos e/ou serviços por parte da indústria agroalimentar nacional. 

Ana Gomes, do Conselho de Administração PortugalFoods (ESB-UCP), deu início ao evento, destcando os tempos diferenciados que vivenciamos e a vontade de todos em contribuirem para a investigação e sustentabilidade do setor agroalimentar nacional. «Desde a sua génese que a PortugalFoods tem como missão a cooperação assente numa base de proximidade e confiança», começou por realçar. «Existe a cooperação entre a entidade, o tecido empresarial e a academia, mas também entre entidades parceiras a nível do desenvolvimento tecnológico e da internacionalização». 

Seguiu-se Teresa Carvalho, da PortugalFoods, que apresentou o papel da Knowledge Division na inovação do setor agroalimentar. Durante a apresentação, a oradora destacou os principais contributos da organização para os seus associados e para o setor agroalimentar, destacando iniciativas como o Observatório PortugalFoods, a rúbrica +innovation, o projeto MobFood, o projeto Clean Label Food e a realização do prémio Ecotrophelia Portugal

As tendências para 2021 

webinar foi marcado pela apresentação do relatório Food and Drink Trends 2021, da consultora internacional especializada Mintel. Em análise esteve a forma como os eventos de 2020 impactaram nas escolhas e no comportamento humano, influenciando a evolução do mercado da alimentação e das bebidas e a sua relação com os consumidores. David Faulkner, Associate Director da Mintel, apresentou as tendências para 2021.

Segundo Faulkner, as empresas agroalimentares irão focar-se em apresentar soluções para o bem-estar mental dos seus clientes: "Feed the mind"; Quality redefined" e "United by food" são os três conceitos principais.

«Penso que todos concordamos que 2020 causou uma redefinição fundamental no comportamento humano, intensificando e enriquecendo a nossa relação com a comida», começou por apontar. «A Covid-19 acelerou a capacidade dos alimentos de oferecer muito mais do que mera sustentação. As pessoas procuram nos alimentos positividade, imunidade e comunidade. A alimentação iluminou a desigualdade social, as fragilidades das cadeias de abastecimento globais e incentivou-nos a adotar novas tecnologias. O impacto da mudança de vida da pandemia sobre os consumidores significa que precisamos priorizar novamente a empatia e olhar através de seus olhos», explicou.

As tendências de consumo, segundo o relatório internacional apresentado, são influenciadas por sete fatores-chave para a escolha do consumidor: bem-estar, comunidade em que o consumidor se insere, tecnologia, direitos, valor, identidade e experiências. Os três pontos-chave relacionam-se com o bem-estar, o valor e a identidade.

  • Bem-estar | Alimentar a mente: A pandemia obrigará a um foco mais incisivo no apoio ao bem-estar mental.

  • Valor | Qualidade redefinida: O caminho para a recuperação mudará as prioridades de valor do consumidor tendo em conta a economia de tempo, preço justificável e igualdade.

  • Identidade | Unidos pela comida: A indústria dos alimentos e bebidas inovará em torno da capacidade de aproximar as pessoas.

Bem-estar | Alimentar a Mente

Nos últimos anos, os consumidores ganharam maior consciência dos cuidados que devem ter com a sua saúde mental e emocional, mas a pandemia trouxe o bem-estar para o centro da vida das pessoas. No futuro, os consumidores irão procurar mais produtos e serviços que ofereçam benefícios concretos para os seus níveis de saúde e bem-estar mental, o que orientará a indústria para abordagens baseadas em psicologia e experiências – e sempre em sintonia com a tecnologia, que orienta e informa consumidores cada vez mais digitais.

Novas receitas vão expandir as atividades de alívio do stress

Produtos serão criados para valorizar as atividades de lazer e de descompressão, seja ver televisão ou meditar. Elementos sensoriais como perfumes e ingredientes funcionais serão utilizados para adicionar experiências reais a eventos virtuais – como snacks energéticos para consumir durante um videojogo ou bebidas perfumadas para bebericar enquanto se acompanha um tutorial de meditação

Os rituais são uma distração prazerosa e produtiva durante o confinamento 

«Estes rituais são importantes porque nos distraem das preocupações diárias. Assim, os consumidores retornam ao conforto dos rituais ao nível da confeção de alimentos e bebidas, assim como na realização de café e bebidas espirituosas em casa», apontou. Este ponto cria uma oportunidade para quem vende produtos alimentares para serem consumidos em casa. Esta é uma tendência que vai continuar mesmo após o final da pandemia, com vários consumidores a destacarem que não pretendem abdicar das refeições que se habituaram a desenvolver no seu lar.

A pandemia fortaleceu a ligação entre ingredientes alimentares e o bem-estar mental

Esta é uma oportunidade para os produtos comercializados tendo por base ingredientes com características reconhecidas enquanto benefícas, como é o caso, por exemplo, de diversos chás apontados como calmantes naturais. Apesar deste apelo pelos ingredientes naturais, a falta de provas clínicas da eficácia dos produtos botânicos aumenta o risco de corroer a confiança do consumidor, num momento em que os orçamentos familiares estão mais apertados.

Combinação de nutrientes funcionais aprovados clinicamente com ingredientes naturais

Com base no panorama atual, mais produtos irão conter nutrientes clinicamente comprovados que suportam funções cognitivas e psicológicas, como no caso do magnésio e das vitaminas B, aprovados pela EFSA. A combinação desses nutrientes com os naturais pode ajudar a aumentar a confiança do consumidor nos produtos comercializados.

A tecnologia ajudará os consumidores a fazer a ligação entre a dieta e saúde mental

No futuro, os consumidores vão procurar por tecnologias que o ensinem em relação á influência da sua dieta na sua saúde mental e física. A título de exemplo, aplicações como a Noom e a Headspace combinam os aspectos psicológicos e físicos do controlo de peso.

Preocupação com saúde mental acelera produtos alimentares conscientes e intuitivos

Sensibilizados pelo contexto pandémico, os consumidores vão fazer compromissos mais sérios para reduzir os riscos para a saúde, preferindo alternativas alimentares mais saudáveis, mais conscientes e intuitivas – quer física, quer mentalmente. Assim, mais marcas vão posicionar-se neste campo, ajudando os consumidores a fazerem melhores escolhas, facilitando, por exemplo, a redução do consumo de álcool; ou sublinhando a densidade nutritiva dos seus produtos, um conceito-chave para a chamada alimentação intuitiva que privilegia alimentos com um rácio muito elevado de nutrientes benéficos, em comparação com as calorias. 

Características sensoriais vão enriquecer a conexão emocional entre o consumidor e a marca

As marcas vão estimular os sentidos dos consumidores de forma mais cuidadosa, por meio do uso cuidadoso da embalagem e do produto, para se envolver emocionalmente com estes.

Consumidores ansiosos pelo clima exigem rotulagem compreensível

A rotulagem de carbono em alimentos e bebidas visa tranquilizar os consumidores por ser transparente, mas carece de padronização e, muitas vezes, de clareza. Uma solução potencial poderia ser o sistema Nutri-Score, algo proposto em 2020.

Ingredientes de bem-estar mental serão um foco maior para os investidores

As substâncias que são eficazes no tratamento do stress e da ansiedade são adequadas para os nossos tempos e espera-se que estas atraiam pesquisas e investimentos significativos nos próximos anos. É apresentado o exemplo de adicionar ingredientes calmantes a um produto, as psilocibinas que poderiam seguir o CBD e o entendimento de que ingredientes fermentados podem influenciar o bem-estar mental.

Sobre o futuro neste tópico, David Faulkner acredita que «no futuro, a ansiedade climática afetará o bem-estar mental, o serviço de alimentação atenderá melhor a necessidade do consumidor e a dieta das crianças estará conectada a tudo isto».

Valor | Qualidade redefinida 

Motivados pelo choque pandémico, os consumidores estão a procurar um regresso ao essencial, focando-se na redução do consumo e em encontrarem mais valor acrescentado nas suas compras. Poupança de tempo, segurança alimentar e conveniência nos produtos alimentares e na restauração serão cruciais. O foco dos consumidores em garantirem mais valor vai motivar as empresas a serem mais transparentes sobre a política de preços e a darem mais detalhes acerca dos ingredientes e processos.

Expectativas éticas aceleram ‘valor com valores’

A Covid-19 expôs a necessidade de, enquanto sociedade, nos apoiarmos uns aos outros. As marcas e os retalhistas têm, agora, a oportunidade de lançarem produtos com preços alinhados com declarações éticas e ambientais – produtos de ‘valor com valores’. Uma das prioridades será criar produtos nutritivos e saudáveis com preços acessíveis. Esta tendência também permitirá às empresas aumentarem moderadamente os preços se explicarem como tal subida está relacionada com a oferta de qualidade, segurança e responsabilidade corporativa.

Experiência no retalho evolui

A pandemia traz novos requisitos em termos de higiene e segurança, especialmente no que diz respeito ao retalho e à restauração. Os consumidores vão exigir inovações ‘sem toque’, incluindo carrinhos de compra inteligentes ou embalagens que limitem o contacto direto com as mãos durante o momento de consumo. Adicionalmente, e à medida que os mercados vão recuperando, os consumidores estarão mais abertos à conveniência experiencial: optando por modelos híbridos de compra (online offline), que informem e entretenham ao mesmo tempo.

Identidade | Unidos pela comida

Reconhecida a importância das relações sociais, os consumidores irão organizar-se em comunidades (tanto digitais como físicas) para socialização. O setor agroalimentar e a restauração podem tirar vantagem do facto de serem percecionados como indústrias que constroem laços e promovem entidades comuns, baseadas em sabores e gastronomia. Assim, as marcas vão ativamente construir redes online de consumidores e organizar encontros presenciais (à medida que as restrições forem sendo levantadas) – e que não tenham apenas como fim a degustação, mas possam inclusivamente promover causas.

Criação de comunidades onde os consumidores podem estabelecer novas ligações

Os consumidores vão querer criar relações autênticas com outras pessoas que partilham os mesmos valores e gostos – como já acontece em áreas como o desporto, vestuário e eventos culturais, que criam comunidades de pessoas que celebram paixões comuns. Seguindo o exemplo, o setor alimentar pode promover espaços virtuais que, além de plataformas de ecommerce, apresentem fãs de marcas uns aos outros e onde podem ser partilhadas, de forma dialogante e independente, receitas, dicas e outras informações.

Fatigados pelo confinamento e pelos ecrãs, os consumidores também estarão sedentos de oportunidades de socialização autênticas, pelo que será vital para as marcas a criação de espaços comuns onde possam – de forma segura – reunir e formar ligações fortes.

Social ecommerce pode capitalizar com a comunidade

O comércio online interativo é uma ferramenta para a união das pessoas. Nesse sentido, as marcas agroalimentares podem adotar modelos de social ecommerce, nos quais a experiência de compra online é partilhada com outros compradores e amigos. Estas plataformas replicam as experiências de consumo ‘reais’ e promovem oportunidades de negócio diferenciadas (por exemplo, descontos específicos para determinados grupos de consumidores).

Este modelo online pode ser expandido para eventos presenciais, para os quais grupos de fãs selecionados são convidados a receberem edições limitadas de compras feitas online ou a experimentarem menus em momentos de confraternização (segura).

A divulgação do estudo 2021 - Global Food and Drink Trends, da Mintel, que aconteceu num evento promovido pela PortugalFoods e que contou com a participação de players da indústria e de mercado, decorre no âmbito do projeto PortugalFoods_Qualifica, que tem como missão o reforço da competitividade empresarial do setor agroalimentar nacional e o incremento do índice tecnológico das empresas portuguesas. É financiado pelo COMPETE2020, Portugal2020 e União Europeia através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.

Nesta conferência, que contou com a participação de um conjunto de especialistas da indústria e de mercado, a PortugalFoods lançou, ainda, o olhar sobre relação entre o laboratório e o mercado como fator determinante para o sucesso do desenvolvimento de novos produtos. O processo transformador e criativo que parte da evolução do conceito até à aplicação das tendências de inovação na indústria alimentar foi discutido.

Seguiu-se a apresentação de Miguel Teixeira, diretor Técnico e Científico do COLAB4FOOD, que apresentou o projeto, que tem como principal objetivo promover a competitividade e sustentabilidade da indústria alimentar, contribuindo para a mudança de paradigma na colaboração entre os diversos stakeholders e implementação do conceito de economia circular e de inovação no setor agroalimentar.

Seguiu-se uma mesa redonda sobre o caminho que se percorre do conceito à aplicação das tendências de inovação na indústria alimentar, que contou com a moderação de Deolinda Silva, diretora-executiva da PortugalFoods. Pedro Mota, CEO da Fábrica de Cervejas Portuense, Débora Teixeira, Técnica de Conceção & Desenvolvimento da Ramirez, e Francisco Reis, Administrador Executivo da Equanto foram os oradores, destacando a evolução e o trabalho das suas empresas agroalimentares.

Reveja o webinar no vídeo abaixo.