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Revista TecnoAlimentar

Visão Artificial na Indústria Alimentar

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A necessidade de se conseguir en­tregar ao cliente produtos de con­fiança é um dos grandes requisitos da Indústria Alimentar. Só a utilização de elevados níveis de automatização permi­te atingir este objetivo. A Visão Artificial posiciona-se como uma das ferramentas de excelência no mundo de automação para garantir a produção perfeita e maior velocidade.

Com o aumento do grau de exigência de qualidade, de segurança e de veloci­dade de produção, a utilização da Visão Artificial revela-se muitas vezes como sen­do o único meio de se atingir os requisitos atuais da Indústria Alimentar.

A Visão Artificial já se aplica em todas as fases de produção industrial, desde a receção de produtos e embalagens até ao controle do produto final, passando por praticamente todos os passos dos proces­sos de produção. Todos os trabalhos que exijam inspeção de forma, tamanho, cor, textura, presença de objetos estranhos, podem ser efetuados com a ajuda de Vi­são Artificial. É vulgar a Visão Artificial realizar trabalhos repetitivos, enfadonhos ou perigosos com elevada precisão e re­gularidade.

A descrição de aplicações de Visão Artifi­cial na Indústria Alimentar é um tema de­masiado vasto para ser descrito num artigo, mas serão de seguida apresentados alguns casos que utilizam Visão Artificial:

Verificação e validação do número de lote e prazo de validade – Verificação também da presença e posição da etiqueta. É uma aplicação quase transversal a toda a indústria alimentar de produto final e será com certeza a mais usada. Existem as so­luções mais simples que verificam somente se existe “algo” na zona de impressão, até às soluções mais sofisticadas que reconhecem os caracteres impressos e os comparam com os caracteres previstos.

Classificação de fruta – É sempre baseado num sistema mecânico para apresen­tação de cada peça de fruta à câmara, que dará ordem para que a peça de fruta seja enviada para o recipiente ou tapete correto. As funções a desempenhar pela câmara podem ser desde: medir o diâmetro para uma separação por tamanho, até sistemas altamente sofisticados, que podem ser multicâmaras, com raios X, análise de espectro para análise de múltiplos parâmetros, tais como avaliação do grau de maturação, do conteúdo de açúcar e/ou água, da presença e quantificação de pisado, podre ou imper­feições na casca, etc.

visao-artificial-1 Inspeção de rótulos em garrafas, frascos ou latas – Verifica a presença, posição e conteúdo gráfico do rótulo, contrarrótulo, número de lote, prazo de validade, nível de líquido, presença de cápsula, presença do vedante (rolha) e ou­tros fatores, tais como a presença do selo de Vinho do Porto. No caso das garrafas e frascos, por vezes, é impossível garantir uma posição constante da garrafa, o que implica que a inspeção tenha que ser feita com a garrafa rodada em qual­quer ângulo entre os 0º e os 360º. Nas latas, é vulgar verificar-se a presença da argola de abertura e o fecho da lata em todo o seu perímetro. Também é possí­vel detetar-se a presença de fugas atra­vés da análise da concavidade da tampa.

visao-artificial-2Classificação de rolhas – É uma apli­cação muito específica que é colocada neste artigo por ser quase um exclusivo português e que tem funções operativas (e não de controlo de qualidade). Apesar da rolha não ser um produto alimentar, está sujeito às mesmas regras por estar em contacto com produtos alimentares. As rolhas são colocadas na máquina de classificar rolhas após terem sido broca­das e serão separadas de acordo com as características de cada rolha, nomeada­mente, o número, posição e tamanho dos poros, presença de fendas, presença de barro, presença de casca, dimensões, etc. É um Sistema de Visão muito sofisticado, dos mais complexos no mercado, em que a rolha roda em frente a uma câmara, e com a ajuda de um laser é efetuada uma análise fotográfica e 3D a todo o corpo da rolha e aos dois topos. A cadência típica é de 12000 rolhas/hora.

Triagem de arroz – É uma aplicação de muito alta velocidade e que é realizada antes do embalamento. Separa grãos de acordo com a sua forma e cor. O arroz é colocado num tapete e é fotografado du­rante a queda no fim do tapete. Retira os grãos com casca, grãos escuros, de forma e dimensão fora de tolerância e objetos estranhos. Pode ser adaptado para outros tipos de cereais, leguminosas, frutos secos, sementes, etc.

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Raio X – É um ramo particular de Visão Artificial. Os raios X são usados normal­mente para a deteção de corpos estra­nhos, nomeadamente metais no interior de alimentos. Também é possível detetar-se plásticos, ossos, vidros, pedras, embora com menor sensibilidade. Está sempre em jogo a diferença de densidade entre os ob­jetos estranhos e os alimentos em si. Os sistemas Raio X mais vulgares necessitam do movimento dos produtos para formar a fotografia. São sistemas caros mas muito eficientes.

Bolachas ou pão – Este é um exemplo clássico de aplicação da Visão Artificial no fabrico de produtos alimentares. Pode-se inspecionar a bolacha ou pão após sair do forno, em que se pode inspecionar o tamanho, forma, espessura (com recurso a fotografia a 3 dimensões) e defeitos ao longo do seu perímetro. Inspeciona-se ainda a cor, o aspeto e a eventual presença de corpos estranhos. São sistema de mui­to alta cadência, na ordem de dezenas de exemplares por segundo.

Carne – As carcaças podem ser classifica­das conforme a sua forma e volume, para cálculo do seu valor. Pode-se fotografar um naco de carne a 3 dimensões para otimizar o corte, para calcular a área de embalagem necessária, etc. No caso do bacon, é possível determinar a área de gordura e de carne magra para o corte ideal.

Embalamento – Cada vez mais, o emba­lamento é realizado de uma forma com­pletamente automática. Tomando como exemplo rissóis ou croissants prontos a serem embalados num tapete, podem ser localizados e até inspecionados por uma câmara que enviará a posição de cada exemplar a um robot delta, que se encar­regará de colocar na respetiva embala­gem, a cadências muito elevadas. A inspe­ção permite ainda verificar a integridade de cada exemplar, se tem o tamanho ou forma correta, se está demasiado queima­do ou cru, etc.

Os exemplos sumariamente descritos são uma pequena fração das possíveis apli­cações de Visão Artificial na Indústria Alimentar. O número de aplicações con­tinuará a aumentar, seja porque as poten­cialidades irão aumentar, seja porque os preços continuarão a diminuir. Atualmente, uma câmara para uma função simples tem um custo inferior a 800 euros e que permite, por exemplo, verificar a presença da palhi­nha em pacotes de leite, sem necessidade de qualquer equipamento adicional.

Em termos tecnológicos, serão de esperar cada vez mais utilizações da Visão Artifi­cial com câmaras multiespectrais e 3D a trabalhar juntamente com sistemas mecânicos ou robots para funções de processo, como por exemplo, corte automático de carnes ou legumes, decoração automática de bo­los… Devido ao aumento de exigências de qualidade, as empresas continuarão a investir em Visão Artificial, mesmo para a resolução de problemas anteriormente descurados. As empresas produtoras ten­derão a dispor de técnicos com capacida­des nesta área, seja para auxilio à decisão de compra, seja para integração e/ou as­sistência.

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Em resumo, a Visão Artificial continu­ará a ter imensas aplicações de inspeção de produto ou embalagem, mas irá ter um enorme aumento de funções operati­vas ou de processo, conforme os exemplos atrás descritos, em que as componentes mecânicas das linhas de produção serão cada vez mais controladas por Visão Ar­tificial, permitindo a máxima automatiza­ção dos processos de fabrico com o máxi­mo de qualidade.

Neste artigo não foram descritas aplica­ções na agricultura, uma área em franco progresso, como, por exemplo, avaliação automática das culturas, robots para eli­minação automática e seletiva de ervas daninhas, robots para apanha automáti­ca e seletiva de fruta, ajuda ao guiamento automático de tratores, etc.

Por: Paulo Silva – Responsável Técnico da Vimétrica; paulo.silva@vimetrica.pt

In TecnoAlimentar nº 2