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Revista TecnoAlimentar

Marcas declaram guerra ao plástico

Acabar com palhinhas e copos de plástico é a medida mais imediata adotada pelas mais variadas marcas. Mas a estratégia também passa pela redução de sacos de plástico. 

plastico

A pouco e pouco, as marcas vão estando mais sensíveis à questão de restringir e até mesmo eliminar o uso do plástico. 

O jornal i fez uma ronda por várias marcas e a opinião é unânime: é imperativo mudar as práticas. Uma das guerras assenta no fim das palhinhas pois, na sua maioria, são feitas de plásticos como o polipropileno e o poliestireno que, se não forem reciclados, precisam de centenas de anos para se decompor. 

Muitas acabam em aterros sanitários ou nos oceanos. 

O mais recente caso é o da cadeia Starbucks, que já prometeu deixar de usar palhinhas de plástico até 2020. 

A cadeia multinacional, que tem 16 lojas em Portugal e mais de 28 mil por todo o mundo, pretende, até essa data, substituir as palhinhas de plástico por soluções menos prejudiciais para o ambiente, como uma tampa reciclável que dispensa palhinha, copos reutilizáveis ou palhinhas feitas de outros materiais que não o plástico. 

Segundo a empresa, a medida eliminará a produção anual de mais de mil milhões de palhinhas de plástico para as suas lojas. Para já, esta alternativa está a ser utilizada em 8 mil lojas nos EUA e no Canadá, mas irá chegar a Portugal. 

Ainda assim, as tradicionais tampas vão continuar a ser de plástico, mas a marca garante que se trata de um termoplástico resistente que pode ser reciclado muito mais facilmente do que as convencionais palhinhas, que passam a estar disponíveis apenas para situações excecionais, como o caso de clientes com deficiências motoras que precisem realmente do utensílio para ingerir líquidos. 

Mas pela ronda feita pelo i, a par dos hipermercados, só as cervejeiras têm vindo a aplicar medidas mais restritivas no mercado nacional. Segundo o setor da distribuição, tanto os super como os hipermercados estão a utilizar menos plásticos e, além do corte nos sacos, estão também a substituir pratos e copos de plástico por material reciclável e a apostar na venda a granel. 

A Auchan, que detém a marca de hipermercados Jumbo, pretende «acabar com os plásticos de utilização única» e, como tal, está à procura de alternativas. Uma das soluções passa pela introdução de um saco em papel kraft, utilização de embalagens reutilizáveis para encher na loja ou a aposta nas vendas a granel. 

E dá como exemplo a linha de pratos, tigelas e copos descartáveis mas ecológicos – feitos de bagaço de cana-de-açúcar, um recurso renovável e natural e um material biodegradável – e talheres de madeira, que começaram a ser disponibilizados em março. 

Já o Lidl comprometeu-se a reduzir em 20% a utilização de plástico até 2025. A primeira medida passou por descontinuar o sortido dos artigos de plástico descartável, como copos e pratos, nas mais de 250 lojas que o grupo tem no mercado nacional. 

A iniciativa, segundo as contas da empresa, vai evitar a entrada no circuito de 12,5 milhões de copos e de cinco milhões de pratos de plástico descartável por ano. 

O Lidl afirma ainda que tem vindo a «adotar diversas iniciativas com vista à redução de plástico», de que são exemplo as reduções nas embalagens das cápsulas de café – deixam de ter um invólucro de plástico por cápsula e passam a ter embalagens mais pequenas para o mesmo número de cápsulas. Estas alterações, segundo a empresa, «fazem prever uma poupança de cerca de 74 toneladas de plástico apenas neste produto em um ano». 

Mas dá mais exemplos. A quantidade de plástico usada por embalagem nos frutos secos foi reduzida, sem que tal tenha impacto no conteúdo em qualidade e quantidade. Na secção de frutas e legumes, padaria, frutos secos e no caso dos têxteis, as embalagens de plástico deram lugar às de cartão. 

Tanto a Jerónimo Martins – dona dos supermercados Pingo Doce – como o grupo Dia admitem que estão atentos a este tema, mas ainda estão a ser analisadas alternativas, nomeadamente materiais biodegradáveis e papel. 

Já a Sonae MC, dos hipermercados Continente, aponta a existência de um grupo de trabalho multidisciplinar e transversal a todas as áreas de atuação da empresa para o desenvolvimento e implementação de medidas visando um uso mais responsável do plástico, desde a marca própria, logística e fornecedores até ao nível interno e também da sensibilização do consumidor, a que acresce o trabalho já feito para a redução da espessura de plástico dos diferentes produtos. 

Mais avançadas estão as restrições nas cafetarias e restaurantes do Pingo Doce e do Continente. A Jerónimo Martins garante que já aposta em loiças e talheres reutilizáveis nestes espaços, enquanto a Sonae promete, até ao final do ano, acabar com a loiça de plástico, que será substituída por loiça de cerâmica, talheres de inox e copos de vidro. 

Além disso, também têm sido adotadas medidas para desincentivar o uso de plástico, a começar desde logo pela introdução de uma contribuição para os sacos de plástico nos supermercados. Esta taxa, que tem sido até agora aplicada aos sacos de plástico leve, poderá ser alargada aos mais espessos com o objetivo de incentivar uma maior reutilização, uma vez que «houve uma transferência e as pessoas passaram dos sacos leves para os de maior gramagem». 

A Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) garante que desde 2015 se assistiu a uma redução na ordem de 88% do consumo de sacos de plástico leves face a 2014, o que resultou da entrada em vigor da lei da fiscalidade verde. 

«A APED promove, junto dos seus associados, a adoção de medidas que contribuam para o cumprimento das metas definidas na Estratégia Europeia dos Plásticos para 2030 e para padrões de consumo e produção mais sustentáveis. As empresas associadas têm vindo a colaborar de forma significativa para este desígnio, através de um leque alargado de soluções, diversificadas e complementares entre si», salienta. 

Já a Renova lançou no mercado inglês, e vai estender até ao final de setembro aos diversos mercados onde opera, uma nova gama de produtos com embalagem em papel substituindo o plástico – resposta a uma expetativa crescente dos cidadãos em todo o mundo. 

Também a Disney anunciou recentemente que a partir de meados de 2019 vai deixar de usar palhinhas de plástico nos seus espaços a nível mundial, prevendo uma redução anual de mais de 175 milhões de palhinhas. A marca norte-americana também vai passar a usar mais produtos reutilizáveis nos quartos dos hotéis e cruzeiros, reduzindo o consumo de plástico em 80%. Também irá usar menos sacos de plástico nas lojas e oferecerá sacos reutilizáveis ao preço de um saco convencional. A Disney adianta ainda que vai deixar de usar copos de plástico. 

Já no Ikea, produtos como palhinhas, pratos, copos, sacos de congelação ou sacos do lixo vão deixar de ser vendidos até 2020. Durante os próximos dois anos, a cadeia sueca quer eliminar todos os itens de plástico descartável nas suas lojas. A medida faz parte da estratégia da marca para o desenvolvimento de um modelo de negócio mais sustentável. 

União Europeia 

Bruxelas também quer declarar guerra aos desperdícios de plástico e pretende acabar com o plástico descartável até 2030.

O objetivo é que, até essa data, todo o tipo de embalagens e empacotamento sejam feitos com recurso a materiais reutilizáveis ou recicláveis. No entanto, a estratégia europeia para os plásticos tem em conta “uma razão económica de peso” para seguir esse caminho e que a Europa deve estar na vanguarda da reciclagem e reutilização de materiais, criando “novas oportunidades de investimento e novos postos de trabalho” numa indústria que emprega 1,5 milhões de pessoas e move 340 mil milhões de euros. 

A Comissão Europeia quer tornar a reciclagem mais rentável para as empresas e defende que a União Europeia deve fazer novas normas para embalagens, tornando o plástico utilizado mais reciclável e aumentando e melhorando a recolha para poupar «cerca de cem euros por cada tonelada de resíduos recolhida». 

A criação de 200 mil empregos no setor de triagem e reciclagem é outra das metas que devem ser alcançadas até 2030. Ao mesmo tempo, estão previstos 100 milhões de euros adicionais para financiar «a criação de materiais plásticos mais inteligentes e mais recicláveis, o aumento da eficiência do processo de reciclagem e o rastreio e eliminação de substâncias perigosas e contaminantes de plásticos reciclados». 

«Se não mudarmos a forma como produzimos e utilizamos os objetos de plástico, em 2050 haverá mais plástico do que peixes nos nossos oceanos», já argumentou o responsável pelo desenvolvimento sustentável e vice-presidente da comissão, Frans Timmermans. 

Fonte: I Online