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Revista TecnoAlimentar

Atividade antioxidante de diferentes infusões de plantas

Nos últimos anos tem crescido consideravelmente a preocupação dos consumidores no tipo de alimentação praticada. Devido a essa nova forma de pensar, a indústria agroalimentar tem disponibilizado um número cada vez maior de produtos associados a efeitos benéficos para a saúde e bem-estar. 

Infusões antioxidantes

Por: Anabela Costa1, M. Antónia Nunes1, Nádia Baptista1, Luís Miguel Cunha1,3, Rita C. Alves1,2 e Beatriz Oliveira1

Nesta linha, as infusões à base de plantas são bastante apreciadas, não só pelas suas características organoléticas, mas também pelas suas propriedades antioxidantes.

Para realizar este trabalho, selecionaram-se vários tipos de plantas, disponíveis no mercado, e vulgarmente utilizadas para preparar infusões, casos da cavalinha, cidreira, chá verde, funcho, hipericão, sene e tília. Prepararam-se as infusões e determinaram- se os teores em compostos fenólicos e flavonoides totais, assim como a atividade antioxidante das bebidas. O chá verde apresentou o maior teor de compostos fenólicos totais, flavonoides e poder redutor, seguido da infusão de cidreira.

O interesse dos consumidores por uma alimentação saudável tem aumentado consideravelmente. É importante salientar que a noção de “alimentação saudável” tem sofrido alterações ao longo do tempo. Se, ainda recentemente, passava por se evitar o consumo de alimentos calóricos, ricos em sal e gordura, hoje em dia possui uma definição mais abrangente que inclui, ainda, o conceito de “prevenção”, ou seja, evitar e/ou retardar o aparecimento de doenças pela ingestão de alimentos ricos em componentes funcionais.

De facto, nos últimos anos, foram crescentes as informações provenientes de investigações em todo o mundo sobre o impacto positivo da alimentação na saúde humana. Tal possibilitou uma maior compreensão da atividade oxidante/antioxidante em relação ao processo de envelhecimento e ao desenvolvimento de doenças como as doenças cardiovasculares, diabetes tipo II, cancro, entre outras.

As plantas medicinais e seus derivados foram, durante séculos, a base da medicina tradicional. O uso correto das plantas pela população implica um conhecimento capaz de selecionar a planta medicinal adequada no que toca à eficácia e segurança terapêutica, sendo a escolha baseada em tradições, conhecimentos populares e validações científicas. O estudo da atividade antioxidante da flora Mediterrânica é um tema em grande desenvolvimento, uma vez que existem cerca de 10 000 espécies de plantas com propriedades muito diversificadas (ex: digestivas, relaxantes, anti-inflamatórias, diuréticas, entre muitas outras).

Neste trabalho, selecionaram-se várias plantas medicinais, disponíveis no mercado português, vulgarmente utilizadas para a preparação de infusões. Foram analisados os teores totais em compostos fenólicos e flavonoides das respetivas bebidas, assim como efetuada a comparação dos resultados obtidos.

Material e Métodos

Amostras

As plantas medicinais foram adquiridas em supermercados e ervanárias da área metropolitana do Porto. As amostras selecionadas foram: planta e sementes de cavalinha (Equisetum arvense L.), cidreira (Melissa officinalis L.), duas espécies de hipericão (Hypericum perforatum L. e Hypericum androsaemum L.), tília (Tilia europaea L.), chá verde (Camelia sinensis (L.) Kuntze) e funcho (Foeniculum vulgare Mill.) e folhas e folículos de sene (Cassia angustifolia Vahl.).

Na preparação das infusões seguiramse, exatamente, as indicações do fabricante. Depois de preparadas, foram rapidamente arrefecidas e armazenadas a -20 °C até ao momento das análises.

Avaliação dos compostos bioativos e da capacidade antioxidante

As análises foram efetuadas num leitor de microplacas (SinergyTM HT, Biotek) de 96 poços.

Os compostos fenólicos totais foram determinados espetrofotometricamente de acordo com a metodologia de Folin-Ciocalteu, descrita por Singleton et al., com algumas modificações. Resumidamente, a 500 μL de amostra adicionaram-se 2,5 mL de reagente Folin-Ciocalteu (1:10) e 2 mL de Na2CO3.10H2O (7,5% m/v). A mistura foi incubada a 45 °C, protegida da luz, durante 15 min.

Após 30 min. à temperatura ambiente, realizaram-se as leituras de absorvência da mistura a 765 nm. Construiu-se uma curva de calibração com ácido gálhico (0-150 mg/L, r= 0,999). Os resultados foram expressos em mg de equivalentes de ácido gálhico (EAG) por 100 mL de bebida.

Os flavonoides totais foram determinados de acordo com Costa et al.. A 1 mL de amostra adicionaram-se 4 mL de água e 300 μL de NaNO2 5% (m/v). Após 5 min., adicionaram-se 300 μL de AlCl3 (10% m/v) e, após 1 min., adicionaram-se 2 mL de NaOH (1 M), completando-se o volume até 10 mL. As leituras de absorvência da mistura final foram realizadas a 510 nm. Construiu-se uma curva de calibração com catequina (0-100 mg/L, r= 0,999). Os resultados foram expressos em mg de equivalentes de catequina (EC) por 100 mL de bebida.

O poder redutor das amostras foi analisado de acordo com o procedimento descrito por Pulido et al. [8] com algumas modificações. A 90 μL de amostra, adicionaram-se 270 μL de água e 2,7 mL de reagente FRAP. A mistura foi mantida a 37 °C, durante 30 min. As leituras de absorvência foram efetuadas a 595 nm. Foi construída uma  curva de calibração usando sulfato de ferro (II) heptahidratado (FeSO4·7H2O) (2 mM) como padrão (70-556 mg/L, r=0,998). Os resultados foram expressos em mg de equivalentes de sulfato ferroso (ESF) por 100 mL de produto.

A atividade anti-radicalar foi determinada de acordo com Costa et al. [7]. A 14 μL de amostra, adicionaram-se 186 μL de uma solução etanólica de DPPH• (9,3 × 10-5 M). A mistura foi homogeneizada e realizaram-se as leituras de absorvência a 525 nm, após 40 minutos. Construiu-se uma curva de calibração usando trolox como padrão (0- 125mg/L, r=0,999). Os resultados foram expressos em mg de equivalentes de trolox (ET) por 100 mL de bebida.

Análise estatística

Para cada amostra, prepararam-se infusões em duplicado e as análises de cada bebida foram efetuadas também em duplicado. Os resultados foram expressos em média + desvio padrão (n=4). Todos os testes estatísticos foram realizados tendo em consideração um nível de significância de 5% (IBM SPSS Statistics 20). Os dados foram analisados relativamente à homogeneidade da sua variância, seguindo-se uma ANOVA a um fator. Nos casos em que se observaram diferenças significativas, usou-se o teste de Tukey (HSD, honest significant difference) para comparação das médias individuais.

Resultados e discussão

O chá verde apresentou o teor mais elevado (p<0,05) de compostos fenólicos totais (135 mg EAG/100 mL), seguida da infusão de cidreira (107 mg EAG/100 mL). As infusões de cavalinha e tília apresentaram teores significativamente inferiores: 3 mg e 4 mg EAG/100 mL, respetivamente. Estes resultados são concordantes com o já descrito na literatura.

Em relação aos flavonoides totais, as infusões de cidreira e chá verde distinguem-se novamente com teores superiores às restantes amostras (54 e 22 mg EC/100 mL, respetivamente), enquanto as de cavalinha e tília apresentaram ambas teores inferiores a 3 mg EC/100 mL.

Os resultados relativos à atividade antioxidante das infusões analisadas mostram o poder antioxidante por redução do ião férrico (FRAP) e a capacidade de inibição do DPPH•. Estes métodos de avaliação da capacidade antioxidante diferem entre si, nomeadamente no que respeita aos mecanismos e condições de reação. Uma vez que as plantas são matrizes com uma composição química bastante complexa, é recomendável que, para efetuar a análise da atividade antioxidante total, se utilizem pelo menos dois ensaios com mecanismos de reação química diferentes e, se possível, complementares.

Com base nas reações químicas envolvidas, a maioria dos ensaios para avaliação da capacidade antioxidante podem ser classificados em duas categorias principais: aqueles cujo mecanismo tem por base a transferência de átomos de hidrogénio ou os que se baseiam na transferência de um eletrão. Neste trabalho, optou-se por utilizar um método que pertence a este último grupo (ensaio FRAP) e um que pode atuar por ambos os mecanismos (inibição do DPPH•).

A infusão com o maior poder redutor (p<0,05) foi a de chá verde (931 mg ESF/100 mL), seguida pela de cidreira (667 mg ESF/100 ml). Os resultados das restantes amostras revelaram-se relativamente homogéneos, e com um perfil semelhante ao observado para o teor em compostos fenólicos totais. Aliás, a correlação obtida entre os resultados desses dois ensaios é bastante elevada (r=0,9748).

Relativamente à capacidade de inibição do DPPH•, os resultados foram bastante homogéneos entre todas as amostras, variando entre 4 e 10 mg ET/ 100 mL. Neste caso, e ao contrário do observado em todos os outros ensaios, o chá verde e a infusão de cidreira foram as que apresentaram os valores mais baixos. 

De forma semelhante, embora com valores mais baixos, observou-se uma correlação positiva entre o teor em flavonoides totais e o poder redutor (r=0,698) e uma correlação negativa entre o teor em flavonoides totais e a capacidade de inibição do radical livre (r=-0,634).

As diferenças encontradas entre os dois ensaios para determinação da atividade antioxidante, mostram que, apesar de o chá verde e a infusão de cidreira serem mais ricas em compostos fenólicos e flavonoides que as restantes amostras analisadas, nestas últimas existem outro tipo de fotoquímicos com atividade antioxidante.

Conclusão

Entre as infusões de plantas simples, de forma global, o chá verde e a cidreira destacaram-se em praticamente todos os ensaios, com a exceção do ensaio da capacidade inibidora do radical livre DPPH•.

O facto de não ter sido encontrada uma correlação positiva entre o teor de compostos antioxidantes e os resultados destem último ensaio, sugere que outros antioxidantes que não foram quantificados neste trabalho sejam responsáveis pela atividade antioxidante das restantes infusões.

Nota: Artigo publicado originalmente na Tecnoalimentar 2

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