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Revista TecnoAlimentar

"A indústria portuguesa tem de acelerar este processo de transformação digital", afirma Miguel Fernandes

Miguel Fernandes, tem 46 anos, é natural de Santo Tirso e o gosto pela natureza e pelas ciências fizeram-no seguir Engenharia Zootécnica, na Universidade de Trás-os-Montes. De seguida, decidiu aliar os estudos a uma experiência internacional e viajou até à Holanda, onde se especializou em Engenharia Agroindustrial. Atualmente é CEO da Foodintech, uma empresa que criou um software que controla toda a produção fabril. Em entrevista à TecnoAlimentar fala da sua história, dá-nos a sua visão sobre o setor agroalimentar, os desafios que tem ultrapassado e dos projetos futuros.

TECNOALIMENTAR: Quando regressou da Holanda, qual foi o seu caminho até à criação da empresa?

MIGUEL FERNANDES: Regressei a Portugal com garantia de emprego, através de um estágio que tinha realizado, como representante de uma indústria para trading de carne suína. Apesar do salário graúdo que recebia, comparativamente aos salários portugueses, não foi uma fase feliz. Senti que a minha função como trader era redutora e pouco tinha a ver com o papel de engenheiro. Apesar de tudo, foi nesta atividade que acabei por estabelecer uma rede de contactos e com eles novas oportunidades e propostas acabaram por surgir. Fui diretor de produção e qualidade numa indústria de carnes onde, em paralelo, frequentei um MBE (Master Business Engineering) na Universidade Católica. Nesta posição, percebi que a maior parte do meu tempo era consumido a lidar com questões que envolviam procedimentos com necessidade de informação documentada (na altura, em papel). Isto motivou a que desenvolvesse ferramentas alternativas, com vista à desmaterialização destes sistemas de controlo e, claro, registo. Foi assim que, há 14 anos, surgiu a Foodintech. O projeto apenas começou comigo e um programador, hoje em dia meu sócio.

TA: Como surgiu a Foodintech?

MF: A Foodintech foi criada em 2008 e vem apoiada num projeto – o projeto Neotech, de 2004. Esse projeto deu algum aporte financeiro para constituir a empresa e recrutar os primeiros elementos, que ainda hoje cá estão. Basicamente, davam-nos dinheiro para nós materializamos uma ideia, ou um produto, e criarmos a empresa. O objetivo era criar um software de controlo total da produção nas suas diferentes perspetivas e dimensões: qualidade, segurança alimentar, produção, rastreabilidade, entre outros. Este software tem agora década e meia de desenvolvimento. Hoje somos líderes na agroindústria em software MES (Manufacturing Execution System).

TA: A evolução da Foodintech foi acompanhada com o crescimento da equipa. Quantas pessoas emprega atualmente? 

MF: A nossa empresa tem, neste momento, 27 pessoas, com idades médias entre os 28 e os 30 anos. A empresa está dividida em quatro departamentos: o departamento comercial, o departamento de implementação – constituído por engenheiros funcionais, o departamento de suporte e o departamento de desenvolvimento do software FLOW M e camadas de integração. Temos mais de 100 clientes em seis países, maioritariamente agroindustriais. Temos mais de 100 000 horas de consultadoria de implementação do nosso software e temos mais de 150 000 horas acumuladas de desenvolvimento da tecnologia. Este desenvolvimento é, neste momento, um desenvolvimento colaborativo, isto é, nós colaboramos com os nossos clientes na definição de road map de desenvolvimento da tecnologia, de acordo com boas práticas industriais.

TA: Como funciona a vossa solução?

MF: Ela tem por base um conceito. O conceito passa por interpretar uma indústria, que tem um fluxograma de atividades, em processos. Basicamente, é como se dividíssemos uma fábrica em pequenas fábricas. Este objeto de processo é algo íntimo da nossa aplicação. Ele interpreta os mais variados processos, desde a receção até ao processo de embalamento, que constitui o produto final, passando em seguida para o processo de picking, (montagem de encomenda), e o processo de expedição. Seja qual for a indústria, dentro daquilo que é a produção discreta, produção repetitiva de produtos, o conceito é sempre o mesmo. Diferentes indústrias usam a mesma aplicação. O código de programação é o mesmo. O que nós fazemos é parametrizar a aplicação de acordo com as necessidades de cada uma das indústrias, parametrizando os seus requisitos específicos. O que significa que nós não gerimos várias tecnologias, gerimos uma única tecnologia que tem um core e esse core permite ser adaptado a diferentes realidades industriais.

Continue a ler este artigo na Tecnoalimentar nr.33.