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Revista TecnoAlimentar

«“Um cliente, um amigo” é o mote que motiva o fundador e os colaboradores da Delta Cafés»

Texto: Carolina Mateus 

Fotos: Delta Cafés e Gonçalo Villaverde

A Delta Cafés nasceu em 1961. Nesse ano, Rui Nabeiro decide criar a sua própria marca de cafés, conhecedor do mercado do café e empreendedor por natureza, inicia a atividade com apenas duas bolas de torra de 30 kg de capacidade, num pequeno armazém com 50 metros quadrados, em Campo Maior, no Alentejo. Para conhecer melhor a história da empresa, saber os desafios que enfrentam e os hábitos de consumo portugueses, conversámos com Marco Nanita, diretor de marketing da Delta Cafés.

TECNOALIMENTAR: Conte-nos um pouco da história da empresa.

MARCO NANITA: A partir da segunda metade dos anos 70, a estrutura comercial da Delta Cafés consolidou-se de forma decisiva, encarando de forma serena as novas exigências do mercado: desenvolvimento de novos produtos e serviços de qualidade global. É neste contexto que surge, em 1984, a separação da atividade comercial, assegurada pela empresa Manuel Rui Azinhais Nabeiro Lda., da atividade industrial, desenvolvida pela Novadelta S.A., primeira empresa certificada neste setor, em 1994, pelo sistema de normas NP 29002.

Em 1998, a reengenharia no Grupo Nabeiro/Delta Cafés, deu origem à criação de 22 empresas, organizadas por áreas estratégicas para o reforço da atividade principal do grupo. No âmbito da implementação do SAP, como plataforma do sistema de informação de gestão, surge, em 2000, o primeiro projeto de Certificação de Responsabilidade Social em Portugal, sendo a Novadelta a primeira empresa portuguesa com Certificação de Responsabilidade Social SA 8000.

A tudo isto somam-se inúmeros prémios e reconhecimentos, entre eles, o Corporate Conscience Awards, recebido em New York ao lado de Ramos Horta. A Delta Cafés, na pessoa do seu fundador, Manuel Rui Azinhais Nabeiro, transportou para o modelo de negócio a essência relacional da magia do café. O relacionamento entre a Delta e os seus clientes é em todo idêntico ao do homem do balcão e do seu cliente de todas as manhãs, pois aprenderam juntos a confiar e a partilhar a vida no sabor e aroma de uma chávena de café. A isto, a Delta Cafés chamou um Modelo de Gestão de Rosto Humano.

Desde a sua fundação, a Delta assentou em valores sólidos e princípios que se refletiram na criação de uma marca de Rosto Humano, assente na autenticidade das relações com todas as partes interessadas. “Um cliente, um amigo” é o mote que motiva o fundador e os colaboradores da Delta Cafés.

A Delta Cafés tem vindo a fazer uma aposta continuada nos mercados internacionais. As exportações representam 35% do volume de negócio do grupo Nabeiro/Delta Cafés, um valor resultante das relações comerciais do grupo com mais de 40 países.

TA: Como manter uma visão sempre jovem num dos setores alimentares que mais evolui, em termos de marketing e tecnologia do consumo da bebida?

MN: A inovação é um dos principais pilares do Grupo Nabeiro – Delta Cafés, nomeadamente no que diz respeito ao lançamento de novos produtos. Somos ousados. Provocamos a mudança, estamos próximo dos consumidores (e acompanhamos as suas expectativas), criamos tendências, acrescentamos valor e proporcionamos experiências únicas. Estamos atentos às às principais tendências globais, às novas gerações e aos novos hábitos de consumo.

TA: Na sua opinião, a que se deve o sucesso ao longo dos anos?

MN: Estamos sempre atentos, à procura de novos desafios e novas respostas. Ao longo de mais de 60 anos continuamos presentes no dia-a-dia dos consumidores através do desenvolvimento de novos formatos para diferentes momentos de consumo, por via da forte aposta do grupo em inovação e sustentabilidade, e na conceção de novos produtos que respondam e satisfaçam as necessidades dos consumidores. Criamos tendências, acrescentamos valor e proporcionamos experiências únicas. Neste percurso a inovação é fundamental para sustentar o crescimento e para oferecer aos nossos consumidores um portefólio mais diversificado.

TA: Na Delta, o Comendador Manuel Rui Nabeiro ainda é inspirador das novas gerações, a quem tem projetado toda a sua experiência, mas atualmente, quem irá dar seguimento à sua visão?

MN: A natureza familiar do Grupo Nabeiro influencia a cultura de toda a organização, centrando a liderança em valores humanistas que se reflectem no compromisso a longo prazo perante a comunidade, trabalhadores e parceiros.

O cariz desta liderança, a empatia e o carisma do fundador, o Comendador Rui Nabeiro, juntamente com valores muito claros e a visão empreendedora, robusteceram a empresa e foram estas as características que nos fizeram chegar até aos dias de hoje, com uma obra feita e com uma elevada reputação. Até hoje o Grupo Nabeiro preserva os valores desde a origem e, de forma coesa, se tem desenvolvido com uma visão de renovação e de inovação e é desta forma que se pretende continuar a construir o futuro juntos, trabalhando em equipa e com o envolvimento dos colaboradores. 

TA: Como está organizada a Delta atualmente?

MN: O Grupo Nabeiro – Delta Cafés está presente nos mais variados setores: Indústria, Serviços, Comércio, Agricultura, Imobiliário, Hotelaria e Distribuição, organizadas por áreas estratégicas de negócio, que servem de apoio à atividade principal: a comercialização de cafés. O Grupo Nabeiro – Delta Cafés possui ainda nove marcas próprias, Delta Cafés, Delta Q, Adega Mayor às quais se juntam Qampo, Bellissimo, Camelo, Dómúz, Alardo, entre outras, e ainda diversas marcas representadas, entre elas, Corona, Beck’s, Blue, Bud, Franziskaner, Hero, Hoegaarden, Leffe, Löwenbräu, Spaten, Stella Artois e Tetley. TA: Quantas pessoas trabalham no grupo atualmente (direta e indiretamente)? MN: Atualmente trabalham no Grupo Nabeiro cerca de 3 600 colaboradores.

TA: Ao longos dos anos, quais os maiores desafios que tem encontrado? 

MN: Crescer, estar na linha da frente, antecipar tendências e a evolução do mercado têm sido os nossos principais desafios, aos quais temos vindo a responder através da forte aposta em inovação. Fomentamos a cultura de inovação e reinventamo-nos todos os dias. Desafiamo-nos a pensar diferente, promovemos a criatividade, procuramos novas possibilidades e respostas disruptivas. E é essa a nossa visão de empreendedorismo, arriscar, sair da zona de conforto e fazer diferente, diariamente.

O espírito empreendedor é algo que desde sempre valorizamos e que acreditamos que é imprescindível na construção das sociedades do futuro. É um caminho de todos diariamente e somos nós que o fazemos todos os dias. Inovamos 360º: projetamos uma visão circular e dinâmica, de dentro para fora e, de fora para dentro da nossa organização, que contribui para uma liderança sustentada pela inovação. Investimos dentro de casa e vamos buscar o melhor que se faz lá fora. 

A título de exemplo, em outubro de 2022, foi apresentado o conceito de oferecer um café expresso “Perfeitamente ao contrário”, nascido no Centro de Inovação do Grupo – a Diverge – provocada pela procura constante de novas experiências de consumo de café e pela exploração de soluções para novos métodos de extração. A nova Rise Delta Q with Starck proporciona um expresso superlativo. O sistema de extração inovador Made by Delta, e único no mundo, potencia todas as características organoléticas e sensoriais do café, intensifica o paladar e os aromas naturais do café e traz ao de cima um creme persistente, mantendo a temperatura ideal, e proporcionando um expresso perfeitamente ao contrário. Todo o sistema de extração de café foi redesenhado e reconstruído, sendo único nesta indústria. Desafiámos a gravidade e a ordem natural das coisas, criando um caminho inverso ao status quo e um sistema de retenção único para a bebida, que cria uma experiência icónica para o consumidor. Esta forma disruptiva de extração reforça o lado inovador de marca e vem abrir novos horizontes e apresentar novas possibilidades de explorar o mercado do café.

TA: Relativamente aos hábitos de consumo de cafés, quais as tendências? Quais as exigências do consumidor atual?

MN: Os consumidores estão cada vez mais exigentes e procuram novas experiências, dando origem ao surgimento de novas tendências de consumo e neste sentido algumas das inovações lançadas nos últimos anos, como o Slow Coffee, Go Chill by Delta, Delta Q aQtive Coffees, vêm satisfazer as suas necessidades assim como captar novos públicos.

A aposta contínua na inovação de qualidade e que traga valor acrescentado à categoria do café continua a ser um dos nossos objetivos. Reinventar o modo de beber café, oferecendo uma nova forma de estar, através de novos momentos de consumo, para quem procura a diferenciação para expressar a sua individualidade.

TA: Atualmente qual o volume de negócio dos cafés (matéria-prima) no grupo (retalho vs. canal horeca)/ exportação?

MN: A Delta Cafés tem vindo a fazer uma aposta continuada nos mercados internacionais. As exportações representam 35% do volume de negócio do grupo Nabeiro – Delta Cafés, um valor resultante das relações comerciais do grupo com mais de 40 países.

TA: Qual o nível de internacionalização da marca? Quais os mercados internacionais mais desafiantes? Uma visão do balanço dificuldades vs vantagens?

MN: Os mercados internacionais representam 35% do volume de negócios e estamos presentes diretamente em Espanha, França e Luxemburgo, Suíça, Angola, Brasil e China, a que se juntam os outros mercados onde não temos presença física, totalizando mais de 40 países que integram a nossa aposta internacional.

Espanha, onde somos a 3ª marca no canal horeca, e França, onde registámos um crescimento de 22% são dois dos mercados estratégicos, a que se juntam Angola, a crescer na ordem dos 6%, Brasil, com um crescimento de 23% em 2022 e Polónia, onde Delta Q já tem uma quota de 22%, onde estamos presentes através de uma parceria com o grupo Jerónimo Martins.

TA: Quais as prioridades da Delta em investimento futuro?

MN: Temos como objetivo integrar o Top 10 do setor a nível mundial e, para o conseguir, uma das nossas apostas é preparar a nossa fábrica de Campo Maior para suportar o expectável aumento de volume. Temos um plano de investimento, a cinco anos, de 10 milhões na recapacitação da fábrica para efetivarmos o crescimento pretendido. Atualmente a fábrica já torra cerca de 26 milhões de quilos de café e o nosso objetivo é dotar a fábrica com um aumento de produtividade na ordem dos 30%.

TA: Quais as expetativas da empresa para o futuro da fileira em geral? Qual a posição a vossa posição no mercado nacional?

MN: Queremos crescer nos mercados internacionais e chegar ao top 10 das marcas mundiais de café pelo que para conseguirmos alcançar esta meta estamos a realizar investimentos estratégicos na nossa fábrica em Campo Maior, num plano de modernização a 10 anos, que vai dotar esta unidade de uma maior capacidade instalada, não apenas ao nível de máquinas, mas também de armazenamento e processamento de café verde. É um investimento que vai deixar preparada a Novadelta para o futuro e para as novas exigências do mercado Armazenamento de café Delta. nacional e internacional. 

Entrevista publicada na Revista TecnoAlimentar nr. 34