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Revista TecnoAlimentar

Indústria Agroalimentar sinaliza ameaça fiscal

Fipa 4 2014, NETO 5º. Congresso da Indústria Portuguesa Agroalimentar, realizado terça-feira no Convento do Beato, em Lisboa, permitiu partilhar experiências, elencar dificuldades e alinhar novas linhas de força comuns aos empresários do setor. A necessidade de estabilidade fiscal, maior rapidez no processo de criação do anunciado Banco de Fomento e o reforço dos esforços de internacionalização dominaram as intervenções.

Na intervenção inaugural perante mais de duas centenas e meia de empresários, gestores e profissionais ligados ao setor agroalimentar, o presidente da Federação Portuguesa das Indústrias Agroalimentares (FIPA), Jorge Tomás Henriques, assinalou o esforço exportador das empresas do setor e revelou-se otimista com o futuro, mas não deixou de referir a “permanente ameaça de impostos camuflada com preocupações ambientais, que produz incerteza permanente e afasta investimento nacional e estrangeiro numa indústria que é a menos poluente da Europa”.

“O IVA tem retirado competividade às nossas empresas e no orçamento para 2015 existem sectores agroindustriais, caso do cervejeiro, que vêm muito aumentada a sua carga fiscal”, referiu o presidente da FIPA.

Organizado sob o tema “Competitividade e Crescimento”, congresso incluiu vários painéis de debate sobre temáticas relacionadas com os desafios da economia e contou com a participação, entre outros, do presidentes da CIP, António Saraiva, António Lobo Xavier, o antigo ministro Daniel Bessa e os secretários de Estado José Diogo Albuquerque e Leonardo Mathias, respetivamente titulares das pastas da agricultura mar e da Economia.

A indústria alimentar e de bebidas é o maior setor industrial português, com um volume de negócios de quase 15 mil milhões de euros. Este ano deverá exportar 5 mil milhões.

 

Fipa 3 2014, NET

Daniel Bessa: Fiscalidade verde pode não ser uma má medida

Daniel Bessa, antigo ministro da Economia e atual diretor-geral da COTEC Portugal (Associação Empresarial para a Inovação), considera que o conjunto de medidas que o novo orçamento prevê em termos de tributação orientada para a sustentabilidade, um pacote já conhecido como‘fiscalidade verde’, “não sendo positivo do ponto de vista da competividade, não pode ser catalogado como umamá medida”.

Em declarações às revistas AGROTEC e TecnoAlimentar, no decorrer do 5º. Congresso da Indústria Portuguesa Agroalimentar, que decorreu terça-feira, no Convento do Beato, em Lisboa, Daniel Bessa mostrou-se alinhado com as tendências de defesa do ambiente, mas recusou “crucificar” a fiscalidade verde.

“Não há dúvida que o Mundo enfrenta problemas que podem ser moderados e esta fiscalidade verde pretende induzir em nós comportamento mais sustentáveis na defesa do planeta a longo prazo. A grande questão é que isso não seja feito em todo o lado, ao mesmo tempo e ao mesmo ritmo”, referiu o presidente da COTEC.

O antigo ministro da Economia, Indústria, Comércio e Turismo do governo liderado António Guterres, considera que, apesar do percalço que representa o novo pacote de tributação, “a fiscalidade das empresas tem hoje um enquadramento que resulta da revisão do código do IRC que tem sido entendido como globalmente favorável, pois estabelece uma trajetória de decréscimo da carga fiscal sobre as empresas”.

 Daniel Bessa, COTEC, NETDaniel Bessa

 

Agroalimentar: Secretário de Estado desafia empresários a aproveitarem incentivos

 

Leonardo Mathias, Secretário de Estado Adjunto e da Economia, desafiou os empresários do setor agroalimentar a aproveitarem intensivamente os “apoios disponibilizados pelo governo,as viagens do ICEP, os apoios para presença em feiras e os programas de incentivo à internacionalização”.

“É muito importante o trabalho que a Federação Portuguesa das Indústrias Alimentares e os empresários têm feito. Agora é preciso aproveitar este debate que o Governo também queira desenvolver, para abrir as asas, para irem nas viagens de empresários, para irem às feiras, para aproveitarem ao máximo o que o Governo lhes pode dar”, referiu o secretário de Estado em declarações às revistas AGROTEC e TecnoAlimentar, à saída do 5º. Congresso da Indústria Portuguesa Agroalimentar, que se realizou terça-feira, no Convento do Beato, em Lisboa.

“O setor agroalimentar exportou este ano mais do que a indústria dos combustíveis, a indústria de metais, plásticos ou do vestuário. Trata-se de um setor extremamente dinâmico que através da inovação, da criatividade e da distribuição, está a desenvolver-se de uma forma rápida”, acrescentou Leonardo Mathias.

O titular da secretaria de Estado está confiante que os números da exportação se vão manter face às espectativas do aumento do consumo e aos valores positivos do investimento, que no primeiro trimestre do corrente ano cresceram 4% em relação ao período homólogo de 2013.

“Esta fasquia tem que se manter. O setor está a desenvolver-se, a redefinir e a reinventar as suas estratégias tendo esse objetivo como pano de fundo. Hoje, qualquer plano de negócios, independentemente da dimensão da empresa, contém logo um ingrediente de exportação”, considera Leonardo Mathias.

Confrontado com a preocupação fiscal que muitos empresários e gestores manifestaram ao longo do evento, o secretário de Estado Adjunto e da Economia assegurou que“é importante manter a trajetória firme de consolidação orçamental para que a economia esteja saudável, possa captar mais investimento e com isso atrair mais empresas e criar mais emprego”.

 

 

Eça de Queiroz teria sido um mau empresário

 

Leonardo Mathias, secretário de Estado Adjunto e da Economiacitou Eça de Queiroz para elogiar a resiliência dos empresários portugueses do setor durante estes anos de difícil situação económica.O governante falava na sessão de encerramento do 5º. Congresso da Indústria Portuguesa Agroalimentar, que se realizou terça-feira no Convento do Beato, em Lisboa.

“Eça escreveu que ‘a agricultura é a arte impassível de assistir ao trabalho da natureza’. Não há dúvida que era bom escritor, mas seria um péssimo empresário. Se há algo que a FIPA e os empresários não têm sido é impassíveis”, referiu o secretário de Estado no discurso de encerramento do evento.

Leonardo Mathias assinalou o a participação da indústria agroalimentar na evolução positiva do cenário macroeconómico do país e no conjunto das exportações de bens e serviços, que entre janeiro e Agosto deste ano atingiram um total de 72 mil milhões de euros.

“Há 20 anos, o mercado era restringido, pouco inovador e pouco concorrencial. Nestes anos soube progredir, tornar-se seguro e mais amigo do consumidor”, destacou o governante, elogiando os avanços que conseguidos no âmbito da Plataforma e Acompanhamento das Relações na Cadeia Agroalimentar (PARCA),em termos de equilíbrio e transparência de mercado.

 

DECO: Estado deve apoiar produtos em risco de extinção

 

Jorge Morgado, Secretário-geral da DECO, defende que o Estado deve criar incentivos para ajudar produtos alimentares tradicionais que estão em risco de desaparecer.

“O Estado precisa de ter programação e planeamento e precisa de induzir produção intervindo positivamente, ou seja, criar incentivos para que determinados produtos que estão a desaparecer, consigam sobreviver. No fundo é induzir pela positiva em favor dos consumidores”, disse Jorge Morgado às revistas AGROTEC e TecnoAlimentar, no decorreu do 5º. Congresso das Indústria Portuguesa Agrolimentar, que decorreu terça-feira no Convento do Beato, em Lisboa.

“Muitas vezes temos consciência que os produtos de pequena produção e de produção regional não aparecem tanto no mercado porque é a grande escala que marca o ritmo. É uma pena, em termos de economia nacional, local, familiar e até em termos de uma certa tradição cultural que está intimamente ligada a alguns desses produtos”, referiu o responsável da DECO.

Jorge Morgado deu como exemplo uma experiência realizada por uma cooperativa agrícola sobre a recuperação das diferentes qualidades de maçã portuguesa.

“Dizem-me que temos uma das maiores diversidades e riqueza no Mundo, nesta área, mas a verdade é que ao consumidor só chegam apenas três ou quatro tipos de maçã. Muitas vezes temos consciência que os produtos de pequena produção e de produção regional não aparecem tanto no mercado porque é a grande escala que marca o ritmo. É pena em termos de economia nacional, local, familiar e até em termos de uma certa tradição cultural que está intimamente ligada a alguns desses produtos”, salientou o Secretário-geral da DECO, lamentando igualmente a falta de uma campanha e educação alimentar.

“A última grande campanha de educação alimentar que se fez em Portugal era o professor Veiga Simão Ministro da Educação. Foi última vez que o sistema educativo português realizou uma iniciativa de grande dimensão, quando introduziram a roda dos alimentos que depois deu origem à pirâmide dos alimentos. A escola tem feito algumas coisas e a DECO tem estado muito ligada a essas iniciativas, mas não há aqui uma intervenção de fundo, à escala nacional, relativamente à educação alimentar”, concluiu Jorge Morgado.

 

António Casanova: Há excesso de regulação no mercado

 

António Casanova, CEO da Unilever/Jerónimo Martins, considera que o mercado alimentar está sujeito a um excesso de regulamentação que tem menos a ver com garantias de segurança mas resulta sobretudo de uma certa atitude cultural.

Em declarações às revistas AGROTEC e TecnoAlimentar, no decorrer do 5º Congresso da Indústria Portuguesa Agroalimentar, que se realizou terça-feira, no Convento do Beato, em Lisboa, o gestor lamenta que em Portugal se regulamente em excesso e dá o exemplo do que acontece com dos concessionários da Olá, a marca de gelados que faz parte do portefólio da Unilever Jerónimo Martins.

“Estão sujeitos às mesmas regras aplicadas aos transportes de longo curso. Ou seja, cada 4 horas têm que parar 45 minutos. Ora, um distribuidor de gelados para, em cada hora, pelo menos, 10 a 15 minutos, se somarmos os tempos em que estaciona o veículo e vai entregar o produto. Obviamente que a regra foi pensada para transporte público e não para uma distribuição de mercadorias”, queixa-se António Casanova.

“Num sentido mais geral, qualquer entidade que tenha a capacidade de regular tem quase sempre a tentação de regular sobre tudo. Esta constatação atravessa todos os governos, não este em particular, embora eu tivesse gostado de ver nesta legislatura o Estado mais retirado da atividade de regulação excessiva”, refere o CEO da Unilever jerónimo Martins.

O gestor foi um dos participantes do painel “responder aos desafios da Economia”, integrado no Congresso organizado por a Federação Portuguesa das Indústrias Portuguesas Agroalimentares.

Na sua intervenção, António Casanova No decorrer de uma mesa redonda no âmbito do Congresso das Indústrias Alimentares, António Casanova salientou o comportamento de mercado das chamadas “marcas brancas” ou “marcas da distribuição”: “neste período económico difícil, as marcas de distribuição aumentaram a oferta e a penetração no mercado, mas, ao mesmo tempo, fomos puxando pelas marcas premium”.

Questionado sobre a questão da inovação, Casanova salientou “que existe quase tanta inovação neste setor económico das marcas da distribuição como nas marcas premium, embora não seja tão visível no primeiro caso”.

 

 

António Lobo Xavier: “engenharia” torna esquizofrénica a política fiscal

António Lobo Xavier considera que a “engenharia fiscal em vários sectores tem tornado esquizofrénica a política fiscal”. O conhecido advogadofalava durante o 5º Congresso da Indústria Portuguesa Agroalimentar, que se realizou terça-feira, no Convento do Beato, em Lisboa.

“Todos os dias temos ameaças de novas invenções fiscais em todos os sectores. Os políticos até acham que criara uma taxa não é tão grave como criara um novo imposto, mas para os empresários a diferença é apenas semântica”, considerou o orador.

Ainda assim, Lobo Xavier, que presidiu à comissão para reforma do IRC, cujo relatório serviu ao Governo para reduzir a carga fiscal sobre o lucro das empresas, considerou que a estratégia do Governo em matéria de economia tem sido objetiva e “alinhada com o que são os objetivos das empresas”

“Nunca acreditei que os ajustamentos previstos no programa da Troika produzissem uma regeneração brilhante no tecido económico mas também não acreditei que pudéssemos voltar atrás”, declarou o advogado.

António Lobo Xavier assinalou também as mudanças de atitude nos empresários portugueses, em particular a forma como passaram a olhar para o mercado externo.

“As exportações cresceram 20% desde 2011 e o défice estrutural passou de 10% em 2009, para 2,7% em 2014. É certo que a quebra interna está longe de ser compensada pelas exportações, mas este é o caminho”, defendeu Lobo Xavier.

Fipa 2014, NET

 António Lobo Xavier

António Saraiva: Fiscalidade verde cobra 160 milhões e só usa 17

 

O presidente da Confederação da Indústria Portuguesa, António Saraiva, classifica como “particularmente gravosa” a reforma da fiscalidade verde, o novo pacote tributário que incide sobre o carbono e por essa via agrava os combustíveis e os sacos de plástico.

António Saraiva falava durante o 5º. Congresso da Industria Portuguesa Agroalimentar, que se realizou terça-feira no Convento do beato, em Lisboa.

“Esta fiscalidade verde, ao invés de privilegiar a neutralidade fiscal, prevê o agravamento de tributação em 160 milhões de euros, dos quais apenas 17 serão utilizados na diminuição da poluição”, referiu António saraiva perante uma plateia e empresários, gestores e profissionais ligados à indústria agroalimentar.

O presidente da CIP disse que a “a taxa vai agravar os preços da energia e repercutir-se negativamente nos transportes, que são uma área transversal na economia”.

“Prejudica a competitividade das empresas sem qualquer vantagem ambiental”, lamentou António Saraiva.