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Revista TecnoAlimentar

Desenvolvido método que deteta bactéria “Listeria Monocytogenes” em menos de 3 horas

listeria

O projeto Biolisme teve o seu início em 2008, com o objetivo de investigar acerca de novos métodos de controlo da Listeria monocytogenes que permitissem apresentar soluções relativamente às limitações do métodos tradicionais como a baixa taxa de recuperação do microrganismo, a larga duração e a baixa sensibilidade das técnicas de deteção e a necessidade de equipamento e pessoal especializado. Este projeto, com origem em Espanha, conseguiu importantes resultados técnicos, que originaram a criação de um segundo projeto, o Biolisme II, cujos resultados permitiram apresentar no mercado um laboratório móvel capaz de detetar a bactéria em apenas 3 horas.

Dois especialistas espanhóis, Sonia Porta, técnica do laboratório de Bioensayos do Centro Tecnológico Ainia, e Fernando Lorenzo, responsável do Departamento Técnico e de Investigação da Betelguexexplicaram aos parceiros editoriais da TecnoAlimentar em Espanha, a Interempresas, em que consiste este desenvolvimento.

A Listeria monocytogenes é a bactéria que provoca a listeriose e se introduz no organismo aquando do consumo de alimentos contaminados com esta bactéria. Trata-se de uma das infeções tóxicas alimentares com mais risco para a saúde pública, especialmente para aqueles setores da população mais vulneráveis como os idosos, grávidas, crianças o indivíduos com o sistema imunitário pouco resistente.

Quais são os sintomas da listeriose?

Podem ir desde febre, forte dor de cabeça, dores musculares, náuseas e vómitos até outros muito mais graves, como o aborto no caso das mulheres grávidas ou desidratação e sepsia em crianças e idosos.

Como é que esta bactéria aparece?

A Listeria Monocytogenes é um microrganismo ubíquo que reside na terra, água, equipamentos industriais e numa grande variedade de alimentos, por isso ela é muito comum na indústria alimentar, e pode ser encontrada em produtos tanto de origem vegetal como animal. Para além disso, os ambientes húmidos e a sua rápida capacidade de crescimento, inclusivamente em temperaturas de refrigeração e na ausência de oxigénio, favorecem o crescimento desta bactéria em superfícies de materiais plásticos ou de aço inoxidável como mesas, solos, cortadoras ou câmaras refrigeradas.

Como se pode evitar?

Principalmente, mediante uma boa higienização das instalações e mediante controlos microbiológicos das superfícies, visto estas poderem ser vias de contaminação dos alimentos durante as fases de processamento e manipulação. Para além disso, é necessário termos um cuidado extremo com a higiene do pessoal que integra a cadeia de valor da indústria alimentar.

E através da congelação?

Não, a congelação não destrói as bactérias, inclusivamente pode até favorecer o crescimento bacteriano e acelerar o seu desenvolvimento, pelo que é também importante manter um controlo da temperatura dos alimentos durante o armazenamento, descongelação, preparação, etc.

Participaram no desenvolvimento de um laboratório móvel que deteta Listeria monocytogenes com rapidez. Em que consiste exatamente?

Trata-se de um laboratório móvel, ou seja, uma equipa que integra de forma automatizada todas as fases de análise, capaz de detetar Listeria monocytogenes em menos de 3 horas em superfícies lisas em contacto com alimentos e, por isso, suscetíveis de estarem contaminadas.

É constituído pelo quê?

Contém um dispositivo de amostragem e um sistema de deteção de Listeria. O dispositivo de amostragem permite a recolha das bactérias presentes na superficie, para isso, o sistema emprega uma mistura de ar e água. Posteriormente, o equipamento é capaz de separar de forma precisa a Listeria do resto dos compostos e microrganismos da amostra. Finalmente, realiza-se a deteção da Listeria monocytogenes no mesmo dispositivo, de forma rápida e efetiva.

A quem se dirige este desenvolvimento?

A todas as empresas da indústria agroalimentar, visto que irá supor uma poupança no tempo de controlo microbiológico das condições higiénicas das superfícies, mas também irá traduzir-se numa maior segurança alimentar dos produtos finais que chegam ao consumidor.

Que tecnologias estão incorporadas?

O dispositivo utiliza um método inovador que se baseia numa reação imunoquímica que permite separar e detetar a Listeria monocytogenes, através de biosensores e processos de automatização e obter taxas de deteção deeste patógeno muito altas. Para além disso, tem a particularidade de integrar num mesmo dispositivo todas as operações que são levadas a cabo num processo de controlo ambiental: amostragem, homogeneização e preparação da amostra num líquido e separação e deteção da bactéria.

Os investigadores defendem que, através da utilização dos métodos tradicionais, são necessários entre 2 a 5 dias para detetar o patógeno, o que faz aumentar o risco de que os alimentos cheguem contaminados ao consumidor.

No laboratório móvel, para a deteção do patógeno, o sistema utiliza anticorpos que se unem de forma específica à Listeria monocytogenes. Estes anticorpos levam juntos partículas magnéticas, pelo que permitem por sua vez separar a L. monocytogenes do resto dos compostso e bactérias da amostra. É o que se conhece por separação imunomagnética. Nesta fase de deteção são também acrescentadas partículas fluorescentes junto aos anticorpos, o que permite evidenciar a presença de Listeria na amostra em função da intensidade de luz emitida.