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Revista TecnoAlimentar

Comparação de alimentos com e sem glúten no mercado português

Texto por: Beatriz Ferreira¹ Bruna Pinheiro¹ Diogo V. Martinho¹ João Lemos¹ Ana Lúcia Baltazar²

¹ Licenciatura em Dietética e Nutrição Escola Superior de Tecnologia da Saúde Instituto Politécnico de Coimbra

² Departamento de Dietética e Nutrição Escola Superior de Tecnologia da Saúde Instituto Politécnico de Coimbra

RESUMO

Os benefícios dos alimentos sem glúten, associados à doença celíaca, estão inequivocamente descritos na literatura. No entanto, o consumo de alimentos isentos de glúten é frequente na população em geral por razões de bem-estar e com benefícios nas perdas de peso. O objetivo do presente estudo é comparar os alimentos com e sem glúten relativamente às componentes nutricionais e ao custo. Os alimentos considerados (n=57) foram pesquisados em diferentes superfícies comerciais e organizados em oito categorias (com e sem glúten): biscoitos e bolachas, farinhas, tostas, pão, massa, cereais de pequeno-almoço, pizza e cerveja.

Para além do custo, a energia, lípidos, ácidos gordos saturados, hidratos de carbono, açúcares simples, fibra, proteínas e sal foram considerados na comparação por grupos. O teste Mann-Whitney foi usado para testar as diferenças entre alimentos com e sem glúten. Os resultados não revelaram diferenças significativas nos parâmetros analisados com exceção do valor proteico no pão (com glúten: 9.01±1.03; sem glúten: 3.6±0.32, p <0.05). Relativamente ao custo dos produtos isentos de glúten foram em média, mais elevados, do que nos produtos com glúten. Os resultados foram no geral, consistentes com aqueles reportados em mercado italiano, o que indica que não existem benefícios na ingestão dos indivíduos sem restrição de glúten.

INTRODUÇÃO

O glúten constitui a principal fonte proteica de determinados cereais - trigo, centeio, cevada e aveia (Ramalho, 2007), conferindo-lhes viscoelasticidade (Fry, Madden, & Fallaize, 2018) sendo consequentemente responsável pela estrutura integral e palatabilidade dos alimentos. No entanto, os efeitos adversos do glúten, por ação das prolaminas, são extensivamente associados à doença celíaca (Mazzeo, Cauzzi, Brighenti & Pellegrini, 2015; Taetzch et al., 2018), caracterizada por uma absorção diminuída de macronutrientes e micronutrientes. Em Portugal, um estudo com adolescentes de 13-14 anos, evidenciou uma taxa de prevalência de doença celíaca de 1 em cada 134 jovens (Antunes, 2002), contabilizando uma percentagem mínima da população Portuguesa (Antunes, 2006; Lusa, 2019). Dada a baixa taxa de prevalência de doença celíaca em Portugal, seria esperado um consumo reduzido de produtos isentos de glúten, porém as vendas deste produto incrementaram, aproximadamente 20%, nos últimos anos (Lusa, 2019). Em suma, apesar dos alimentos com glúten não apresentarem efeitos nefastos a longo-prazo (Lebwohl et al., 2017), o seu decréscimo no consumo aparenta estar associado à ausência de literatura que descreva a comparação entre os alimentos com e sem glúten, no mercado português.

As diferenças na composição nutricional, nomeadamente no teor proteico foram verificadas pertencentes ao mercado italiano. Em média, os produtos isentos de glúten têm menor conteúdo proteico, sendo caracterizados por um menor valor nutricional (Cornicelli, Saba, Machello, Silano, & Neuhold, 2018). Adicionalmente, um estudo desenvolvimento no mercado do Reino Unido, reportou diferenças consideráveis no conteúdo de gordura, sal, fibra e proteína nos alimentos com e sem glúten, ainda que tenha sido evidenciada uma variabilidade entre alimentos (Fry et al., 2018).

Em suma, não foram evidenciadas vantagens nutricionais dos alimentos sem glúten comparativamente com aqueles apresentam a mesma proteína. Generalizações e conclusões para produtos ou alimentos em Portugal devem ser feitas com cautela. O objetivo do presente estudo foi recolher, analisar e comparar o valor energético, nutricional e o custo em produtos com e sem glúten, no mercado português.

Continue a ler este artigo na Revista Tecnoalimentar nr. 32.