Investigadores da Católica criam biosílica extraída da cana-de-açúcar
A primeira biosílica extraída da cana-de-açúcar com aplicação na indústria cosmética acaba de chegar ao mercado. A linha de investigação que resultou na criação deste ingrediente – que é lançado, agora, a nível mundial, por uma empresa norte-americana – foi desenvolvida por investigadores do laboratório associado CBQF, da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa (UCP) em conjunto com a empresa Amyris Bioproducts, Lda, no âmbito do projeto Alchemy.
Este é, aliás, o primeiro produto que resulta de um dos maiores projetos de investigação na área da biotecnologia, que se destaca pela aposta na valorização de resíduos em contexto de economia circular e que deriva de uma parceria estratégica entre a UCP, a empresa Amyris Bio Products Portugal e o Governo de Portugal, através da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP).
A biosílica sustentável é obtida a partir de cinzas de cana-de-açúcar, provenientes da queima de subprodutos das indústrias produtoras de açúcar para geração de energia, incluindo as folhas resultantes do processo da colheita da planta e do bagaço, material fibroso obtido após extração do xarope de açúcar.
O novo ingrediente, o primeiro do mundo a ser criado com base em recursos sustentáveis, poderá ser usado, agora, na indústria cosmética, assumindo-se como uma alternativa sustentável e com melhor desempenho à sílica tradicional, extraída da areia, um recurso com intensa exploração no planeta.
Ciência ao serviço da sustentabilidade dos recursos mundiais Mais do que um ingrediente sustentável, a biosílica mostra como a ciência pode ajudar a valorizar o desperdício de qualquer indústria, a salvaguardar a sustentabilidade dos recursos mundiais e, paralelamente, a promover uma “beleza limpa”, ao permitir o desenvolvimento de cosméticos limpos e seguros.
A este nível, refira-se que a indústria da beleza/estética produz milhões de toneladas de resíduos, desde o fornecimento de ingredientes até à criação da embalagem do produto. Saliente-se, ainda, que o produto será comercializado pela Aprinnova, empresa norte-americana líder no campo da biotecnologia aplicada à cosmética sustentável e parceira da Amyris.
Recorde-se que o projeto Alchemy, lançado em 2018, tem como objetivo principal estudar e desenvolver novas aplicações para os subprodutos/resíduos dos processos de fermentação da Amyris e da produção de cana-de-açúcar, potenciando assim o desenvolvimento de novas moléculas de elevado interesse comercial, com destaque para a indústria da cosmética, mas também para nutrição animal e humana, novos materiais e farmacêutica.
O projeto visa, simultaneamente, a promoção da transferência de tecnologia que se traduzirá num crescimento de competitividade das empresas na área da bioeconomia. Acrescente-se, ainda, que este projeto de investigação se materializa num centro de competências de excelência em biotecnologia, promovendo Portugal na linha da frente nas áreas da bioeconomia e economia circular.