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Revista TecnoAlimentar

U. de Aveiro desenvolve embalagem alimentar a partir da batata

À primeira vista, as embalagens alimentares desenvolvidas pela investigadora Idalina Gonçalves na Universidade de Aveiro (UA) parecem-se com as de plástico vulgarmente utilizadas pela indústria alimentar e superfícies comerciais. Mas qualquer semelhança com os materiais sintetizados a partir de derivados do petróleo e que, cada vez mais, constituem um problema ambiental, está apenas no aspeto.

Desenvolvido exclusivamente a partir da batata, o bioplástico da UA para embalar alimentos pretende acabar com a ditadura do plástico sintético. É que, além de ser biodegradável, os ingredientes do novo bioplástico promovem uma melhor conservação dos alimentos quando comparados com os plásticos tradicionais.

Produzidas à base de amido, um dos hidratos de carbono presentes nas batatas e cujas propriedades permitem obter películas transparentes, resistentes à rutura, inodoras e sem sabor, os testes já realizados nas bioembalagens produzidas neste trabalho de colaboração entre os departamentos de Química e de Engenharia de Materiais e Cerâmica, nas unidades de investigação QOPNA e CICECO, sob supervisão de Manuel A. Coimbra e Paula Ferreira, respetivamente, apontam-na como uma barreira eficaz entre o alimento e o exterior.

«A biodegradabilidade inerente às embalagens de amido é a grande vantagem em relação aos plásticos», aponta Idalina Gonçalves, que lembra que o «aumento considerável nos últimos 20 anos de embalagens sintéticas [plásticos] tem agravado o problema de eliminação de resíduos».
«Os filmes de amido perdem mais de 90% do seu peso após 31 dias de incubação com um sistema orgânico, enquanto um simples saco de plástico poderá demorar centenas de anos para ser degradado», aponta a investigadora. Além disso, acrescenta, «as boas propriedades de barreira, nomeadamente ao oxigénio e ao vapor de água, dos filmes de amido também são uma mais-valia, quando comparados com os materiais sintéticos».

Mas o trabalho da equipa não vai ficar por aqui. Os investigadores querem acrescentar mais propriedades ao plástico nascido da batata. «Vamos desenvolver filmes capazes de monitorizar, por exemplo, a absorção de oxigénio, a libertação de dióxido de carbono e o teor de humidade, características envolventes na deterioração de alimentos frescos». Além disso, a equipa da UA também quer aumentar o tempo-de-prateleira dos alimentos através da incorporação de compostos ativos extraídos da casca da batata, como por exemplo, a cutina, pelas propriedades de barreira e resistência mecânica, e os polifenóis, conhecidos pelas suas propriedades antimicrobianas e antioxidantes.
Assim, no laboratório os químicos preparam-se para adicionar às películas já desenvolvidas moléculas capazes de detetar a degradação dos alimentos, sensores de humidade e de temperatura. «Um dos nossos objetivos é, por exemplo, desenvolver materiais colorimétricos que respondem às alterações das propriedades físico-químicas dos alimentos [como indicadores de tempo, temperatura, pH ou frescura], permitindo ao consumidor uma avaliação da qualidade dos seus alimentos», revelam os investigadores.
Actualmente, a batata é a quarta maior colheita do mundo e representa uma cultura alimentar em constante crescimento. Porém, o seu excesso de produção está a provocar um colapso no preço da batata em praticamente todos os países europeus. Por exemplo, em Portugal, apontam os investigadores, «o preço médio da batata chega a atingir os 5 cêntimos por quilo, o que representa um valor bastante inferior ao seu custo de produção».

Por outro lado, a indústria de processamento da batata também gera em abundância subprodutos resultantes da fabricação de produtos alimentares feitos a partir de batata, como a casca (6-10%) e outros resíduos resultantes do corte e remoção de defeitos (15%). Além disso, batatas inteiras que não são destinadas ao consumo humano também são desperdiçadas.
«Este fluxo de subprodutos representa um esforço significativo na gestão de resíduos, o que compromete a sustentabilidade das indústrias de processamento de batata. A valorização dos seus subprodutos surge, então, como foco de investigação», cuja equipa tem estado envolvida, precisamente, no desenvolvimento de materiais a partir dos subprodutos da indústria da batata frita, tendo como principal alvo a embalagem de alimentos frescos.

«A utilização dos subprodutos da indústria da batata frita no desenvolvimento de embalagens inteligentes será, num futuro não muito longínquo, uma forma de promover a conservação dos alimentos e a extensão do seu tempo de vida, minimizando a nossa pegada ecológica», garante o investigador.
Este projeto enquadra-se num conjunto de iniciativas da UA que visam encontrar soluções para a Indústria e Sociedade em geral, tendo como base o conhecimento em química de polissacarídeos: ResPoSta@UA e a oferta de competências proporcionada pela plataforma agroalimentar da academia de Aveiro.

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