Tintas para embalagens alimentares
As tintas para embalagens alimentares são um tema controverso. Alguns artigos publicados na imprensa debruçam-se sobre os riscos da passagem de tinta para os alimentos e a forma como as técnicas utilizadas no processo de embalagem estão a ser alteradas, de modo a reduzir ou eliminar definitivamente este risco.
Por: Patrícia Fernandes1, Andrew Gunton2
Muitos dos artigos revelam uma preocupação com as tintas utilizadas na principal superfície impressa da embalagem, quer seja numa impressão em offset, flexográfica ou em rotogravura.
Este texto aborda as regulamentações e as melhores práticas que os intervenientes na cadeia de distribuição de alimentos deverão cumprir relativamente às tintas de embalagem, bem como à codificação e marcação - de data de validade, data de limite de consumo e o número do lote – normalmente produzidas com recurso a técnicas CIJ (jato de tinta contínuo).
A importância da codificação e marcação
A quantidade de tinta utilizada para a codificação e marcação de produtos alimentares pode ser relativamente baixa (normalmente inferior a 1%) comparativamente à tinta utilizada para a superfície da embalagem, mas com a garantia de que também é segura, assumindo igual importância.
Quando se pensa no volume de produtos alimentares que precisam de ser codificados e marcados, tem-se noção da enorme tarefa que temos em mãos. Calcula-se que mais de 95% de todos os produtos alimentares na Europa Ocidental sejam embalados [1]: mais de 15 milhões de toneladas de alimentos [2] e mais de 5 mil milhões de litros de leite são vendidos só no Reino Unido, anualmente [3]. Para além disso, é possível adicionar ainda a esta lista muitas garrafas de água, de sumos de fruta, de bebidas alcoólicas e de refrigerantes.
A embalagem deverá ser sempre adequada ao produto, sendo que a maioria das descrições, cunhos efetuados nelas – quer sejam em papel, cartão, plástico, metal ou vidro – são impressas. Estas impressões contêm informação para o cliente sobre o produto, informações da marca, para além de confirmar a quantidade, os ingredientes e as sugestões de apresentação.
A informação do “Prazo de Validade” ou “Consumir de Preferência antes de...” desempenha um papel importante, mas pode ser subvalorizada na sua importância, aquando da comunicação da informação essencial ao consumidor.
Migração e offset
Atualmente, os produtores de alimentos estão incumbidos de garantir que a combinação da embalagem e de qualquer tinta ou verniz utilizados não são absorvidos/assimilados pelos produtos alimentares.
Descartando os materiais de embalagem, continua a ser possível a transferência de componentes da tinta de impressão para os alimentos e bebidas. Isto pode acontecer através da migração, quando a tinta passa da embalagem para os produtos alimentares adjacentes, ou como resultado do processo de offset, onde a embalagem flexível é pré-impressa e os componentes da tinta, neste procedimento, podem passar para o outro lado da embalagem durante uma nova passagem pela bobina, após a impressão.
Nesta fase, a tinta pode entrar em contacto com os alimentos, quando a embalagem é formada e abastecida. Existe também uma terceira possibilidade: os componentes voláteis do ar existente dentro do produto embalado podem ser transferidos para o alimento. Tal como seria de esperar, é provável que estes componentes sejam invisíveis.
Quando se trata de tintas utilizadas para codificação e marcação, os fornecedores de embalagens alimentares deverão preocupar-se com os riscos dos químicos das tintas de impressão utilizadas na codificação de embalagens primárias. Especialmente no caso em que as tintas utilizadas entram em contacto direto com os alimentos como, por exemplo, na codificação de ovos e queijos.
Eficácia das superfícies
As superfícies desempenham um papel importante, por exemplo, no grau de facilidade ou dificuldade com que os componentes da tinta se infiltram através da embalagem.
A embalagem é classificada em três formas no que concerne à sua eficácia:
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Barreira permanente (ou absoluta): os metais e o vidro agem como uma barreira eficaz no impedimento da migração dos componentes da tinta. A folha de alumínio deverá ter, no mínimo, uma espessura de 7μm (micrómetros) para ser considerada eficaz.
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Barreiras funcionais: é a combinação de superfícies e componentes de tinta específicos que afetam a eficácia da barreira. Por exemplo, as películas BOPP (polipropileno de orientação biaxial) constituem uma boa barreira contra a água, mas são ineficazes enquanto impedimento para muitos componentes da tinta, como os óleos minerais.
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Barreiras não funcionais: os materiais de embalagem, como o papel e o cartão, não são barreiras eficazes e permitem uma fácil migração dos componentes da tinta para os alimentos.
Legislação relevante e códigos de conduta
A legislação nesta área é diversa, complexa e varia de país para país.
Os fornecedores de embalagens e de tinta são responsáveis por garantir que os alimentos, em conjunto com a embalagem e a tinta de impressão, são seguros para consumo humano. A segurança do consumidor é da máxima importância em todas as legislações e, em associação com os fabricantes de alimentos e bebidas, (que são efetivamente os clientes dos produtores de embalagens e dos fornecedores de tintas), todos os interessados desempenham um papel importante no processo de conformidade.
Para além da segurança, deverão ser tidas em conta as propriedades organolépticas dos produtos alimentares embalados, ou as relacionadas com os sentidos humanos, como o sabor, o odor, a cor, o aspeto, a retenção da forma e a consistência, na medida em que se constituem como fatores críticos que afetam a satisfação do cliente relativamente aos produtos alimentares.
Continua
Nota: Artigo publicado originalmente na Tecnoalimentar 2.
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