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Revista TecnoAlimentar

Parceria portuguesa constrói fábrica de desidratação de fruta na Costa Rica

A Frulact, um dos cinco maiores ‘players’ da Europa nos preparados de fruta para a indústria alimentar (laticínios, pastelaria, gelados e bebidas), e a Luís Vicente, de Torres Vedras, um dos maiores produtores e exportadores nacionais de fruta, estabeleceram uma parceria para a construção, de raiz, de uma unidade industrial de transformação e de desidratação de fruta na Costa Rica.

Em entrevista à “Vida Económica” na feira Fruit Attraction, em Madrid, Manuel Évora, administrador executivo da Luís Vicente, revelou que o projeto deverá arrancar durante o ano de 2016. O objetivo é encurtar distâncias geográficas e otimizar os custos associados aos transportes e aos processos industriais, acelerando o fornecimento à Frulact mas, também, à sua gama de fruta desidratada da marca Frubis para a Europa e outras regiões do mundo.

A Frulact, liderada por João Miranda, tem sede na Maia e opera com duas fábricas em Portugal (Maia e Covilhã) e quatro no estrangeiro – uma em França, duas em Marrocos e outra na África do Sul -, tendo iniciado este verão a construção de uma nova unidade em Kingston, no Canadá. Emprega 600 pessoas e fatura 110 milhões de euros (2014).
A Luís Vicente tem sede em Torres Vedras, onde investiu cinco milhões de euros em 2014 na construção de duas fábricas – a Nuvi Fruits, de fruta cortada, e a Frubis, de fruta desidratada. Tem ainda capacidade instalada para produzir sobremesas de fruta com chocolate, pudim ou gelatina e sopas de fruta com base láctea. Possui plantações em Portugal, Brasil, Angola e Costa Rica e faturou cerca de 60 milhões de euros o ano passado.

“A oportunidade de juntar a produção da Luís Vicente na Costa Rica com um produto final para a Frulact é uma possibilidade real, considerada e estudada pelas duas empresas e que, neste momento, está em estudo, porque não faz qualquer sentido nós transportarmos [da Costa Rica para Portugal] fruta [sobretudo abacaxi] em natureza, com casca, com coroa e com todos os resíduos” quando pode ser transformada lá, explicou Manuel Évora à “Vida Económica”.

“Fornecedora natural da Frulact” há vários anos, a Luís Vicente tem a noção que os custos logísticos de transporte – faturados “ao peso” – “são caríssimos” da América Central para o Sul da Europa. E que esta é “uma oportunidade gigantesca de parceria entre duas empresas portuguesas que têm um relacionamento estupendo”, que fará juntar, “na origem”, a oferta de produção de fruta da Luís Vicente, por um lado, e a necessidade de processamento dessa fruta pela Frulact, por outro. E, “a partir da origem, chegaremos às várias fábricas da Frulact pelo mundo inteiro, principalmente utilizando a produção local da Costa Rica da Luís Vicente”.

Um investimento “alto, partilhado e para beneficiar as duas empresas”

A empresa de Torres Vedras tem, só na Costa Rica, uma propriedade com 576 hectares, dos quais 400 para produção de abacaxi. “Este ano, para ter uma ideia, já vamos comercializar em Portugal 12500 toneladas de abacaxi”, diz o administrador da empresa, frisando que também estão a exportar aquele fruto para os Estados Unidos, Rússia, Ucrânia, Grécia, Itália e, “proximamente”, para Marrocos e Polónia. Há, portanto, “uma série de oportunidades que se criaram com a produção que temos na Costa Rica”.

O projeto engloba, além do processo industrial de primeira transformação de fruta, “a possibilidade de fazer fruta desidratada a partir da Costa Rica, o que já fazemos hoje em Portugal com a marca Frubis com as maçãs, peras, morangos e outra fruta de origem portuguesa”, revela Manuel Évora. Há, pois, “toda a lógica em que a fruta de origem tropical, como a manga, o abacaxi, o coco ou a banana, sejam desidratadas na origem, pois não faz sentido andar a transportar água”. Serão, assim, “duas unidades industriais numa só”, explica o gestor, “porque nós para chegarmos à desidratação precisamos do primeiro processamento”, que também é obrigatório para “abastecer a Frulact”. E “podemos fazer esse trabalho na origem, com uma rentabilidade notável no transporte”.

Questionado pela “Vida Económica” sobre o montante do investimento, Manuel Évora é cauteloso. “Será alto, partilhado e para beneficiar as duas empresas, mas ainda não lhe consigo dizer. Está em estudo”. Até porque, diz, “a Costa Rica não é um país barato, tem a fama de se estar a tornar a Suíça centro-americana, cuja produção se está a tornar muito cara e que, depois do último campeonato do mundo de futebol onde tiveram um desempenho notável, a atração turística para lá é enorme, é imensa. Os aviões vão cheios para a Costa Rica quase todos os dias”.

Já quanto ao arranque do projeto, Manuel Évora é taxativo: “há a possibilidade de se iniciar em 2016”, para “proporcionar uma resposta mais rápida ao desafio que a Frulact nos fez”. Além de que a Luís Vicente tem “objetivos para cumprir com fruta desidratada pelo mundo, com grandes clientes que querem ver alargadas as referências do que é hoje a marca Frubis”. E “esta oportunidade na Costa Rica pode ajudar a que tudo seja mais rápido”.

Frulact constrói fábrica no Idaho (EUA) dentro de dois anos

A Frulact arrancou este verão com um investimento de 13,9 milhões de euros na construção de uma fábrica em Kingston (Canadá), mas a sua expansão para a América foi pensada primeiro para a cidade de Rupert, no estado americano do Idaho, onde, aliás, adquiriu uma parcela industrial de 8000 metros quadrados para esse efeito.

Questionado sobre o investimento inicialmente pensado para o Idaho, o presidente da Câmara de Rupert, Kelly Anthon, disse à “Vida Económica” que “a cidade de Rupert olha para Frulact como um parceiro”. Diz ter consciência da “mudança das condições de mercado” e sabe que “as empresas devem ser ágeis e estarem prontas a ajustar os planos de negócios para atingirem o sucesso”. Garantiu, no entanto, que “a administração da cidade de Rupert vai continuar a trabalhar com a Frulact”, mantendo-se “empenhado em ajudar constantemente a empresa a construir em Rupert e a expandir para o oeste dos EUA”.

Sabendo da mudança de prioridades da empresa portuguesa dos EUA para o Canadá, Kelly Anthon tem “a esperança” de que a fábrica da Frulact no Idaho seja construída “nos próximos dois anos”, tanto mais porque a empresa “já fez um investimento considerável em Rupert e acreditamos que Frulact é o ajuste perfeito para a nossa comunidade e para a nossa economia em crescimento”. Acredita até que “o recente investimento da Frulact no Canadá será o catalisador necessário para terminar o projeto em Rupert”.

Pera rocha da Luís Vicente na Mercadona

A Luís Vicente acaba de firmar uma parceria com a cadeia de distribuição espanhola Mercadona para fornecer pera rocha a 1400 das suas 2200 lojas em Espanha continental, revelou à “Vida Económica” o diretor comercial da empresa de Torres Vedras, Filipe Ferreira, na feira Fruit Attraction de Madrid.
“Esta é uma grande conquista e é o resultado do trabalho dos últimos dois anos”, diz Filipe Ferreira, explicando que o acordo prevê a colocação de “mais de 2500 toneladas de pera rocha” nos supermercados Mercadona até abril de 2016. Aberta está também a porta à renovação desse contrato de fornecimento para o futuro e o alargamento do negócio a outras frutas, até às desidratadas, através da marca Frubis.

A operação vai permitir à Luís Vicente aumentar “em 3%” o seu volume de negócios, mas este é, acima de tudo, para Manuel Évora, administrador executivo da empresa, “um investimento estratégico para o futuro”, ou não fosse a Mercadona “a bandeira dos perecíveis na distribuição moderna em Espanha”. Um grupo empresarial que Manuel Évora elogia pela dimensão e por serem “rigorosos e leais nos contratos e nas relações com os produtores”.

FONTE: Vida Economica (via ANIL).