Restaurar a biodiversidade está entre as medidas mais eficazes para transformar o sistema alimentar
O Great Food Puzzle, uma nova ferramenta e estudo publicado pela WWF, ajuda a identificar as ações mais adequadas a nível nacional. O relatório salienta que os sistemas alimentares - a complexa rede de atividades que envolve a produção, a transformação, o transporte e o consumo de alimentos - têm grandes impactos globais na natureza e nas alterações climáticas, mas só podem ser tornados sustentáveis com soluções locais.
No primeiro estudo global deste tipo, a WWF analisou mais de 100 países e classificou-os em seis tipos de sistemas alimentares diferentes, com base nas suas caraterísticas ambientais e socioeconómicas, e classificou as ações de maior impacto em cada um deles. A inclusão de fatores ambientais como a biodiversidade, o carbono e as reservas de água doce, é fundamental, uma vez que os sistemas alimentares são a maior ameaça aos recursos naturais, mas também dependem inteiramente deles.
Embora não exista um conjunto único de intervenções políticas que devam ser aplicadas globalmente, este estudo revelou também a existência de algumas questões que são centrais em todos os países, como por exemplo, a necessidade de otimizar o uso da terra e restaurar a biodiversidade, melhorar a educação e o conhecimento sobre dietas saudáveis e sustentáveis, e reformular os subsídios e incentivos financeiros.
Com base neste estudo, a ANPlWWF elaborou um documento que será entregue aos principais órgãos de decisão, onde estão elencadas as 10 medidas prioritárias para acelerar a transição alimentar no nosso país.
Ângela Morgado, Diretora-Executiva da ANPlWWF, defende que “o documento que apresentamos hoje, lança as bases para a tão necessária transformação da Alimentação em Portugal. Se o governo português pretende cumprir os compromissos europeus estabelecidos para todos os estados-membros, o momento para fazê-lo é agora, aproveitando que se discutem as medidas para o Orçamento de Estado de 2025. Precisamos de colocar a transformação do nosso sistema alimentar como prioridade nacional”.
As ações prioritárias apresentadas para o contexto português incluem medidas como: o restauro da biodiversidade, o apoio aos pequenos produtores, o reforço da ciência e investigação, a melhoria da recolha de dados e medição (nomeadamente dos hábitos de consumo dos portugueses e dos impactos ambientais dos sistemas alimentares) mas também sobre mais transparência sobre os diferentes atores da cadeia alimentar, o apoio a Soluções baseadas na Natureza, a inclusão de critérios de sustentabilidade nas compras públicas, e outras medidas, disponíveis aqui.
Embora tenha sido feito um progresso significativo ao nível da UE para integrar diversas áreas políticas relacionadas com a alimentação, é necessário um maior esforço em todos os outros níveis de governança. A responsabilidade recai assim sobre os governos nacionais e locais, que devem não apenas implementar as políticas europeias de forma coerente entre os ministérios, mas também desempenhar um papel central na construção de uma visão comum para um sistema alimentar diversificado. Os Estados-Membros devem adotar uma abordagem sistémica para a alimentação a nível nacional e definir estratégias alimentares nacionais em conformidade com o Pacto Ecológico Europeu, a Estratégia de Biodiversidade, a Lei do Restauro da Natureza e a Estratégia Do Prado ao Prato.