Ocorrência de micotoxinas em alimentos à base de cereais para bebés e crianças: revisão
Por: Soraia Sá, Miguel Faria, José Fernandes, Sara Cunha*
LAQV-REQUIMTE, Laboratório de Bromatologia e Hidrologia, Faculdade de Farmácia, Universidade do Porto
*sara.cunha@ff.up.pt
RESUMO
Não obstante os benefícios para a saúde das crianças de uma dieta rica em cereais, estes podem também ser uma fonte de contaminantes naturais tóxicos, dos quais as micotoxinas são o maior exemplo. Os cereais são propensos à contaminação por fungos em diferentes fases, desde o cultivo até ao armazenamento e processamento, o que pode trazer riscos para a saúde humana. As micotoxinas representam uma preocupação acrescida devido aos efeitos adversos na saúde das crianças, particularmente vulneráveis dado o subdesenvolvimento dos seus sistemas fisiológicos.
Pese embora a existência de diversa legislação relativa à presença das micotoxinas mais conhecidas, normalmente referidas como micotoxinas reguladas, nos últimos anos têm vindo a ser causa de preocupação crescente outras micotoxinas de descoberta mais recente, normalmente referidas como micotoxinas emergentes, devido à frequência e aos elevados níveis com que têm sido detetadas em diferentes alimentos, especialmente cereais e produtos à base de cereais. A Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA) tem alertado para a escassez de informação sobre a ocorrência e o impacto toxicológico destas micotoxinas, pelo que são de grande interesse todos os estudos que conduzam a uma avaliação fiável da exposição dietética, especialmente numa população vulnerável como os bebés e crianças.
INTRODUÇÃO
As micotoxinas são toxinas potentes produzidas por fungos filamentosos como metabolitos secundários (Fraeyman et al., 2017). A contaminação de alimentos por micotoxinas pode ocorrer diretamente através de culturas agrícolas contaminadas com fungos toxigénicos ou nas diversas etapas da cadeia alimentar. Em geral, as micotoxinas são compostos muito estáveis, pelo que o processamento industrial de alimentos por si só geralmente não é suficiente para as eliminar.
A ingestão de alimentos especialmente concebidos para bebés e crianças, como alimentos instantâneos, cereais de pequeno-almoço, barras, bolachas, etc., é uma das formas mais comuns de exposição às micotoxinas (Turner et al., 2012; Braun et al., 2021). Este grupo etário é uma parte particularmente vulnerável da população devido à sua fisiologia, uma dieta bastante específica e um consumo elevado relativo ao peso corporal (Adaku Chilaka e Mally, 2020; Li et al., 2023; Wu et al. 2014; Kafouris et al., 2017), pelo que deve ser dada especial atenção à exposição desta população a estes contaminantes alimentares.
Devido à elevada toxicidade das micotoxinas, continuam a ser estabelecidos e/ou atualizados limites legislativos em alimentos e rações em todo o mundo (Aljicevic, 2008). Os alimentos à base de cereais processados e os alimentos para bebés para lactentes e crianças pequenas são regulados pelo Regulamento da Comissão 1881/2006 no que diz respeito aos teores de micotoxinas (EC, 2006), para os principais grupos de micotoxinas, mas ainda não para as emergentes, o que constitui uma lacuna preocupante que deve ser preenchida.
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