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Revista TecnoAlimentar

O pior não é a crise, é o período pós-crise

Nota editorial da Tecnoalimentar 23

Indústria alimentar

No nosso último editorial falámos das crises alimentares actuais e da sua relação, directa ou indirecta, com problemas alimentares, sejam eles motivados por fraude ou por desleixo. E, como temos de comer todos os dias, estas crises vão ser cada vez mais frequentes e preocupantes.

Durante a crise aguenta-se. Melhor ou pior, com mais ou menos ajuda, sobrevive-se. Mas, depois da crise, é necessário falar da recuperação, do pós-crise. Como se sabe, as crises são sempre boas para uns, que as conseguem aproveitar, e más para todos os outros que não têm capacidade para tornear os problemas e sucumbem.

A última crise que Portugal atravessou mostrou que a capacidade financeira das empresas é um factor fundamental para atravessar períodos maus para o negócio. Empresas, ou até pessoas, que suportam as suas actividades em financiamentos por terceiros, vêem-se muitas vezes impossibilitados de recuperar a actividade por estarem mergulhados em dívidas, juros altos e outros compromissos financeiros.

Mas não só. Já em 1992, Norton e Kaplan lançavam as bases do Balanced Scorecard (BSC) na Harvard Business Review, onde deixavam claro que a perspectiva financeira de uma empresa, mesmo que muito boa, não é suficiente para alavancar uma empresa num período pós- -crise. Outras três perspectivas das empresas são igualmente importantes e nenhuma pode ser subalternizada em relação às restantes.

A segunda perspectiva é o cliente. É ter a capacidade de estudar as expectativas dos clientes, ir de encontro a estas e, preferencialmente, ultrapassando-as, surpreendendo tanto os clientes, como a concorrência, com a criação de um novo produto de sucesso ou o lançamento de uma nova moda. Essa é a forma de se ser conhecido e respeitado no mercado.

A terceira perspectiva são os processos. É ter a capacidade de pensar as actividades e organizá-las de modo atempado e coerente, de implementar procedimentos que permitam maximizar os recursos e minimizar os desperdícios, de construir uma cultura de estudo dos contextos subjacentes às tomadas de decisão e consequente análise de risco. Essa é a base da melhoria contínua necessária à sustentabilidade.

A quarta perspectiva é o conhecimento. É a capacidade de suportar as três perspectivas anteriores através de uma gestão culta e comprometida e de colaboradores dotados de grande capacidade técnica. É a capacidade de obter ou criar conhecimento e transformá-lo em acções práticas e eficientes, quer elas sejam de índole financeira, relacionadas com o cliente ou relativas aos processos.

Como estamos em tempos de crise, sabemos que virá um tempo de pós-crise e que este será também um tempo de oportunidades. As empresas que estiverem apetrechadas nas quatro perspectivas definidas por Norton e Kaplan sairão da crise mais fortes e mais sustentáveis. Tal irá também acontecer com todas as empresas alimentares. Especialmente a essas, para quem trabalhamos, desejamos que este período de crise não seja nefasto e que o período pós-crise se constitua como uma franca oportunidade de desenvolvimento.

Manuel Rui F. Azevedo Alves

Diretor da Revista Tecnoalimentar, Professor Coordenador

Grupo de Engenharia Alimentar

Instituto Politécnico de Viana do Castelo