O desperdício alimentar no setor dos laticínios
Por: Cátia Almeida Oliveira, Ana Lopes de Oliveira | ÉS Segurança - Consultoria Agroalimentar, Lda
No advento do terceiro milénio, a produção e fornecimento de alimentos é um dos maiores desafios globais para a humanidade.
Nos últimos 65 anos, houve a triplicação da população global para um valor de 7,2 biliões de pessoas, e está prevista crescer até 9,35 biliões em 2050.
Associam-se a este crescimento populacional números cada vez maiores de alimentos desperdiçados ao longo dos anos, valores esses que nos impelem a tomar medidas e que levaram a que vários governos determinassem 2016 como o Ano do Combate ao Desperdício Alimentar.
Os alimentos são produzidos com o objetivo de serem consumidos. Aqueles alimentos que não cumprem este propósito constituem aquilo que se denomina “desperdício alimentar”, tornando-se um problema transversal a toda a cadeia alimentar, desde a produção até ao consumo.
Segundo o relatório emitido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 54% do desperdício de comida no mundo ocorre na fase inicial da produção, na manipulação, após a colheita e na armazenagem.
O volume de alimentos comestíveis perdido em todas estas etapas de produção é de cerca de 940 milhões de toneladas por ano. Os restantes 46% de perdas ocorrem nas etapas de processamento, distribuição e consumo.
Estas percentagens equivalem a cerca de 665 biliões de euros anuais de prejuízo. Na Europa estima-se que todos os anos sejam desperdiçados entre 30 a 50% dos alimentos comestíveis ao longo da cadeia alimentar até chegar ao consumidor, distribuído pelas famílias (42%), pela indústria (39%), pela restauração (14%) e distribuição (7%).
Estes valores projetam a que em 2020 o desperdício alimentar na União Europeia (UE) sofra um aumento de 20% face a estes valores, numa estimativa de 126 milhões de toneladas.
Em Portugal estima-se que o desperdício alimentar represente 17% da produção alimentar anual (cerca de 1 milhão de toneladas), dividido ao longo das diferentes etapas da cadeia de aprovisionamento.
Setor dos laticínios
O leite é produzido em todos os Estados-membros, sem exceção, em cerca de 650.000 explorações agrícolas. Com um valor de 55 mil milhões de euros, o setor dos laticínios representa 15% do total da produção agrícola da UE.
As caraterísticas climáticas no centro e norte da Europa são mais favoráveis à produção de leite e, ao longo dos últimos 30 anos, a lei das quotas leiteiras não deixou que o mercado português fosse invadido pelos excedentes de produção, com preços mais competitivos, de outros países.
Com o fim da lei das quotas leiteiras em Março de 2015, o setor do leite sofreu uma enorme quebra nas vendas nacionais devido à diminuição do consumo de leite pelos consumidores, assim como à entrada dos excedentes da produção de outros países europeus em Portugal, com preços competitivos.
*(Continua)
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