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Revista TecnoAlimentar

Mais iodo na alimentação

Em Portugal, uma alimentação rica em pescado e laticínios pode suprir a dose diária recomendada de iodo para uma criança ou adulto saudável. 

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Em outubro de 2010, o Professor Edward Limbert e a sua equipa publicaram, no Jornal Europeu de Endocrinologia, uma avaliação do estado de saúde das grávidas portuguesas que faria história.

Das 3631 mulheres avaliadas, em 17 maternidades representativas do território nacional, apenas 17% apresentava valores de iodo adequados. Ou seja, a grande maioria não ingeria, muito provavelmente, iodo em quantidade suficiente nesta fase crucial da sua vida.

Estes dados ainda eram mais preocupantes porque o iodo é vital para a maturação do sistema nervoso central do feto e para o seu adequado desenvolvimento. Nos seres humanos, o máximo crescimento e desenvolvimento cerebral ocorre durante o período fetal e nos dois ou três primeiros anos de vida. Ou seja, sem iodo em quantidade suficiente, o desenvolvimento cognitivo e o potencial de aprendizagem podem ficar comprometidos. Daí que o iodo seja também fundamental ao longo do percurso escolar das crianças.

O iodo é um nutriente essencial à vida, obtido através da alimentação e acumulado na glândula tiroide, tendo como função a síntese das hormonas tiroideias. A concentração de iodo nos alimentos depende de inúmeros fatores, tais como o teor de iodo na água e nos solos e a utilização de fertilizantes ricos em iodo. Por estas razões, a concentração do iodo nos alimentos pode variar ao longos dos tempos e em função da zona de origem dos alimentos.

Em Portugal, e devido ao trabalho persistente de investigadores, como Isabel Castanheira, temos vindo a conhecer melhor a composição em iodo dos alimentos nacionais. Muito recentemente, já este ano, avaliaram-se mais de 480 alimentos.

O pescado, compreendendo todos os alimentos provenientes do mar, é o grupo mais rico em iodo, em particular os mariscos e bivalves. O camarão, a cavala e a sardinha são fontes importantes de iodo. Os laticínios são outra boa fonte de iodo. Mais uma razão para o leite e iogurte fazerem parte da alimentação diária de crianças em idade escolar.

De referir ainda, que também se avaliaram pratos já confecionadas como o empadão de atum ou o arroz de bacalhau, onde se encontraram teores interessantes de iodo. Os resultados permitem concluir que em Portugal uma alimentação rica em pescado e laticínios pode suprir a dose diária recomendada de iodo para uma criança ou adulto saudável.

Infelizmente, são muitas as crianças que não consomem as quantidades adequadas de laticínios e pescado.

Tendo em conta esta situação, o Ministério da Educação com o apoio da Direção-Geral da Saúde, publicou em agosto de 2013 uma circular com orientações sobre ementas nos refeitórios escolares onde tornou obrigatória a utilização de sal iodado nas cantinas das escolas portuguesas. Uma publicação pioneira que aumentou o fornecimento de iodo às crianças portuguesas. 

Quanto ao iodo e à gravidez, as mulheres que pensam engravidar, grávidas ou a amamentar devem tomar um suplemento diário de iodo sob a forma de iodeto de potássio – 150 a 200 µg/dia, desde o período preconcecional, durante toda a gravidez e enquanto durar o aleitamento materno exclusivo.

O feto é particularmente vulnerável às alterações provocadas pelas deficiências de iodo numa fase precoce da gravidez. Se a suplementação começa só na primeira visita pré-natal pode já ter sido ultrapassado este período relevante. Nas mulheres que estão a planear engravidar, devem começar a tomar a suplementação de iodo.

Nas crianças com aleitamento materno exclusivo, com idades compreendidas entre os 0 e os 6 meses, o aporte de iodo é feito através do leite materno. Mais uma razão para amamentar.

O iodo é um nutriente que necessitamos em pequenas quantidades, mas vital para a nossa saúde e para o adequado desempenho intelectual das crianças. O consumo de peixe e laticínios ou a utilização de sal iodado, em substituição do sal normal, são pequenos gestos, mas que podem fazer toda a diferença ao longo de 2017.

Texto de: Pedro Graça é Diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, da Direcção Geral da Saúde. É doutorado em Nutrição Humana pela Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP) onde é professor associado. É membro do Conselho Científico da ASAE e ponto focal português da OMS e Comissão Europeia na área da alimentação. 

Fonte: Visão