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Revista TecnoAlimentar

Listeria e Listeria monocytogenes em alimentos

Por: Teresa Letra Mateus, Humberto Rocha, Rui Leandro Maia, Paula Teixeira

Listeria

Resumo

A listeriose é uma doença causada pelo consumo de alimentos contaminados por Listeria monocytogenes e que é particularmente grave em indivíduos imunodeprimidos.

A listeriose tem adquirido uma posição muito relevante como infeção de origem alimentar, também considerando o carácter ubiquitário do agente e a sua resiliência, motivo pelo qual dedicamos este artigo à ocorrência de Listeria em alimentos.

Introdução

Apesar de em 1891, já haver descrições sobre o envolvimento de bacilos Gram positivo em doenças que poderiam ter sido listeriose (Doyle, 1989), Murray, Webb e Swann são reconhecidos como os descobridores do microrganismo descrito em 1926 como patogénico para animais de laboratório, após a ocorrência de listeriose em coelhos na cidade de Cambridge (Quinn, 2002).

Como produzia monocitose, o microrganismo foi designado de Bacterium monocytogenes. Em 1940, Pirie sugeriu que o microrganismo fosse chamado de Listeria monocytogenes, o que foi mais tarde aceite (FAO/WHO, 2004a).

Este nome provem do cientista que a isolou, Lister, e do facto de originar uma monocitose no sangue periférico (Exposto, 2000).

A primeira epidemia de listeriose em humanos foi em 1929, e esteve associada ao consumo de leite não pasteurizado proveniente de vacas com listeriose (Vela, 1997).

Durante a década de 80, a incidência de listeriose humana aumentou em vários países, mas ainda assim, manteve-se geralmente baixa quando comparada com outras toxi-infeções alimentares, como a salmonelose (Adams e Moss, 1996; FAO/WHO, 2004b). Todavia, a listeriose tem adquirido uma posição muito mais relevante como infeção de origem alimentar.

Apesar da doença ter estado sempre presente no meio rural, aparece agora como um problema urbano emergente (Vela, 1997), sendo observada sobretudo nos países industrializados, fruto dos atuais hábitos alimentares e das condições de armazenamento de alimentos que nestes se praticam.

Não obstante a listeriose ser relativamente rara, a sua elevada taxa de mortalidade e o envolvimento frequente de alimentos industrialmente processados nos surtos, faz com que o impacto social e económico desta doença seja um dos maiores entre as toxiinfecções alimentares (FAO/WHO, 2004b).

Caracterização do agente

O género Listeria é constituído por 19 espécies: Listeria aquatic, Listeria booriae, Listeria cornellensis, Listeria denitrificans, Listeria fleischmannii, Listeria floridensis, Listeria grandensis, Listeria grayi, Listeria innocua, Listeria ivanovii, Listeria marthii, Listeria monocytogenes, Listeria murrayi, Listeria newyorkensis, Listeria riparia, Listeria rocourtiae, Listeria seeligeri, Listeria weihenstephanensis, Listeria welshimeri (Euzéby, 2015).

L. monocytogenes é a principal espécie patogénica para o Homem (Quinn, 2002), embora ocasionalmente L. seeligeri, L. welshimeri e L. inovanii tivessem sido associadas à ocorrência de doença no Homem (Fröder, 2005).

L. monocytogenes é um bacilo curto, Gram positivo, anaeróbio facultativo (Exposto, 2000; Quinn, 2002). Os bacilos apresentam-se isolados, aos pares ou em pequenas cadeias (Fröder, 2005) que podem ser confundidas com Streptococcus pneumoniae oucom o género Enterococcus (Murray et al., 2002).

Não são formadores de esporos (Exposto, 2000; Fröder, 2005). São levemente â - hemolíticos e catalase positivo (Murray et al., 2002). São ainda bactérias oxidase negativo (Singlenton, 1997). Produzem ácido, mas não gás, a partir de alguns carbohidratos (Exposto, 2000).

As espécies de Listeria crescem na maioria dos meios de cultura convencionais, dando origem a pequenas colónias arredondadas ao fim de 1 ou 2 dias de incubação em agar (Fröder, 2005).

A â – hemólise no agar sangue pode servir para distinguir Listeria de bactérias morfologicamente semelhantes, contudo, a hemólise pode não ser observada inicialmente(Doyle, 1989; Murray et al., 2002).

A mobilidade do microrganismo num meio líquido ou em agar semi-sólido é útil para a identificação preliminar de Listeria, já que esta é móvel por flagelos perítricos a baixas temperaturas, mas não a 37ºC (altas temperaturas suprimem o movimento), e apresenta uma motilidade característica (Adams e Moss, 1996; Murrayet al., 2002).

Para identificação definitiva, são usados testes serológicos e bioquímicos selectivos. Estão descritos 13 serótipos de L. monocytogenes (1/2a, 1/2b, 1/2c, 3a, 3b, 3c, 4a, 4ab, 4b, 4c, 4d, 4e e 7) (Wiedmann, 2003) baseados na caracterização dos antigénios somáticos (O) e flagelares (H) sendo que 1/2a, 1/2 b e 4b são responsáveis pela maioria das infecções em neonatos e adultos (Exposto, 2000; Murray et al., 2002), segundo Jawetz et al. (1989) e Nobre (1996) cerca de 90% das mesmas.

Contudo, Ueda et al. (2005), num estudo realizado no Japão, em 14 amostras de carne de porco e frango com L. monocytogenes verificou que 21% das amostras eram do serótipo 1/2a, 43% do 1/2b, 29% do 1/2c e apenas 7% do serótipo 4b. Também Théverot et al. (2005) num estudo realizado em produtos cárneos, isolou o serótipo 1/2a em 49,5% das amostras, o 1/2b em 13%, o 1/2c em 19,5% e o 4b apenas em 8% das amostras.

(Continua)

Nota: Este artigo foi publicado na edição n.º 12 da Revista TecnoAlimentar.

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