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Revista TecnoAlimentar

Controlo de qualidade em Enologia

Por A.S. Curvelo-Garcia (Investigador Coordenador Aposentado, INIAV) e Paulo Barros (Coordenador do Núcleo do Conhecimento, Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, I.P.)

enologia

Através da história das civilizações, o vinho sempre teve um papel fundamental na economia local, sendo utilizado para trocas comerciais com regiões próximas, mas o vinho foi igualmente uma das mercadorias transacionadas entre povos e nações, quantas vezes para muito longas distâncias, constituindo uma mercadoria sobre a qual recai uma enorme atenção.

Em termos globais, cerca de 80% do vinho é produzido por 10 países.

Segundo dados recentemente publicados pela OIV, a produção mundial de vinho em 2016 está estimada em 259 milhões de hectolitros.

As exportações mundiais de vinho atingiram 28,3 biliões de euros em 2015. Os 104,3 milhões de hectolitros transacionados no negócio mundial em 2015 envolveram um incontável número de operações comerciais por todo o Planeta.

Os fluxos comerciais, com múltiplas origens e destinos, são de uma grande complexidade, envolvendo um elevado número de operações entre grandes, pequenas e médias empresas, ou seja um número extraordinário de operações de comércio.

O comércio internacional de uvas, vinho e bebidas espirituosas continua a crescer. A exportação de vinho tem evoluído significativamente ao longo da última década.

Assim, em 2015, com os 104,3 milhões de hectolitros representaram cerca de 40% do consumo mundial, enquanto há 10 anos atrás correspondia apenas a cerca de 25% do consumo mundial. Ou seja, tem vindo a registar-se um nítido aumento do peso das exportações no consumo mundial.

Daqui resulta que, aproximadamente, duas em cada cinco garrafas de vinho consumidas no mundo são importadas. A globalização do comércio provoca uma concorrência crescente entre os países, todos pretendendo afirmar a qualidade do vinho que desejam vender.

A globalização do comércio de vinho aponta para a adoção de normas genericamente aceites. Alguns países e organizações de países adotaram as suas próprias normas, que se aplicam no seu território e podem também servir de referência para o comércio bilateral com esses países.

No contexto da globalização do comércio, onde há uma competição crescente entre países, a OIV (Organisation Internationale de la Vigne et du Vin), define as características dos produtos vitivinícolas e as suas especificações, e contribui para a promoção da regulamentação de boas práticas, a fim de garantir o comércio justo, bem como a integridade e a sustentabilidade dos diferentes produtos do sector vitivinícola no mercado global.

Neste contexto, face à generalizada globalização dos mercados, torna-se indispensável uma harmonização dos métodos analíticos, bem como de todas as práticas do setor vitivinícola, universalmente aceites.

Daí o inquestionável papel das organizações internacionais. De entre estas, surge como a principal a OIV (Organisation Internationale de la Vigne et du Vin), herdeira do antigo Office International de la Vigne et du Vin, criado há quase um século e de que Portugal foi membro fundador.

Trata-se de uma organização intergovernamental de natureza científica e técnica, com competência reconhecida no campo da vinha, do vinho, das bebidas à base de vinho, das uvas de mesas e uvas passas e outros produtos vitivinícolas, instituída pelo Acordo de 3 de abril de 2001.

Tem atualmente 46 Estados membros e 2 Observadores. Agrega ainda diversas Organizações com estatuto de Observador. Compete-lhe indicar as medidas a tomar que permitam resolver as preocupações dos produtores, dos consumidores e de outras partes interessadas, apoiar as outras organizações internacionais intergovernamentais e não-governamentais e contribuir para a harmonização internacional das práticas e normas existentes.

Tem competências nas áreas de métodos de análise, especificação de produtos, práticas enológicas, produtos enológicos, rotulagem e concursos, abrangendo diretamente cerca de 70% da produção mundial de vinho (UE, MERCOSUR e China) e implicitamente cerca de mais 25% da produção mundial de vinho.

Portugal tem tido, sobretudo nas últimas décadas, um papel bem ativo na atividade desta organização, designadamente no âmbito dos métodos de análise.

A sua atividade expressa-se essencialmente na elaboração de diversos compêndios, permanentemente atualizados por intermédio das Resoluções aprovadas pela sua Assembleia Geral: Descrição das castas do Mundo, Código dos caracteres descritivos das variedades e espécies de Vitis, Lista internacional das variedades de videira e dos seus sinónimos, Codex Enológico Internacional (descrição das características de todos os produtos enológicos), Código internacional das práticas enológicas, Compêndio dos métodos internacionais de análise dos vinhos e dos mostos, Compêndio dos métodos internacionais de análise das bebidas espirituosas de origem vitivinícola, Norma OIV sobre os concursos internacionais de vinhos e de bebidas espirituosas de origem vitivinícola, para além dos seus Cadernos Científicos e Técnicos (Gestão dos efluentes de adega e de destilaria; O chumbo; Vinho e doenças cardiovasculares).

A regulamentação da União Europeia sobre métodos analíticos tem em conta os métodos da OIV para a análise dos produtos do setor vitivinícola, mas pode, se necessário (embora se trate de uma hipótese remota) adotar métodos diferentes, isto se os métodos da OIV se revelarem não eficazes ou inadequados, sendo dada abertura para a possibilidade de um dado Estado Membro autorizar um determinado método de análise.

No MERCOSUR são adotados os métodos aprovados e recomendados pela OIV. A Nova Zelândia e a Austrália seguem a regulamentação da UE.

Na China é adotada a norma National Standard GB/T 15038. Nos USA, são seguidos métodos validados de preferência de acordo com a última edição do Official Methods of Analysis, publicado pela AOAC.

O controlo analítico de vinhos é, assim, um instrumento da maior importância nas transações mundiais deste produto.

(Continua)

Aceda ao artigo na íntegra na edição n.º 10 da edição impressa da Revista TecnoAlimentar.

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