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Revista TecnoAlimentar

Carne de aves e ovos – diferenças entre o modo de produção biológico e o modo de produção convencional

As caraterísticas nutricionais e a segurança alimentar são considerados dois aspetos importantes e que levam os consumidores a preferir alimentos biológicos ao invés dos convencionais (Younie, 2001). No entanto, parecem não existir evidências suficientes de que os alimentos biológicos sejam mais nutritivos e mais seguros.

Ovos

Por: Ana Estefânia Cunha e Teresa Letra Mateus

Embora alguns estudos relatem que os alimentos biológicos têm menor quantidade de resíduos de pesticidas, em comparação com os convencionais, estes não podem ser definidos como livres desses resíduos. Há mesmo estudos que referem não existirem diferenças entre os alimentos biológicos e os convencionais em termos desses resíduos (Tuomisto et al., 2012) e o mesmo em relação a diferenças de cargas microbianas.

Existem, inclusivamente, evidências de que a produção biológica poderá levar a uma maior contaminação por Salmonella spp. em ovos, carne de aves e carne de porco, quando em comparação com alimentos convencionais. De acordo com Williams (2002), a aplicação de estrume e a redução do uso de fungicidas e de antibióticos na agricultura/pecuária biológica, pode causar contaminação frequente por microrganismos e produtos microbianos (Kouba, 2003).

Os alimentos biológicos de origem animal, são derivados de animais que predominantemente são alimentados por alimentos biológicos. Alguns estudos investigaram os efeitos de rações biológicas e convencionais na saúde animal. Tais estudos são ainda insuficientes para que se possa extrapolar resultados conclusivos. Em geral, a alimentação animal inclui a forragem, que pode estar contaminada com compostos orgânicos e inorgânicos.

Entre as contaminações mais frequentes da ração animal estão as potenciadas por fungos e pela libertação das suas toxinas (micotoxinas). Entre outros contaminantes indesejáveis que podem estar presentes nas rações, deve ser dada uma atenção particular aos resíduos de pesticidas.

Na agricultura biológica é permitido o uso de pesticidas de origem natural, como por exemplo, os extratos de plantas ou de microrganismos e, em último recurso, é permitido o uso de produtos fitofarmacêuticos.

Quanto aos efeitos na saúde humana do consumo de alimentos biológicos, não é ainda possível afirmar com certeza os seus riscos e benefícios (Huber et al., 2011). Este trabalho de revisão vai-se focar na carne de aves e ovos, tendo como objectivo dar a conhecer as diferenças nutricionais e sensoriais entre os produtos alimentares provenientes da produção de frangos e galinhas poedeiras, obtidos em modo produção biológica versus modo produção convencional.

A carne de aves

Atualmente, os hábitos de consumo de carne estão a alterar-se e constata-se que os consumidores não apenas exigem produtos com melhores caraterísticas físico-químicas e sensoriais, mas que também sejam seguros, mais saudáveis e mais amigos do ambiente. Nos últimos anos, os produtos biológicos de origem animal receberam importante atenção na maioria dos países desenvolvidos, uma vez que, produtos ecologicamente produzidos são percecionados como mais saudáveis e seguros do que os produzidos por sistemas de produção convencional e intensiva.

As principais diferenças entre a produção animal biológica e a pecuária convencional residem, fundamentalmente, na nutrição dos animais em criação e na área disponível para se movimentarem “em liberdade”.

Os estudos comparativos são difíceis de realizar, não só porque se trata de um trabalho com seres biológicos, mas também porque são várias as variáveis a considerar e uniformizar. No entanto, existem os suficientes para se tirar conclusões relevantes.

Em regra, para a investigação comparativa, as principais variáveis de campo a considerar são: a dieta alimentar, o alojamento e a origem (genótipo) das aves em estudo. Todas estas variáveis influenciam diretamente a avaliação de qualidade da carne e performance animal. Por outro lado, alguns estudos relevam outras caraterísticas metodológicas que enfatizam a saúde animal ao longo do seu ciclo de vida produtivo, caraterísticas que demonstram diferenças entre sistemas de produção biológica e convencional de frangos.

Um dos principais objectivos é perceber efetivamente se há diferença e quais as diferenças, na carne de frango, entre a produção biológica e a produção convencional. Assim, é necessário escolher as caraterísticas objetivas e possíveis de comparar, que permitam inferir acerca do valor nutricional, de qualidade e de segurança alimentar. Deste modo, avaliando os parâmetros de performance dos animais em criação (in vivo), bem como os parâmetros físico-químicos, nutricionais e sensitivos da carne (post-mortem), é possível tirar conclusões. Contudo, é de salientar a contrariedade entre os resultados obtidos nos diferentes estudos, o que mantém a temática um pouco ambígua.

Continua

Nota: Artigo publicado originalmente na Tecnoalimentar 22

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