Acidentes de trabalho na indústria de transformação de carnes
A população mundial atingiu os 7,6 mil milhões em outubro de 2017, estimando-se que atinja 11,2 mil milhões em 2100. Com o aumento da população e com a evolução das expectativas dos clientes e dos avanços tecnológicos, as empresas são obrigadas a aperfeiçoar constantemente os seus serviços e produtos.
Por: Ana Inês Coelho¹, Maria da Conceição Fontes¹,² Ana Cláudia Coelho¹,²
Num mercado que introduz novos produtos e equipamentos de forma regular, é necessário vigiar a saúde dos trabalhadores e o meio ambiente, de forma a prevenir riscos (Holland, 2016).
Em Saúde Ocupacional, o risco ocupacional, é o risco devido às condições ou natureza do seu trabalho. Estes podem ser biológicos, físicos, químicos, psicossociais ou ergonómicos, podendo os mesmos serem influenciados pela idade, sexo, ou fatores geográficos (Vodanovic 2017).
Os estudos sugerem que os magarefes, e outros colaboradores em matadouros e na indústria de transformação de carne, estão expostos a riscos biológicos (Reif et al., 1989). Os riscos físicos podem variar desde vibrações, temperatura, traumas, luz ultravioleta e radiação. Este tipo de riscos pode causar problemas de audição, problemas de visão ou lesões causadas por trauma, como fraturas (Córdova e Álvarez, 2016).
Os riscos químicos identificados na indústria de transformação de carnes são os desinfetantes, detergentes e aditivos que podem causar problemas como alergias, queimaduras químicas, entre outros (Quirce et al., 2018).
O risco ergonómico ou biomecânico pode ser definido como o risco presente em todas as situações a que o trabalhador está exposto como o esforço físico, posturas estáticas durante um período prolongado, movimentos repetitivos, mau posicionamento e má postura corporal entre outros (Leguizamón e Ortiz, 2016).
Uma das principais formas de se prevenir lesões é o uso correto dos equipamentos de proteção individual (EPI) que são uma ferramenta fundamental para a prevenção de acidentes, mas a resistência que alguns trabalhadores têm em os utilizar ou, o uso incorreto encontra-se fortemente associado a acidentes (Neves et al., 2011).
Para se estimular os trabalhadores a utilizarem os EPI é preciso informá-los e sensibilizá-los sobre os riscos da não utilização dos mesmos. Neste estudo efetuou-se a análise das condições de saúde ocupacional numa empresa que se dedica à transformação de carnes, no Norte de Portugal.
Material e Métodos
Efetuou-se um estudo transversal e descritivo, tendo-se aplicado um questionário. Efetuou-se, ainda, a observação de práticas de trabalho, numa indústria de transformação de carnes no Norte de Portugal, em sete secções: receção da matéria-prima, desmancha e desossa da carne, execução de encomendas, embalamento de encomendas, cozinha industrial, salsicharia e zona de expedição de encomendas.
O questionário foi aplicado, entre janeiro e fevereiro de 2018 a uma amostra de conveniência. Dos 80 trabalhadores, só 76 estavam presentes na altura do inquérito e apenas 69 (90,8%) responderam ao questionário.
Os questionários, de autopreenchimento, foram entregues ao longo dos dois meses. A análise de dados foi realizada com recurso ao programa SPSS® 22.0. Efetuou-se a associação entre variáveis através do teste de χ2.
A regressão logística multivariada foi utilizada para modelar as probabilidades (OR) e seu intervalo de confiança (95%), de sofrer um acidente relacionado com as variáveis. Valores de p < 0,05 foram considerados significativos.
Resultados
Neste estudo, aplicou-se um questionário a trabalhadores de uma indústria de transformação de carnes do Norte de Portugal. A população era constituída por 76 trabalhadores, sendo que houve sete (9,2%) trabalhadores que recusaram participar no inquérito. A taxa de resposta foi muito elevada (90,8%). A maioria dos trabalhadores, 58,5% manipulava objetos e equipamentos cortantes e/ou perfurantes.
A grande maioria manipulava objetos cortantes e perfurantes como facas (50,8%), seguido de outros equipamentos cortantes ou perfurantes diversos (12,3%) e, por manipulação de serras (10,8%). Cerca de 24,6% dos trabalhadores operavam mais do que um objeto ou equipamento cortante ou perfurante.
Quanto aos riscos químicos, a maioria (56,9%) manipulava substâncias químicas. Cerca de metade manipulava diariamente detergentes (50,8%) e desinfetantes (50,8%), seguidos de corantes (10,8%) e conservantes (9,2%). Dos 37 trabalhadores que manipulavam diariamente substâncias químicas, 59,5% manipulava 2 substâncias químicas, 21,6% manipulava 1 substância química, 16,2% manipulava 4 substâncias químicas e 2,7% manipulava 3 substâncias químicas.
Continua
Nota: Artigo publicado originalmente na Tecnoalimentar 24
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¹Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD)
²Centro de Ciência Animal e Veterinária, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (CECAV ‒ UTAD)