Transporte e distribuição na indústria alimentar: como a logística eficiente pode ajudar a superar os desafios do setor

Quando falamos de transporte e distribuição de produtos alimentares em Portugal deparamo-nos com diversos desafios logísticos, assim como oportunidades significativas. Estas oportunidades, são em grande parte, devido à localização geográfica do nosso país, à crescente digitalização do setor e à sua integração no mercado europeu. A nossa indústria alimentar é altamente diversificada, envolvendo uma complexa cadeia logística, que inclui transportes por via terrestre, marítima e aérea, cada um com as suas particularidades e desafios.

Em Portugal, por exemplo, o transporte rodoviário é o meio mais utilizado na distribuição alimentar, quer no mercado interno, quer nas exportações dentro da União Europeia. Apesar de ser eficiente, o transporte rodoviário enfrenta alguns desafios, como o congestionamento urbano, os custos elevados dos combustíveis e a manutenção da frota. A desigualdade geográfica é também mais um desses obstáculos, uma vez que regiões do interior do país, assim como o centro e o Alentejo, sofrem com a falta de infraestruturas logísticas adequadas, dificultando a distribuição eficiente para essas zonas. Outro ponto crítico, é a infraestrutura ferroviária que permanece subutilizada, apesar do seu potencial para o transporte intermodal de produtos alimentares, que reduziria em particular, o tráfego rodoviário. Este setor enfrenta também uma crescente escassez de mão de obra qualificada, como por exemplo a falta de motoristas, tornando-se uma preocupação constante para as empresas do setor.

Os transportes marítimos também enfrentam igualmente alguns desafios relacionados com a burocracia portuária, assim como limitações de infraestrutura em alguns portos menores. Para além disso, as alterações climáticas e condições adversas, como tempestades e fenómenos naturais, podem alterar a programação dos navios, causando atrasos nas entregas e o aumento nos custos operacionais. A via marítima tem um papel crucial na indústria alimentar, especialmente para exportações intercontinentais. Os portos, como o de Leixões, o de Lisboa e o de Sines, são as principais portas de saída de produtos alimentares para o resto do mundo, com especial destaque para a cadeia de frio, que é essencial para o transporte de produtos perecíveis, como o pescado.

Os conflitos políticos em regiões estratégicas do comércio internacional, também têm provocado disrupções significativas nos transportes marítimos, impactando diretamente a cadeia logística da indústria alimentar - incluindo o contexto português. A indústria agroalimentar portuguesa, que está fortemente integrada nos fluxos globais de comércio, depende da estabilidade marítima para garantir o abastecimento contínuo de matérias-primas, bem como a exportação de produtos como o vinho, o azeite, conservas e de produtos hortofrutícolas.

A guerra na Ucrânia, por exemplo, reduziu drasticamente as exportações de cereais via Mar Negro, elevando os preços de trigo e milho - ambos fundamentais para a produção alimentar e pecuária nacional. Adicionalmente, os ataques a navios no Mar Vermelho em 2023-2024, levaram a desvios de rotas, atrasos nas entregas e ao aumento dos custos logísticos em portos como o de Sines, que é uma das principais portas de entrada para mercadorias em Portugal. Estes constrangimentos levam a aumentos de preços, redução da margem de operação das empresas alimentares e, em casos mais críticos, comprometem a segurança alimentar, especialmente em cadeias mais frágeis ou altamente dependentes de importações. Assim, a instabilidade geopolítica constitui um fator de risco crescente para a logística alimentar nacional, exigindo ao setor estratégias de diversificação de fornecedores, uma maior previsibilidade logística, reforço das infraestruturas portuárias e de armazenamento.

O transporte aéreo pode também ser uma alternativa para produtos perecíveis, particularmente na distribuição de produtos alimentares de alto valor e curta validade, como peixes, mariscos, frutas, produtos lácteos, carnes e de alguns produtos gourmet (como azeite e vinhos). Embora o uso do transporte aéreo seja limitado devido ao seu custo elevado, é uma solução necessária para nichos específicos que exigem entregas rápidas e a preservação da qualidade dos alimentos. A posição geográfica estratégica de Portugal, juntamente com o crescimento das exportações de alimentos de alta qualidade, torna o transporte aéreo uma opção viável e necessária. No entanto, desafios como custos, as infraestruturas e a regulamentação, exigem um planeamento cuidadoso por parte das empresas para maximizar os benefícios deste modo de transporte. (...)

Por Rita Abreu
Gestora Operações Logística, Cerealis

Leia o artigo, na íntegra, na TecnoAlimentar nº 43, abril/ junho 2025 dedicada ao tema "Desafios na logística na indústria alimentar"

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