Suplementos Alimentares: uma resposta científica à era da hipervigilância nutricional

FOTOGRAFIA TATEVOSIAN YANA/ SHUTTERSTOCK
Vivemos numa época em que a saúde e o bem-estar se transformaram em verdadeiros drivers sociais. Multiplicam-se ginásios, personal trainers, nutricionistas digitais e dietas que prometem longevidade e vigor. É um cenário sedutor, sobretudo nas redes sociais, mas que nem sempre corresponde à vida real da maioria de nós. Confesso, os ginásios proliferam à minha volta, mas raramente os frequento. Entre o trabalho, as exigências do dia-a-dia e os ritmos que se aceleram sem pedir licença, o cuidado com a alimentação torna-se menos um ritual e mais uma luta silenciosa pela sobrevivência saudável.
Nesse contexto, os suplementos alimentares assumem um apelo quase imediato. Cápsulas que prometem energia, concentração, imunidade ou equilíbrio metabólico tornam-se atalho e aspiração. Mas será este um caminho seguro? Esta preocupação é partilhada pela TecnoAlimentar que dedica neste número um dossier a este tema.
O mercado dos suplementos alimentares cresceu exponencialmente, movido tanto por necessidades reais, como por expectativas culturais. Hoje, mais do que simples complementos nutricionais, representam um estilo de vida. Há quem os procure para melhorar a performance desportiva, outros para compensar aquilo que a alimentação já não supre, seja por falta de tempo, de acesso ou de qualidade. A estética física, a prevenção de doenças ou a promessa de uma vitalidade renovada são igualmente a força motriz desta procura. Contudo, esta tendência é acompanhada por uma preocupante iliteracia em matéria de microbiota e funcionalidade nutricional. Por exemplo, esquecemo-nos que a maior parte dos consumidores não distingue, um probiótico de um prebiótico.
A autenticidade dos suplementos é um dos problemas mais prementes. Estudos recentes denunciam irregularidades entre o que os rótulos prometem e o que as cápsulas realmente contêm. Ingredientes adulterados, rotulagem incompleta ou enganosa, e a presença de compostos químicos não declarados revelam uma zona cinzenta entre a ciência e o marketing, eventualmente passando pela fraude. Acresce o facto de muitos ingredientes serem importados de mercados (p.e. compra online), onde o controlo da qualidade pode ser menos rigoroso ou inexistente, o que suscita preocupações químicas, ambientais e éticas.
Neste cenário, o papel da ciência é indispensável. Investigadores e entidades reguladoras estão alinhados no combate à desinformação e à falta de qualidade dos produtos que estão disponíveis para o consumidor. Pois, só através de métodos robustos, como a cromatografia, espectrometria, análise metabolómica, é possível autenticar fórmulas, identificar adulterantes e garantir a segurança do consumidor. A indústria, por seu lado, não pode ignorar o dever ético de transparência, rastreabilidade e certificação das matérias-primas, sobretudo num mercado em que a confiança é um ativo tão valioso, quanto frágil.
Tal como a alta-costura exige a qualidade invisível de um bom corte, aquilo que só um olhar treinado reconhece, também os suplementos alimentares exigem uma atenção que vá além da embalagem elegante e das promessas sedutoras. Como sabemos, o bem-estar não pode ser delegado apenas ao marketing; depende muito da ciência, responsabilidade e escolhas informadas.
Editorial da TecnoAlimentar 45, outubro/ dezembro 2025, dedicada ao tema "Suplementos alimentares: Benefícios e autenticidade"
Sub-diretora da TecnoAlimentar
Se quiser colocar alguma questão, envie-me um email para info@tecnoalimentar.pt
Outros artigos que lhe podem interessar