Novas fronteiras para a potencial valorização sustentável dos resíduos da cultura da banana e da vinha

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De acordo com as estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), a população mundial deverá alcançar cerca de 9,80 bilhões de pessoas até o ano de 2050, valor que representa um crescimento aproximado de 20 % face à população atual.

Este aumento demográfico expressivo, aliado às alterações climáticas persistentes e à redução progressiva das áreas agrícolas disponíveis, configura um desafio global e societal de grande envergadura, que coloca em risco a capacidade de produção alimentar para suprir as necessidades futuras da humanidade.

Considerando as atuais tendências de consumo e desperdício alimentar, assim como o crescimento populacional, calcula-se que, em 2050, será necessário produzir cerca de 60 % a mais de alimentos do que produzimos hoje. Estes números preocupantes suscitam, de forma legítima, questões fundamentais acerca da capacidade de alimentar toda a população mundial no futuro próximo.

Além das dificuldades inerentes à produção, o setor agroalimentar contribui significativamente para a geração de quantidades substanciais de resíduos. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), aproximadamente um terço dos alimentos produzidos globalmente para consumo humano não é efetivamente utilizado para esse fim, sendo perdido ou desperdiçado. Observa-se uma distribuição geográfica diferenciada desses resíduos agroalimentares, predominando em mais de 90% na Ásia e na África.

Adicionalmente, verifica-se que nos países desenvolvidos o desperdício alimentar é mais pronunciado do que as perdas, fator que se deve à abundância de alimentos e ao elevado poder de compra. Em contraste, nos países em desenvolvimento, a proporção de alimentos perdida é superior à desperdiçada, o que se relaciona principalmente com a insuficiência de infraestruturas agrícolas adequadas e falta de recursos para a conservação e distribuição adequadas dos alimentos.

Das cerca de 1,3 mil milhões de toneladas de resíduos agroalimentares produzidos globalmente, 56 % ocorrem em países desenvolvidos e 44 % em países em desenvolvimento. As regiões da Ásia, América do Norte e Oceânia são as que mais contribuem para esta problemática, refletindo as diferenças nos sistemas produtivos, logísticos e de consumo.

A elevada quantidade de resíduos gerados pelo setor agroalimentar configura um problema a nível mundial, uma vez que acarreta efeitos negativos em múltiplas vertentes. Do ponto de vista social, estes resíduos traduzem uma perda significativa de nutrientes e comprometem a disponibilidade de alimentos, contribuindo para o aumento da fome e da insegurança alimentar, além de contribuir para o aumento dos preços dos alimentos. Do ponto de vista económico, tais perdas relacionam-se com os custos elevados na produção de alimentos que não chegam ao consumidor, incluindo despesas com água, energia, solo e mão-de-obra. Do ponto de vista ambiental, o impacto é particularmente preocupante, visto que a decomposição dos resíduos agroalimentares resulta na emissão de aproximadamente 3,3 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, reforçando os gases com efeito estufa e contribuindo significativamente para as alterações climáticas globais. (...)

Por José S. Câmara
CQM—Centro de Química da Madeira, Universidade da Madeira
Departamento de Química, Faculdade de Ciências Exatas e Engenharia,
Universidade da Madeira

Leia o artigo completo na TecnoAlimentar 44, julho/ setembro 2025, dedicada ao tema "Frescos: reduzir do desperdício"

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