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Revista TecnoAlimentar

Tecnologias inovadoras para valorizar o remanescente da produção de moluscos e peixes

Estima-se que até 70 % dos recursos provenientes da pesca e da aquicultura, conhecidos como capturas acessórias ou fluxos laterais, acabam como produtos de baixo valor ou mesmo como resíduos. É, portanto, necessário desenvolver um sistema de recuperação mais eficiente e sustentável para estes resíduos e remanescentes, a fim de os converter em produtos comercializáveis com maior valor acrescentado. 

Neste contexto, o centro tecnológico AZTI implementou com sucesso e êxito diferentes tecnologias e processos para dar um novo uso a diferentes subprodutos líquidos e sólidos gerados a partir do manuseamento e processamento de moluscos e peixe no âmbito do projeto europeu WaSeaBi

Por um lado, foram obtidos novos ingredientes a partir da água de cozedura de mexilhões produzidos na empresa Pescados Marcelino; por outro lado, foram obtidos ingredientes salgados com sabor a umami a partir de resíduos sólidos de bacalhau, arenque, pescada e salmão; e, finalmente, foram também obtidos produtos proteicos ricos em péptidos antioxidantes a partir de proteínas de bacalhau e pescada.   

Além disso, o centro tecnológico, em colaboração com a Universidade de Gand e a Universidade Técnica da Dinamarca (DTU), contribuiu para o desenvolvimento de software destinado a orientar a indústria da pesca e da aquicultura na utilização de resíduos de marisco.

"A ferramenta inclui uma avaliação dos aspectos técnicos, legais, ambientais e económicos dos processos inovadores implementados durante a iniciativa para produzir novos ingredientes e, dependendo das características do fluxo de subprodutos a ser recuperado, decidir sobre a alternativa mais favorável", explica Bruno Iñarra, especialista da AZTI em recuperação de subprodutos. 

Tecnologias inovadoras

Para desenvolver estes novos ingredientes e produtos, os especialistas da AZTI implementaram diferentes tecnologias inovadoras. 

No caso da água de cozedura do mexilhão, foi utilizado um processo com membranas semipermeáveis para separar os componentes específicos desejados e também para reduzir a carga ambiental.

Além disso, uma tecnologia baseada em enzimas, proteínas que actuam como catalisadores biológicos para acelerar as reacções químicas necessárias, foi utilizada para produzir saborosos ingredientes salgados. O sistema foi alargado a uma escala piloto nas instalações da empresa Barna, que recupera subprodutos de peixe de empresas de conservas, peixarias e outras indústrias de pesca.

Por último, a AZTI validou nas suas instalações a aplicação da hidrólise de proteínas para o desenvolvimento de hidrolisados proteicos com capacidade para proporcionar benefícios nutricionais. 

O processo permite que as proteínas do peixe sejam decompostas em fragmentos mais pequenos, tais como péptidos e aminoácidos, através da ação de enzimas ou ácidos, resultando numa mistura de fragmentos proteicos mais pequenos que são mais fáceis de digerir e absorver pelo organismo.

"Exemplos disso são o Hidrolisado de Proteína de Peixe ou o Hidrolisado de Colagénio de Peixe, que podem conter ácidos gordos ómega 3 e outros nutrientes benéficos e são altamente valorizados para a formulação de produtos alimentares, suplementos nutricionais e produtos de higiene pessoal", acrescenta Iñarra.

A iniciativa WaSeaBi, cujo nome deriva das palavras "resíduos", "correntes laterais da pesca e da aquicultura" e "bioeconomia" (WAste, SEAfood side-streams and BIoeconomy), envolveu 13 parceiros da Dinamarca, Suécia, Espanha, França e Bélgica e um orçamento total de 4 158 214 euros. 77% do financiamento provém do instrumento "Join Undertaking" (JU) das indústrias de base biológica no âmbito do programa de investigação e inovação Horizonte 2020 da União Europeia. A JU é também apoiada pelo Consórcio das Indústrias de Base Biológica.