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Revista TecnoAlimentar

Valorização de subprodutos no setor agroalimentar

Por Elisabete Matos | Diretora de Inovação – Soja de Portugal

agroalimentar

Um dos maiores (e mais divulgados) desafios da Humanidade é garantir uma alimentação saudável e abundante, face ao crescimento exponencial da população humana.

Decerto que é já do conhecimento geral o relatório das Nações Unidas que estima o crescimento populacional: 7.3 biliões hoje, 8.5 em 2030, 9.7 em 2050, 11.2 em 2100.

Claro está que este crescimento não é uniforme. De facto, a população europeia está em envelhecimento e, se o saldo demográfico é positivo, tal deve-se apenas ao afluxo de imigrantes.

Além do potencial cenário global de escassez alimentar, a Europa enfrenta um desafio mais imediato: o défice proteico.

Atualmente, a União Europeia importa cerca de 70% da proteína necessária para a alimentação animal (essencialmente sob a forma de proteína vegetal).

Apenas uma pequena parte do solo europeu é arável, e as condições não se comparam às de outros países (tais como EUA, Brasil, Argentina), muitas vezes inviabilizando investimentos na área da agricultura.

Por outro lado, cerca de 88 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçadas anualmente na União Europeia (com custos estimados em 143 milhões de euros).

Num mundo ideal e focado nos 3 R’s (reduzir, reutilizar, reciclar), uma estratégia focada na economia circular e na valorização de subprodutos seria a pedra basilar.

Desde os produtos de menor valor acrescentado (como biodiesel e matérias-primas para a alimentação animal) aos compostos para aplicação cosmética, nutracêutica e até farmacêutica e biomédica, o potencial é quase ilimitado.

A maioria das indústrias agroalimentares gera subprodutos da sua atividade, muitos com propriedades biológicas interessantes, que estão subaproveitados e que têm um impacto económico e ambiental significativo.

Urge definir estratégias de valorização diferenciada, de acordo com as aplicações pretendidas, e tendo em consideração o enquadramento legal da União Europeia, muito focado na gestão de risco para o consumidor.

O projeto VALORINTEGRADOR pretendeu dar resposta a algumas destas questões.

O principal objetivo do projeto foi a criação de ingredientes de valor acrescentado, a partir de subprodutos alimentares, que trouxessem benefícios às diferentes indústrias envolvidas, gerando receitas adicionais e diminuindo os custos atuais de tratamento dos subprodutos, contribuindo, desta forma, para a sustentabilidade do setor.

Uma das características inovadoras do projeto, foi a utilização de uma estratégia de valorização integrada.

As frações de menor valor obtidas no processo de extração ou purificação de ingredientes para alimentação humana foram rentabilizadas, em muitos dos casos com valor acrescido, na alimentação animal.

Alguns destes ingredientes constituem meios de promoção de ações fisiológicas especificas, de crescimento ou melhoria de saúde nos animais.

Foram diversos os ingredientes desenvolvidos para a alimentação humana, incorporados em alimentos comuns, como o pão, a cerveja sem álcool ou o paté de peixe – permitindo aumentar o valor nutricional destes alimentos de forma sustentável.

A obtenção integrada de colagénio e hidroxiapatite a partir de subprodutos permitiu obter compostos bioativos a explorar posteriormente no sector da biomedicina.

Estes são apenas alguns exemplos das possibilidades de valorização de compostos que, de outra forma, constituiriam um encargo adicional para a indústria e para o planeta.

O projeto VALORINTEGRADOR contribuiu decisivamente para a sensibilização das empresas do sector para a importância deste tema e para o desenvolvimento, até 2020, de uma Europa de recursos eficientes.