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Revista TecnoAlimentar

Trinta e um quilos de chá branco dos Açores renderam cerca de três mil euros no mercado

É produzido nos campos experimentais do Serviço de Desenvolvimento Agrário de São Miguel, localizados nas Sete Cidades, e tem vindo a ganhar cada vez mais popularidade além fronteiras. O chá branco tipo 'Pai-Mu-Tan' produzido na Sete Cidades, obtido das plantas 'Camellia sinensis' var assamica tem tido cada vez mais interessados quer em prová-lo quer em adquiri-lo. Embora o objetivo deste trabalho experimental, liderado pela engenheira agrónoma Clara Estrela Rego, não seja a venda, a quantidade das delicadas folhas colhidas justifica a sua colocação no mercado. E já há três anos que assim é.

cha branco

Todos os anos, dos cerca de três mil metros quadrados ocupados pela cultura do chá são colhidas «com um cuidado extremo por pessoas treinadas para tal», as «folhas inteiras» compostas pelo «gomo principal da rebentação e primeira/segunda folhas tenras, as quais apresentam uma característica penugem aveludada», explica a técnica do SDASM, Clara Estrela Rego.

A colheita é feita manualmente, a secagem é feita «preferencialmente com recurso a energia solar» e os lotes são depois colocados à venda, através de licitação. Este ano, os 46 quilos de chá disponibilizados foram distribuídos por sete lotes (consoante o período de colheita) e apenas 31,4 quilos foram adquiridos por quatro empresas. Duas delas são de fora da região: uma do Funchal (Loja do Chá PNJA Ldª) e outra da Holanda (Het Zuyderblad). As restantes são das Sete Cidades (Quinta da Queiró) e de Ponta Delgada (Terra Verde Tea House).

O chá vendido nas últimas semanas diz respeito à campanha anterior (2020), assim como tem sido sempre. E foi adquirido a uma média de 91 euros o quilo, tendo sido vendidos 31,4 quilos, dos 46,5 quilos colocados à venda. Apesar de apenas ter sido comercializado ao longo de três anos, este foi o segundo ano em que o chá branco das Sete Cidades foi adquirido a um valor médio tão elevado. Só a primeira venda, em 2019 (relativamente à colheita de 2018), representou um valor médio por quilo mais elevado: 136,91 euros. Também nesse ano foi colocada à venda a maior quantidade de sempre (60,4 quilos) e que foi toda adquirida por quatro compradores, embora tivesse havido oito proponentes.

De acordo com dados do Serviço de Desenvolvimento Agrário de São Miguel, em 2020 (relativamente à colheita de 2019), foram colocados à venda sete lotes de chá branco, que representaram um total de 49,1 quilos. Houve apenas três proponentes nesse ano, tendo sido adquiridos somente 37,1 quilos, que foram vendidos a um preço médio de 68 euros/quilo.

De realçar que os compradores de fora da região «tiveram de suportar o valor do transporte, montante que não está refletido nos valores» finais do valor médio por quilo.
Clara Estrela Rego realça que «o chá vendido tem sido sempre da campanha anterior. O chá branco, desde que conservado em condições adequadas, pode ser guardado por muito tempo. Com o decorrer do tempo vai ganhando complexidade. Por isso, fala-se em chá branco envelhecido».E é esse o resultado do chá que não é vendido: «é destinado ao envelhecimento, para podermos avaliar o seu comportamento com o tempo. É também utilizado na própria administração pública regional, sendo incentivado o seu consumo».

Cada proponente tem de ter actividade comercial, neste caso só pode comprar dois lotes, e tem depois a obrigação de divulgar a origem do chá e o trabalho desenvolvido pelo SDASM. A responsável pela área do chá no Centro Experimental das Sete Cidades, diz que essa divulgação é depois visível na procura de interessados em visitar os campos experimentais nas Sete Cidades.

«Julgo conseguir identificar o arranque de todo este processo», começa por explicar enquanto recua no tempo, até 2015, para lembrar um protocolo de colaboração entre o SDASM e a Companhia Portugueza do Chá, que durou dois anos (2015 – 2017).
«Essa parceria possibilitou-nos melhorar o chá produzido e fazer prospeção de mercado. Esse protocolo proporcionou aconselhamentos e pareceres técnicos ao chá branco do SDASM e em paralelo a sua colocação no mercado. Foi esta possibilidade que evidenciou a existência de compradores, que se tornaram fieis ao chá branco do SDASM. Concluído o protocolo do chá que estava à venda pela Companhia Portugueza do Chá, «sofremos» alguma pressão para que vendêssemos o produto. Assim, decidimos dar início à venda através de licitação. Na sequência das vendas, os nossos trabalhos têm ganho projecção, sendo disso reflexo o número de pessoas que nos procuram para conhecer melhor o trabalho desenvolvido e visitar a plantação», explica. E foi dessa parceria e desse interesse que adveio «a possibilidade de nos tornarmos sócios da Associação de Plantadores de Chá da Europa (Eu-T), jovem associação que já tem perto de 40 sócios. São bastantes os projectos de plantações e produção de chá existentes na Europa, em países tão diversos como Itália, França, Escócia, Holanda, Suíça, Alemanha, sem esquecer Portugal continental. Fazer parte dessa associação permite-nos trabalhar em rede, com partilha de know how, algo inquestionavelmente proveitoso para todas as partes».

Campos experimentais para continuar

Clara Estrela Rego faz um balanço «bastante positivo» do interesse que o chá branco tem suscitado «a avaliar pelo crescente interesse por este produto». É que «o SDASM trabalha com o chá a um nível experimental e cabe-nos divulgar os trabalhos desenvolvidos. No caso em apreço pretendemos que a cultura, nomeadamente da Camellia sinenis, variedade assamica, que é a que dispomos, ganhe adeptos e que o consumo do chá aumente, pois é uma bebida benéfica para a saúde. E isto tem vindo a verificar-se».

E por isso mesmo entende que os campos experimentais das Sete Cidades, «devem continuar, uma vez que o que há a estudar não se esgota com os resultados obtidos até agora. Não podemos esquecer que a vertente agronómica, com a condução da cultura segundo princípios sustentáveis, é a base do nosso trabalho. Para além disso há que averiguar todo o potencial da variedade em questão, seja para a produção de chá verde, chá preto ou outros. Portanto, no meu entender, há mais por fazer do que aquilo que já foi feito. Colocar em marcha projetos desta natureza exigem muito empenho, vontade, paciência e persistência», destaca.

Por que é tão especial?

Clara Estrela Rego começa por destacar que o chá branco, tipo Pai-Mu-Tan, produzido na Sete Cidades pelo SDASM, «é resultado de um importante esforço de uma equipa empenhada na procura da qualidade e inovação. É obtido de plantas da Camellia sinensis var. assamica, a colheita é feita manualmente e a secagem é feita preferencialmente com recurso a energia solar. O resultado é uma chá de “folhas inteiras” composto pelo gomo principal da rebentação e primeira/segunda folhas tenras, as quais apresentam uma característica penugem aveludada».

Isso em parte é o que torna especial este chá tão apreciado por todo o mundo. «Parece-me que são vários os fatores que contribuem para a «especialidade» do chá branco, tipo Pai-Mu-Tan do SDASM. Nomeadamente, ser cultivado na emblemática cratera das Sete Cidades sem o recurso a qualquer produto sintético, ser proveniente da Camellia sinensis var. assamica, ser colhido com um cuidado extremo por pessoas treinadas para tal, ser seco com recurso a energia solar e, finalmente, ser um produto inovador em São Miguel», destaca.
E acrescenta que «é nosso desejo sermos referência para outros produtores e por isso tem sido nosso apanágio apoiar, em tudo quanto está ao nosso alcance, todos aqueles que querem usufruir do conhecimento que temos vindo a ganhar, sobre este assunto. Para além disso também tem sido nosso desiderato contribuir para uma ampla divulgação sobre o que é um Chá Branco de qualidade, pois consumidores informados são os melhores juízes e definem o mercado», conclui a engenheira agrónoma do SDASM responsável pela área do chá.

Fonte: Correio dos Açores