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Revista TecnoAlimentar

Pescado: Identificada camada de proteínas que protegem Douradas de doenças

Investigadores do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade de Córdoba, em colaboração com a Universidade de Múrcia, identificaram pela primeira vez o conjunto de proteínas presentes no muco da pele da dourada. O estudo demonstra que estas biomoléculas estão implicadas na resposta da imunidade do peixe, pelo que a sua identificação é o primeiro passo para a prevenção de infeções bacterianas durante o seu cultivo. Estas doenças, segundo os cientistas, são um dos principais problemas que afeta o setor aquícola, provocando perdas económicas significativas.

A análise de proteínas também permitiu aos especialistas identificar uma série de microrganismos de origem bacteriana que fazem parte dos micróbios da pele e que, tal como a flora intestinal, vivem de forma natural na epiderme da dourada. Até agora, segundo os autores, conheciam-se poucos dados da composição desta microflora, pelo que a sua análise trará nova informação acerca do seu papel na defesa do organismo contra patógenos.

Os investigadores caracterizaram um total de 52 proteínas presentes no muco da pele da dourada, uma capa que envolve a epiderme e atua como barreira protetora entre o organismo e o meio envolvente. Esta cobertura mucosa, presente em todos os peixes, é semipermeável, permitindo o intercâmbio de substâncias (nutrientes, água, gases, hormonas...) entre a pele e o ambiente.

A estrutura da mucosa varia em função de fatores endógenos e exógenos. Os primeiros têm relação com parâmetros como a idade ou o sexo. Por seu lado, os externos fazem referência a aspetos como a nutrição, a qualidade do meio ou o estado de saúde do peixe. "Na função destas condicionantes, a composição de proteínas de muco difere, tanto em variedade como em quantidade. Assim, elaboramos o primeiro perfil proteómico do muco da dourada sã de aquicultura, ou seja, definimos o conjunto de proteínas presentes nesta nova estrutura numa determinada circunstância como o bom estado geral de saúde do animal", explica à Fundação Descobre a investigadora principal deste projeto, María José Prieto-Álamo, da Universidade de Córdoba.

Das proteínas identificas, a maioria delas está relacionada com a resposta imune do organismo perante substâncias e agentes estranhos. Para os especialistas, esta característica reforça o papel da mucosa como primeira barreira de defesa contra as doenças.

Douradas

Desta forma, a investigadora assinala que o proteoma da mucosa de douradas sãs atua como uma espécie de marcador de referência, já que qualquer mudança na sua composição indicará, por seu lado, uma modificação dos fatores que o afetam. "Se uma dourada está doente, as proteínas do muco da sua pele serão diferentes das do peixe são. Assim, as variações do perfil proteómico será um indicador de que algo está a mudar no peixe", assegura.

A partir destas modificações os especialistas poderão deduzir, por exemplo, se a dourada está ou vai sofre alguma doença bacteriana durante o seu cultivo. "Este tipo de infeções é habitual na aquicultura, afetando gravemente o setor. Se identificarmos atempadamente as proteínas que variam a sua expressão na mucosa doente, seremos capazes de prevenir a doença e de evitar perdas económicas no cultivo da dourada, uma indústria que, por volume de produção e valor comercial, ocupa o primeiro posto na Andaluzia", indica Prieto-Álamo.

Bactérias comensais

Durante a análise da mucosa, cujo perfil completo se reúne no artigo "Proteómic profile of the skin mucus of farmed gilthead seabrem (Sparus aurata)", publicado na revista Journal of Porteomics, os investigadores descobriram outra série de proteínas que não encaixavam no perfil proteómico da dourada, mas que tinham uma origem bacteriana.

A microbiota está integrada numa ampla variedade de espécies bacterianas que protegem contra a colonização de outros microrganismos patógenos. Esta flora microbiana está presente no intestino, mucosas, pele e outros tecidos, tanto de animais como de humanos.

No caso da microbiota da epiderme da dourada, os investigadores assinalam que está formada por bactérias comensais, ou seja, que aprontam ao organismo hospedeiro, o peixe, um benefício em troca de outro. "Trata-se de um aproveitamento mútuo que é conhecido como simbiose comensal. A bactéria encontra um habitat protegido e rico em nutrientes e a dourada está protegida contra patógenos oportunistas que ocupariam o lugar da bactéria se esta não estivesse lá", explica a especialista.

Esta concorrência entre as bactérias que crescem de forma natural na pele e os microrgranismo patógenos denomina-se antagonismo microbiano, um mecanismo defesa para proteger o animal de agentes estranhos. "Desconhece-se a função específica da microbiota do muco da pele da dourada. Apenas sabemos que está formada pro bactérias comensais mas este estudo é um primeiro passo para aprofundar sobre o seu papel protetor e preventivo de doenças", indica a responsável deste projeto, financiado pelo Ministério de Economia e Competitividade espanhol.

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