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Revista TecnoAlimentar

Fumeiro: um impulso económico no norte de Portugal

Boticas, Montalegre e Vinhais são três concelhos onde a produção de fumeiro está fortemente implementada. Além do dinamismo que injeta à economia local, esta atividade é também ela importante na medida em que impulsiona a agricultura e mantém vivos saberes e práticas ancestrais. Fomos saber que impacto real tem o fumeiro tradicional nestes três municípios.

fumeiro

Reportagem: Ana Clara Fotos: Câmaras de Boticas e Vinhais; Ricardo Moura (Câmara de Montalegre)

Boticas

Começamos por Boticas, em pleno Trás-os-Montes. Aqui é impossível falar de gastronomia sem falar no fumeiro e seus derivados, em especial do porco.

Fernando Queiroga, presidente da Câmara de Boticas, começa por explicar que Boticas «é um concelho rural onde o setor agropecuário continua a ser uma forma de vida e de sustento de muitas famílias e associado a este setor está, naturalmente, a produção de fumeiro, uma atividade que se revela de grande importância, a nível económico, para muitos agregados familiares».

Apesar de este ser um setor que requer muito trabalho e onde a rentabilidade nem sempre é imediata, «ainda há muitos agricultores a aproveitar os recursos endógenos existentes no concelho e a apostar na produção de fumeiro», destaca, realçando que «valor gera mais valor e os produtos quando são de qualidade acabam por ser reconhecimentos e alvo de muita procura e é isso que acontece com o fumeiro de Boticas».

Para o autarca, «o nosso desafio passa exatamente por aqui, por apoiar e incentivar a população, nomeadamente os mais jovens, a apostar neste setor e, acima de tudo, a tornarem o nosso concelho mais rico».

O responsável diz que, «sem dúvida que o fator diferenciador é a forma como o fumeiro e os enchidos de Boticas são produzidos, pois estão em causa saberes e práticas seculares que, graças ao empenhamento dos agricultores, ainda vão perdurando no tempo». «Mas a qualidade do nosso fumeiro não se alcança apenas através da forma como são feitos, a qualidade concretiza-se muito antes disso. O modo como os animais são criados e alimentados e a produção artesanal dos enchidos fazem toda a diferença no resultado final. É a conjugação de todos estes fatores que faz com que, em primeiro lugar, o fumeiro de Boticas seja valorizado e, em segundo, seja apreciado e conhecido um pouco por todo o território nacional e também além-fronteiras, nomeadamente na região da Galiza, em Espanha, pela proximidade geográfica que temos com este país», explica.
Fernando Queiroga refere que, «estando o concelho de Boticas localizado numa zona rural, onde as populações vivem essencialmente da agricultura e pecuária, é normal que a produção de fumeiro seja ainda uma das atividades que vai resistindo».

(...)

Montalegre

«Montalegre ficou conhecida, em todo o país como a terra da batata, mas está a fazer um trabalho com os produtores de fumeiro, que nos próximos anos será falada como a terra do “Bom Presunto”», é desta forma que Orlando Alves, presidente da Câmara de Montalegre começa por falar da importância deste setor no seu concelho.

«É do porco criado em regime tradicional e alimentado com os subprodutos da atividade agrícola que se desenvolveu o setor económico de maior importância da comunidade Barrosã – criando a marca “Fumeiro de Montalegre”. Embora a transformação do porco resulte numa lista considerável de produtos tradicionais, o presunto, a alheira, a chouriça de carne, o salpicão, a sangueira, e o chouriço de abóbora são os produtos de eleição da região, e que assumem o papel de destaque na Feira do Fumeiro e Presunto de Montalegre», recorda o edil.

Este setor económico nasceu em 1992, quando a Câmara de Montalegre decidiu criar a primeira edição da Feira do Fumeiro, e foi-se desenvolvendo até à atualidade a um «ritmo consistente e sustentável, fruto das políticas locais da Câmara.

«Hoje, em termos económicos, é um setor extremamente importante tendo em conta os números envolvidos e a riqueza criada e a importância que têm para o desenvolvimento de outras atividades económicas, nomeadamente a restauração, hotelaria e outros serviços turísticos», considera.

Orlando Alves explica que a comercialização do fumeiro de Montalegre consiste, sobretudo, na venda direta ao consumidor final, no entanto, a venda a intermediários, sobretudo para a restauração e comércio esteja a ser explorada pelos produtores com planos mais ambiciosos de crescimento. O período de atividade produtiva é sazonal, apenas nos meses de maior frio, tão característico de Montalegre, e tem lugar em estabelecimentos de fabrico licenciados pelas autoridades competentes para o efeito, e a comercialização é feita pelos produtores através da participação na Feira do Fumeiro e Presunto de Montalegre e também em outros certames similares de produtos locais em concelhos limítrofes. «Fruto da fidelização de clientes, hoje os produtores também conseguem comercializar no seu próprio esclarecimento», informa o edil.

Leia ainda nesta reportagem a entrevista a Luís dos Santos Fernandes, presidente da Câmara de Vinhais, que fala da importância do fumeiro no seu concelho. Vinhais é conhecida
como a “Capital do Fumeiro”.

(continua)

Nota: Reportagem publicada na edição impressa da TecnoAlimentar 19, no âmbito do dossier Fumeiros Tradicionais.

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