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Revista TecnoAlimentar

Efeito do consumo de pesticidas na saúde humana

  • 13 novembro 2018, terça-feira
  • mercados

Por Marcelo Leitão, Rita Miranda, Humberto Rocha, Teresa Letra Mateus

pesticidas

Resumo

Os pesticidas são uma ferramenta bastante vulgarizada na agricultura contudo comportam riscos sérios para a saúde ambiental, animal e humana.

Aqui fazemos uma breve reflexão sobre o uso e o controlo de pesticidas em alimentos a nível global.

Introdução

Devido ao aumento exponencial da população tem existido uma maior demanda alimentar, e por isso cresce também a necessidade de amplificar a produção de alimentos. O uso de pesticidas, é uma das medidas aplicadas para prevenir a perda de colheitas pela ação de insetos, fungos e/ou outras pragas/plantas indesejáveis. O seu uso aumentou drasticamente nas décadas de 60 e 90, sendo que nos países subdesenvolvidos este aumento continua a decorrer (Akoto et al., 2015).

Os pesticidas são definidos, pela Agência de Proteção Ambiental Americana, do inglês United States Environmental Protection Agency, como qualquer substância ou mistura de substâncias cuja intenção é prevenir, destruir ou repelir algum tipo de praga. Para além das substâncias ativas, os pesticidas são ainda constituídos por químicos inertes como solventes, surfatantes e conservantes cuja toxicidade é diferente da substância ativa principal (Blair, Ritz, Wesseling, & Freeman, 2014). Desta forma a sua função primária iria providenciar importantes benefícios em termos de saúde pública e produção alimentar, mas ao contrário de outras classes de químicos, estes são desenvolvidos especificamente para afetar seres vivos, sendo difícil de controlar os seus efeitos (Akoto et al., 2015).

Atualmente foram encontrados níveis residuais de metabolitos dos pesticidas em tecidos orgânicos da maioria da população mundial, incluindo grupos de risco mais suscetíveis aos efeitos nocivos da exposição aos pesticidas, como idosos, crianças e fetos em desenvolvimento (Blair et al., 2014). Esta contaminação ocorre não só através da ingestão de água e alimentos sujeitos aos efeitos dos pesticidas, mas também por concentração biológica que ocorre ao longo da cadeia alimentar (Blair et al., 2014; Cruz et al., 2012).

Por consequência, a preocupação relacionada com o perigo dos pesticidas para a saúde humana e para o meio ambiente tem se tornado um tema emergente (Akoto et al., 2015) uma vez que foram evidenciados potenciais efeitos carcinogénicos de alguns pesticidas como por exemplo as dioxinas e as suas subclasses (Blair et al., 2014; Guyton et al., 2015) e os organoclorados (Cruz et al., 2012).

Contexto Global

Nos últimos anos observou-se uma globalização das rotas comerciais dos alimentos, como o pescado, sendo necessária a compreensão da utilização dos pesticidas e seus efeitos noutras partes do globo, para além do território nacional (Cruz et al., 2012).

No Gana, um estudo refere a excedência do limite máximo de resíduos em tomates, beringelas e quiabo, sendo este último o que apresentava maior risco para a saúde humana (Akoto et al., 2015).

Estudos epidemiológicos e laboratoriais no Brasil evidenciaram que pesticidas como os organofosforados, organoclorados, piretróides e carbamatos têm potencial efeito nefasto na saúde humana, podendo levar a defeitos teratogénicos e alterações no sistema endócrino (Akoto et al., 2015). Outro estudo fala também no desenvolvimento de diabetes mellitus, carcinoma testicular, cancro da mama (principalmente se a exposição ocorrer antes dos 14 anos de idade) e ainda o desenvolvimento de asma (Barnhoorn et al., 2015).

Em relação às formas de absorção, um estudo no norte da Grécia compara o baixo potencial de risco de ingestão de água contaminada em relação à ingestão de alimentos contaminados, além de uma maior perigosidade no caso de crianças, uma vez que em comparação ao seu baixo peso corporal, apresentam um maior índice de absorção. Também referem uma variação sazonal na concentração de pesticidas na água diretamente relacionados com o aumento da aplicação dos mesmos (Papadakis et al., 2015).

Os dicloro-difenil-tricloroetanos (DDT) ainda são utilizados na erradicação de vetores da malária, como Anopheles funestus e Anopheles arabiensis, o que, infelizmente, resulta na contaminação ambiental, nomeadamente encontrado no tecido muscular de Clarias gariepinus, espécie de peixe consumido pela população local, alvo de um estudo na África do Sul, que conclui que apesar desta contaminação, as concentrações de DDT encontradas não estavam acima da permitida por lei (Barnhoorn et al., 2015).

Alguns pesticidas, nomeadamente os DDTs, são encontrados em locais muito distantes das regiões onde se sabe que foram aplicados, o que sugere que pode existir uma deposição atmosférica com consequente contaminação dos sistemas aquáticos (Barnhoorn et al., 2015).

Situação Nacional

Em 2016, o Programa Nacional de Controlo de Resíduos de Pesticidas, coordenado pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), concluiu que 44% das amostras de alimentos vegetais, num universo de 130, analisadas nesse ano não apresentavam quaisquer resíduos, 54,3% exibiam resíduos cujo a concentração era inferior ao limite máximo permitido. Apenas 1,67% do total analisado continham concentrações de pesticidas que excediam o limite máximo de resíduos (LMR), sendo que apenas 0,83% foram referidas com infrações. Além disso, várias amostras apresentavam mais do que uma substância (DGAV, 2017).

Apesar dos resultados, uma vez que comparativamente ao ano passado houve uma redução dos casos que resultaram em infração, António Lopes Dias, diretor executivo da Associação Nacional da Indústria para a Proteção das Plantas (ANIPLA), conclui que são resultados positivos resultantes do investimento do setor (Costa, 2018).

(continua)

Leia o artigo completo na edição n.º 17 da TecnoAlimentar.

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