A revolução invisível: o papel crucial da microbiota na saúde humana
Lara Pires1,2, Ana M. González-Paramás 2, Sandrina A. Heleno1,3, Márcio Carocho1,3, Ricardo C. Calhelha1,3
1 Centro de Investigação de Montanha (CIMO), Instituto Politécnico de Bragança
2 Grupo de Investigación en Polifenoles en Alimentos, Implicaciones en la Calidad y en Salud Humana, Facultad de Farmacia, Universidad de Salamanca
3 Laboratório Associado para Sustentabilidade e Tecnologia em Regiões de Montanha (SusTEC), Instituto Politécnico de Bragança
RESUMO
O ecossistema intestinal humano é um ambiente complexo, essencial para a saúde, suportado por uma comunidade bacteriana dinâmica. A microbiota intestinal coopera simbioticamente com o hospedeiro desde o nascimento, influenciando diversas funções metabólicas e imunitárias. A disbiose, um desequilíbrio na microbiota, está associada a uma variedade de doenças, incluindo distúrbios digestivos, doenças cardiovasculares e autoimunidade. Este desequilíbrio promove o crescimento de bactérias produtoras de toxinas, perturbando a homeostase do organismo e desencadeando inflamação. Fatores como genética, dieta e medicamentos influenciam a diversidade da microbiota intestinal. Diversas estratégias terapêuticas, incluindo probióticos, prebióticos e dietas específicas, têm sido propostas para lidar com a disbiose e promover a saúde intestinal. Esta revisão explora intervenções nutricionais para modular a microbiota intestinal e potencialmente beneficiar os pacientes.
INTRODUÇÃO
Desde os tempos de Hipócrates (400 a.C.), reconhece-se a influência do intestino na saúde humana, com o famoso ditado "a morte reside no intestino"(Cigarran Guldris et al., 2017). O termo microbioma é sinónimo de um conjunto genómico de microrganismos que habitam um nicho ambiental (Grice & Segre, 2012; Ursell et al., 2012). A microbiota é descrita como a coleção de microrganismos que formam uma comunidade ecológica de microrganismos comensais, simbióticos e patogénicos que partilham o nosso espaço corporal (Alegre et al., 2014). A colonização do trato gastrointestinal começa antes do nascimento, através da mãe via placenta. Estima-se que mais de 100 triliões de células bacterianas (geralmente bactérias não patogénicas) (Grice & Segre, 2012) coabitam no nosso corpo ao longo da nossa vida, constituindo 1,05 a 2 kg do nosso peso (O’Hara & Shanahan, 2006). A microbiota intestinal torna-se um ecossistema cada vez mais dinâmico e diversificado após o nascimento, influenciado por fatores como dieta (leite materno ou fórmula), tipo de parto (vaginal ou cesariana), higiene do bebé e uso de antibióticos (Cenit et al., 2017). A estabilização e semelhança com a microbiota adulta ocorre por volta dos 2-3 anos de idade (Palmer et al., 2007). Em indivíduos saudáveis, a composição da microbiota intestinal permanece relativamente estável e semelhante entre indivíduos da mesma região ou com dieta semelhante.
Apesar da sua elevada atividade metabólica, a microbiota intestinal possui uma notável capacidade de adaptação às mudanças no ambiente intestinal (DAS & Nair, 2019). Ela ajusta-se ao tipo de nutrientes disponíveis, levando a modificações e alterações nas enzimas produzidas. Embora não esteja completamente explicada, esta adaptabilidade é evidente em bactérias fecais como a E. coli, que se dividem a cada 20 minutos (Hooper & MacPherson, 2010), demonstrando a sua adaptabilidade genética ao ambiente. Sem esta adaptabilidade, os humanos não teriam sido capazes de enfrentar mudanças no estilo de vida e hábitos alimentares, como evidenciado pela transição da era Paleolítica para os hábitos alimentares das sociedades contemporâneas.
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