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Revista TecnoAlimentar

«A certificação nos centros logísticos mostrou-se indispensável e evidente na pandemia»

A pandemia de Covid-19 veio transformar as rotinas de distribuição e logística do setor alimentar. Garantir a normal distribuição em situações de emergência foi um objetivo que a Luís Simões procurou manter em foco. Vítor Enes, diretor geral de Business Development da empresa, contou à revista Tecnoalimentar sobre os maiores desafios para o futuro da distribuição alimentar, avaliando também a forma como o e-Commerce poderá impactar esta nova era pós-Covid-19.

 Luís Simões

Entrevista Marta Caeiro   |   Fotografias Luís Simões

TECNOALIMENTAR: Enquanto player de referência no mercado de transportes e logística, que balanço faz a Luís Simões do setor da distribuição alimentar nos últimos anos?

VÍTOR ENES: Nos últimos anos existiu uma clara tendência de maior proximidade das lojas físicas ao consumidor final, tendo estas necessariamente uma capacidade inferior. Este fenómeno de dispersão e redução de capacidade incrementa a necessidade de ter uma logística mais eficiente, ágil e com capacidade de resposta rápida.

 TA: Que importância tem representado a distribuição alimentar dentro da Luís Simões?

VE: Considerando a "distribuição ibérica de alimentação e bebidas", representou em 2020 aproximadamente 62% do volume de vendas da Luís Simões.

TA: De que forma a pandemia de Covid-19 transformou as rotinas de distribuição e logística do setor alimentar?

VE: A pandemia da Covid-19 provocou uma quebra generalizada na atividade logística, nalguns casos mesmo a paragem, por exemplo nos setores industrial, de bens não-essenciais, como o das bebidas alcoólicas, o automotive e o da moda. No entanto, outras operações, como é o caso do e-Commerce e também do setor da alimentação, registaram um aumento da procura, em alguns casos bastante significativos – de que é exemplo o café para consumo doméstico. Naturalmente, na Luís Simões tivemos que reajustar as nossas operações tendo em conta esta realidade e, graças à nossa rede ibérica construída ao longo de mais de 70 anos, e à nossa profunda experiência em gestão da cadeia de abastecimento, conseguimos enfrentar as novas características do mercado e ajudar os nossos clientes a manter o seu negócio da melhor forma possível. A nossa velocidade e a nossa capacidade de resposta foram essenciais desde o início da pandemia, especialmente nestes setores que registaram um aumento da procura, e permitiram-nos manter a sustentabilidade do negócio, manter a nossa trajetória e provar a importância crescente dos operadores logísticos na supply chain. Por entre os desafios deste último ano não esquecemos nunca a nossa missão: dedicamo-nos, principalmente, à logística de bens essenciais, que não podem nunca deixar de chegar às famílias e às empresas.

TA: Como respondeu a Luís Simões a este desafio de forma a poder garantir a normal distribuição em situações de emergência?

VE: A distribuição continua a ser feita de acordo com os mesmos padrões de qualidade, assegurando a satisfação das necessidades dos nossos clientes. Logo no início da pandemia desenvolvemos uma estratégia coordenada entre Portugal e Espanha, que fomos aprimorando ao longo dos meses e que nos permitiu fazer frente às novas exigências da procura, distintas do habitual, e ao mesmo tempo assegurar a proteção dos nossos colaboradores e a excelência do nosso serviço ao cliente. Os processos de produção de muitos dos nossos clientes foram afetados por esta situação e, em consequência, tivemos também que ajustar as nossas operações para podermos continuar a prestar um serviço de qualidade, garantindo o fornecimento dos produtos. Em simultâneo, aplicámos rigorosos protocolos para garantir a segurança dos nossos colaboradores (e dos restantes elos da cadeia de abastecimento) em todos os momentos. Escolhemos encarar esta nova etapa com otimismo e na certeza de que dispomos das capacidades e recursos necessários para superá-la, que é o que continuamos a provar todos os dias.

 

«SOMOS FEITOS DE PESSOAS»

TA: A Luís Simões é uma operadora logística de referência, líder no mercado de fluxos rodoviários entre os dois países ibéricos, gerindo uma frota de cerca de 2100 viaturas (próprias e subcontratadas) e contando com mais de 2500 colaboradores. Como se atinge este patamar de sucesso?

VE: Somos uma empresa familiar, que nasceu há mais de 70 anos numa pequena aldeia nos arredores de Lisboa com o propósito de criar valor para todos, para que houvesse comida, trabalho e futuro. Ao longo de todas estas décadas, e com muito trabalho árduo e uma confiança inabalável na nossa visão, pudemos crescer, internacionalizar-nos, tornar-nos líderes do setor e evoluir constantemente – mas os nossos valores e a nossa cultura mantiveram-se iguais na sua essência. Ainda hoje temos motoristas que nos acompanham e que se lembram de sermos uma família bem mais pequena do que somos hoje. Eles sabem o quanto tudo mudou e o quanto nos mantivemos fiéis aos nossos valores e aos nossos princípios. O que nos diferencia é o facto de termos entendido desde cedo que as pessoas são a nossa força. Entendemos a importância de as valorizarmos, da sua formação contínua, da qualidade de serviço como valor para o mercado. Somos feitos de pessoas e elas são a nossa prioridade. Acreditamos que é isso, acima de tudo, que nos trouxe até onde estamos hoje.

TA: Em 2004, a Luís Simões Logística Integrada, S.A. passa a nova identidade para as atividades de logística e transportes do Grupo Luís Simões em Portugal. Qual a finalidade por detrás desta fusão?

VE: Esta fusão teve como objetivo a consolidação, a nível ibérico, numa marca única, forte, reconhecida e idónea, com valores e princípios reconhecidos no e pelo mercado, e posicionar a Luís Simões como player de referência na Península Ibérica. Agregou, quer em Portugal quer em Espanha, as empresas de Logística e de Transporte.

 Luís Simões

CERTIFICAÇÃO NOS CENTROS LOGÍSTICOS

TA: Que importância tem atualmente a certificação nos centros logísticos?

VE: A certificação dos centros logísticos é o que atesta, de acordo com requisitos definidos internacionalmente, a nossa capacidade de prestar serviços de elevada qualidade. Se em algum momento a sua importância se mostrou indispensável e evidente, foi no atual entorno de pandemia. São a garantia, para clientes e parceiros, de que efetivamente somos o operador idóneo que qualquer empresa quer ter ao seu lado nos momentos mais desafiantes.

TA: A Luís Simões foi recentemente reconhecida com a certificação IFS Logistic no seu Centro de Operações Logísticas de Guadalajara, um feito que permitiu à empresa posicionar-se como um player preferencial em tempos de pandemia nas áreas de logística e transporte de produtos alimentares. Pode explicar-nos em que consiste esta certificação e o que significa para a empresa?

VE: As certificações IFS, tal como outras no segmento da segurança alimentar, são muito importantes para nós, pois garantem a segurança e qualidade dos alimentos nas nossas atividades de transporte e logística, tanto em meios de transporte como na armazenagem. A certificação de acordo com as normas internacionais confere aos nossos clientes garantias de qualidade de serviço na cadeia de distribuição, garantindo as melhores condições ao longo da cadeia de abastecimento e obviamente que essas condições se mantêm quando os produtos chegam ao consumidor final.

TA: Perante a emergência climática vivida atualmente, de que forma é que a Luís Simões se tem posicionado e que soluções práticas podem responder às questões mais urgentes deste desafio energético?

VE: Na Luís Simões estamos empenhados em desenvolver um modelo de logística mais amigo do ambiente. Para tal, realizamos diversos projetos que nos têm permitido reduzir as emissões de CO2e, o consumo de combustíveis fósseis dos veículos e obter uma maior eficiência energética nos armazéns. A melhoria contínua do nosso desempenho ambiental resulta de uma ação integrada de todas as nossas áreas de negócio, cujas orientações se complementam nesse sentido. Podemos destacar que:

·        Fomos os primeiros a introduzir os Gigaliners de forma consistente na Península Ibérica. Começámos em 2014 e atualmente temos 13 Gigaliners LS ao serviço dos nossos clientes. Estes veículos são um exemplo de como a inovação no setor da logística e dos transportes beneficia a capacidade competitiva dos operadores, tanto a nível económico como ambiental. A introdução destes veículos reduziu as emissões de dióxido de carbono em cerca de 30% por tonelada transportada, representando uma redução anual de aproximadamente 144 toneladas de emissões de CO2e. Na última década reduzimos as emissões de GEE de toda a nossa frota em mais de 16%, em relação aos níveis registados em 2007.

·        Os nossos Centros de Operações Logísticas (COL) de Cabanillas del Campo e de Guadalajara (situado no Polígono Puerta Centro – Ciudad del Transporte) - as nossas apostas mais recentes – são dotados de sistemas automáticos de armazenamento e expedição, que permitem melhorar a produtividade na cadeia de abastecimento. Além disso, estes dois centros logísticos foram desenhados com base em critérios sustentáveis e possuem certificação LEED por parte do USA Green Building Council, que os reconhece como edifícios eficientes em termos energéticos e de utilização de recursos.

 

TA: Quais os maiores desafios para o futuro da distribuição alimentar? E de que forma poderá o e-Commerce impactar este novo futuro?

VE: Acredito que as duas perguntas estão bastante interligadas: o setor do e-Commerce já estava em clara expansão, mas efetivamente “explodiu” devido às características muito particulares desta pandemia, que nos obrigou a todos a ficar em casa. Os consumidores vão continuar a apostar na conveniência que lhes traz o e-Commerce, mesmo quando a pandemia tiver passado, e vão precisar dele para os mais diversos setores, incluindo o alimentar. Quantas pessoas não fazem agora compras de supermercado, por exemplo, a partir do conforto do seu lar? Enquanto operador logístico, estamos a adaptar-nos desde já e acreditamos que só assim é possível acompanhar o mercado. Não fazemos entregas ao consumidor final, mas no que diz respeito às entregas urbanas (cada vez mais comuns) podemos dizer que conseguimos identificar alguns grandes desafios – que trazem também, naturalmente, oportunidades significativas. Por um lado, os clientes são cada vez mais exigentes quanto à rapidez das entregas no e-Commerce e querem os seus produtos em casa no mesmo dia ou nas 24 horas seguintes. Isto leva a questões de espaço, nomeadamente de relocalização dos armazéns, porque os stocks terão que estar cada vez mais próximos dos pontos de entrega para se poder corresponder a essa exigência de velocidade.

Nota:

Entrevista publicada na edição nº 27 da revista TecnoAlimenta, no dossier sobre 'Embalagem e Distribuição na Indústria Alimentar'.

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